Dior lança coleção inspirada no tarô para combater a incerteza
O pintor italiano Pietro Ruffo, que já havia colaborado com a marca de luxo, desenvolveu o grafismo dos tarôs em uma interpretação contemporânea
Matheus Doliveira
Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 06h06.
Última atualização em 26 de janeiro de 2021 às 22h06.
Diante das incertezas da pandemia, a Dior jogou as cartas do tarô e colocou sua coleção em um mundo onírico na segunda-feira, no primeiro dia dos desfiles virtuais de alta costura em Paris.
“Esta coleção é inspirada no tarô, um mundo apreciado por Christian Dior : ele consultava as cartas para se consolar”, explicou à AFP a diretora artística da linha feminina da empresa, Maria Grazia Chiuri.
Além disso, o icônico estilista lançou sua marca após a Segunda Guerra Mundial, quando reinava “um sentimento de insegurança”, como acontece atualmente, lembrou a estilista.
“Quem sou eu?”, pergunta uma jovem à vidente, antes de embarcar num universo onírico com um vestido de renda com mangas volumosas, no vídeo dirigido pelo realizador italiano Matteo Garrone e veiculado na plataforma da Semana da Moda .
Chiuri se inspirou nos tarôs Visconti do século XV, imagens que guiam as silhuetas que desfilam com vestidos de pregas e cores que parecem ter atravessado o tempo. O dourado, trabalhado em bordados, parece desbotar e ficar fosco.
A lendária Bar Jacket é reinterpretada em veludo preto, com pregas laterais, em harmonia com as calças e os mocassins. A italiana se mantém fiel à sua estética feminista com sapatos baixos, algo muito inusitado na alta costura.
O pintor italiano Pietro Ruffo, que já havia colaborado com a marca de luxo , desenvolveu o grafismo dos tarôs em uma interpretação contemporânea: são quase abstratos os desenhos impressos nas peças da coleção.
Como na coleção anterior de alta costura, apresentada virtualmente em julho, a Dior voltou a apostar na direção de seu vídeo de Garrone, diretor dos premiados filmes "Gomorra" e "Dogman".
“Matteo tem uma linguagem poética, extremamente pitoresca, que se encaixa muito bem na minha visão de alta costura”, explica a estilista sobre seu compatriota.
Privado de desfiles físicos devido à pandemia, o mercado da moda está explorando novos formatos de apresentação.
Ao abrir nesta segunda a Paris Fashion Week, "o evento mais antigo e internacional" do mundo com um único local, a ministra da Cultura da França, Roseline Bachelot, saudou a "resiliência" das marcas que "mostraram uma criatividade formidável" para continuar lançando suas coleções, apesar da covid-19.
“Não se pode negar que os desfiles são um elemento fundamental, não só para a Dior, mas para todo o setor da moda. Os convidados que participam deles fazem parte do espetáculo”, afirmou Chiuri, que não sabe se em março poderá apresentar a nova coleção prêt-à-porter em Paris, com público.
“Este início de ano foi muito difícil, houve altos e baixos. É cansativo ter que reunir sempre forças para seguir em frente. (Mas) a criatividade é um refúgio nesta difícil realidade”, concluiu.