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Como é dirigir um Defender clássico – mas como se fosse novo

Programa Works Bespoke entrega modelo restaurado e com motor V8 zero-quilômetro. Preço de partida: R$ 1,4 milhão

Defender: modelos customizados. (Divulgação/Divulgação)
Rodrigo Mora

Repórter de automobilismo

Publicado em 2 de outubro de 2024 às 06h18.

COVENTRY, INGLATERRA - A Land Rover não produz mais o Defender há oito anos. O último exemplar, um 90 Heritage Soft Top na cor Grasmere Green, encerrou a união de 68 anos entre o lendário utilitário e a planta de Solihull, na Inglaterra, às 9h25 do dia 29 de janeiro de 2016, uma sexta-feira.

Titular insubstituível da marca – com quem nasceu há 76 anos –, teve, ao lado do Volkswagen Fusca, uma das despedidas mais noticiadas e fotografadas na história do automóvel. Foi o fim de uma era.

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Bem, mais ou menos. Aquele não seria de fato o último dos 2.016.933 Defenders feitos pela Land Rover, incluindo na soma os Série 1, 2 e 3, nomes anteriores do modelo.

Exatamente dois anos depois da aposentadoria cinematográfica, o Defender ressuscitou com uma reforma estrutural e um 5.0 V8 sob o capô. A desculpa da versão Works era homenagear os 70 anos da marca – e dele próprio, afinal. A escolha pelo motorzão era um tributo aos primeiros Série 3 e Defenders equipados com motor de oito cilindros, bem mais potente do que qualquer um já emprestado à dupla.

Com freios retrabalhados, suspensão mais firme, rodas exclusivas e decorações estéticas idem, chegava a 150 mil libras. As 150 unidades produzidas se esgotaram após um mês.

Ali a Jaguar Land Rover deve ter entendido que, tantas quantas versões especiais do Defender produzisse, venderia.

E então vieram 25 unidades do Defender Camel Trophy, em 2021. Equipada com aquele mesmo V8 e câmbio automático de oito marchas, a versão especial em homenagem à famosa competição de rali dos anos 1980 esgotou em três dias – mesmo custando 195 mil libras.

Outros 25 exemplares do Trophy II apareceram no ano seguinte, antes dos 30 da singela Islay, de 2023. Todas baseadas no trabalho de restauração inaugurado com a versão Works, aquela de 2018.

Defender: As versões Trophy e Trophy II ao lado de dois modelos customizados. (Divulgação/Divulgação)

Produção artesanal

Se relançar o Defender original restaurado, (bem) melhorado e empacotado em safras exclusivíssimas já havia sido uma bela (e lucrativa) tacada, agora a JLR reintegra o mais clássico dos veículos britânicos em sua oferta de produtos. Desde que tenham 190 mil libras (cerca de R$ 1,4 milhão) e nenhuma pressa, entusiastas podem configurar um desses no site da marca, quando e como quiserem.

“Com o Works Bespoke, estamos dando aos clientes a oportunidade de criar seu Classic Defender V8 perfeito. Cada veículo é cuidadosamente elaborado, sendo a criatividade o único limite quando se trata de personalizar cada veículo de acordo com as especificações desejadas pelo proprietário. Do início ao fim, os clientes da Works Bespoke terão uma experiência como nenhuma outra, criando seu Classic Defender V8 definitivo”, explica e analisa Paul Barritt, diretor do Jaguar Land Rover Classic.

“Quando fizemos as edições especiais no passado, muitos clientes nos perguntaram se era possível personaliza-las”, complementa David Foster, à frente da engenharia do programa de restauração do Jaguar Land Rover Classic. Além de cores externas, o cliente pode escolher rodas, acessórios e até acabamentos internos.

Tal como nas séries anteriores, o motor é o V8 que equipa tantos carros do grupo. São selecionados exemplares produzidos entre 2012 e 2016. Aqueles que passam no crivo são comprados e têm o chassi substituído por um novo. Demais peças podem ser fabricadas ou restauradas.

“Temos no nosso arquivo cerca de 1,2 milhão de fichas de informações, incluindo imagens originais dos veículos. Então, se nós quisermos remodelar uma parte, nós podemos voltar para como essa parte foi originalmente feita”, detalha Foster.

Na lama: Não falta disposição ao Defender V8. (Divulgação/Divulgação)

Como é a experiência de dirigir o clássico

Como um Classic Defender V8 by Works Bespoke levaria cerca de dois anos para chegar ao Brasil – a produção artesanal deve contemplar cerca de 30 unidades por ano –, fomos à sede da empresa, em Coventry, para experimentar a peça mais genial do antigomobilismo mundial atualmente.

É uma sensação rara e única abrir a porta de um carro antigo e experimentar o destravar da maçaneta, o fechar das portas, os sons e as visões de como eram 30, 40 ou 50 anos atrás, quando nascera. Com esse Defender é exatamente assim, como se tivéssemos voltado no tempo.

Subir num Defender continua exigindo malabarismo, mas, chegando à cabine, o espaço interno é escasso. A ergonomia é tanto pífia quanto estranhamente encantadora. Não há como confundir com qualquer outro automóvel, você sabe que está ao volante de um Defender.

Com materiais de qualidade e encaixes bem executados, o acabamento da cabine é simples, como esperado, mas decente. Itens de conforto se resumem a direção hidráulica, ar-condicionado e rádio. Nada além disso, felizmente.

Trocam quase tudo da mecânica do Defender resgatado. Exceto a caixa de direção, o que faz do desejo de colocar as rodas precisamente onde se quer um sonho distante. Combine isso a um vigoroso motor V8 de 405 cavalos de potência e 52 kgfm de torque (engatado num competente câmbio automático de oito marchas) puxando um SUV de quase 2 metros de altura e você tem um dos carros mais desengonçados e divertidos que se pode dirigir.

Dos freios não posso reclamar, também porque não abusei deles. É legal dar uma acelerada aqui e ali com esse Defender V8, mas conduzi-lo esportivamente é outra coisa, que deve ser evitada. Aqui temos um carro para passear e se envolver. Dirigir, enfim. Sem telas multimídia, sensores sonoros estridentes ou sistemas autônomos anticolisão. Um carro genial.

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