Jornalismo perde o escritor Luiz Maklouf Carvalho, morto aos 67 anos
Recentemente, ele havia lançado livro sobre os tempos de Jair Bolsonaro no Exército
Guilherme Dearo
Publicado em 17 de maio de 2020 às 11h40.
O jornalista e escritor Luiz Maklouf Carvalho morreu neste sábado, 16, aos 67 anos. Repórter do Estadão, Mak, como era conhecido entre os colegas, foi autor de livros e reportagens que marcaram o jornalismo brasileiro retratando alguns dos mais importantes personagens da República, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao atual ocupante do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro. Ele era repórter do Estadão desde 2016.
Dono de um texto escorreito e reconhecido pelos colegas por sua apuração exata, Maklouf nasceu em 1953, em Belém . Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Pará. Foi ali que, como revisor de O Liberal, iniciou a carreira que o levaria a amealhar quase todos os prêmios possíveis que um jornalista pode ganhar neste País. Ali foi repórter e editor e obteve o primeiro de seus quatro prêmios Vladimir Herzog.
Passou por quase todas as redações da grande imprensa paulista após se mudar em 1983 para São Paulo, cidade que testemunharia o nascimento do escritor de livros reportagens que o levariam a dois prêmios Jabuti: em 1998, com o Mulheres que foram à Luta Armada (1998), a primeira obra a contar a experiência das militantes que pegaram em armas contra a ditadura; e, em 2005, com Já vi esse filme - reportagens (e polêmicas) sobre Lula e/ou PT, que mostrava o percurso do partido. Maklouf também é autor, entre outros, de Contido a bala - A vida e a morte do advogado Paulo Fonteles, advogado de posseiros no sul do Pará, (Cejup, 1994) e de Cobras Criadas, a biografia de David Nasser, o mais famoso repórter dos anos 1950.
Quando trabalhava, no Jornal da Tarde, do Grupo Estado, na década de 1990, Maklouf revelou o primeiro escândalo de corrupção do PT, o chamado "caso CPEM", em referência a uma empresa de consultoria com esse nome que foi contratada por prefeituras petistas e em contrapartidas daria dinheiro para campanhas do partido.
Em 2018, Maklouf encontrou um tesouro que soube ler e escutar: a cópia do processo e os áudios do julgamento do então capitão Jair Bolsonaro, acusado de planejar explodir bombas em quartéis no Rio. De seu trabalho como repórter nasceria o último livro: O cadete e o capitão: A vida de Jair Bolsonaro no quartel.
O escritor já lutava então contra a doença que provocaria sua morte: um câncer no pulmão. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, disse: "Uma perda lastimável para o jornalismo brasileiro e os leitores do jornal." Maklouf deixa mulher, Elza, com quem veio para São Paulo em 1983, dois filhos, Luiza e Felipe, e três netos, Malu, Liz e Vicente. "Um amante do Machado. Me apresentou tudo o que eu aprecio culturalmente", escreveu a filha. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.