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Calainho rema contra a maré e vai dos musicais para o jazz

Enquanto espaços culturais são fechados, o empresário segue abrindo os seus no Rio

BLUE NOTE, EM NOVA YORK: empresário Luiz Calainho vai trazer filiais do clube de jazz para o Brasil / Mark Mainz/Getty Images

BLUE NOTE, EM NOVA YORK: empresário Luiz Calainho vai trazer filiais do clube de jazz para o Brasil / Mark Mainz/Getty Images

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2017 às 08h31.

Última atualização em 1 de julho de 2017 às 10h27.

O empresário Luiz Calainho é dado a certas excentricidades — toma banho frio sempre às seis da manhã, independente da estação do ano e de onde estiver — e devaneios (diz saber exatamente o ano em que vai morrer: em 2073, aos 107 anos), mas não rasga dinheiro. A sua holding, a L21 Participações administra 11 negócios ligados ao setor de entretenimento e fechou 2016 faturando R$ 135 milhões. O carro-chefe é a Aventura, maior produtora de musicais do Brasil, que em oito anos já vendeu mais de 3 milhões de ingressos.

Calainho segue remando contra a maré. Em plena crise econômica, sentida com ainda mais força no Rio de Janeiro, devido à falência do Estado, o empresário decidiu aumentar ainda mais os investimentos da L21 na cidade. Enquanto espaços culturais são fechados (o Teatro do Leblon, um dos mais tradicionais, vai suspender suas operações em julho), o empresário segue abrindo os seus. No fim do ano passado, colocou de pé o Teatro Riachuelo, em plena Cinelândia, para servir de palco para os musicais que a Aventura produz. No dia 23 de agosto, será a vez de um projeto sonhado há mais de dez anos: a inauguração da primeira filial da América do Sul do Blue Note, o mais emblemático clube de jazz do mundo, criado em Nova York e atualmente com sete filiais espalhadas por vários continentes. No Brasil, serão três: Calainho já conseguiu a autorização para abrir, no ano que vem, um Blue Note em São Paulo e, em 2019, no Recife.

CALAINHO: clubes de jazz e banho frio sempre às seis da manhã

O empresário recebeu a reportagem de EXAME Hoje com caneta e bloco em mãos. Queria mostrar a equação que vai lhe permitir transformar o Blue Note num sucesso financeiro em pleno marasmo brasileiro. Para chegar lá, ele espera recuperar o investimento de cerca de R$ 4,2 milhões em menos de nove meses para, a partir daí, começar a dar lucro. São quatro fontes de receitas. A primeira, virá dos cinco patrocinadores do clube. Calainho já havia fechado com a Budweiser e está muito perto de confirmar com uma companhia de tecnologia e outra de beleza. A segunda e terceira fontes de receita virão da bilheteria e da venda de alimentos e bebidas. A quarta, um das mais importantes, que vai servir como termômetro de aceitação da casa, sairá do programa de fidelidade. O objetivo é chegar até o dia 23 de julho com 300 associados e 1.500 nos meses seguintes. O associado normal paga R$ 1.200 por ano e o premium, que dá direito a mais vantagens, R$ 3.500.

O empresário faz mais contas. É um otimista inveterado, que por enquanto tem acertado a mão. “Quero fazer do Blue Note Rio o segundo maior palco de shows do Brasil, só perdendo para o Rock in Rio”, diz Calainho. E tome números superlativos. Ele espera levar só nos primeiros dois anos 370 mil pessoas ao clube que estará localizado no Complexo Lagoon, na Zona Sul. “Isso é exatamente a metade do público de todas as noites do Rock in Rio, o maior festival do mundo”, diz. Para chegar lá, ela já fechou com artistas renomados, como o brasileiro Sérgio Mendes, que se apresenta nos dias 9 e 10 de setembro, e com Chick Corea, estrela do jazz, que toca dia 20 de outubro. O sonho do empresário é trazer o cantor Tony Bennett, um dos responsáveis por dar fama ao Blue Note original, inaugurado em 1981, e, quem sabe, convencer João Gilberto, há anos afastado dos palcos, a tirar o pijama. “O conceito da casa, intimista, com 350 lugares, tem tudo a ver com João”.

Não é só o otimismo pelo Brasil que move Calainho. Ele tem planos de investir pesado nos Estados Unidos. Filho de um ex-comandante da Panair (companhia área brasileira cassada pelo regime militar) e de uma psicóloga apaixonada por artes, o empresário passou boa parte da infância e adolescência viajando pela Europa, visitando museus, teatros, cinemas e casas de show. O empresário do entretenimento foi forjado ali, sem grandes investimentos. “A família inteira, por causa do emprego do meu pai, não pagava passagem pra lugar nenhum. Essa vivência foi determinante para que eu decidisse, mais tarde, investir em cultura”, diz.

Com o esperado sucesso das filiais brasileiras do Blue Note, Calainho espera fomentar bandas e artistas brasileiros para levá-los com força para o exterior. “A música brasileira sempre foi uma das mais respeitadas do mundo, mas nunca foi agenciada à altura de sua força. Está na hora de alguém fazer isso. E eu vou conseguir”. Certeza? “De certeza, só a morte”, diz o empresário. Em 2073.

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