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Apreensão de vinhos de luxo no Tuju escancara mercado ilegal no Brasil

A Operação Bordeaux, da Receita Federal, apreendeu até 4.000 garrafas em São Paulo. Mas a prática se estende a outras importadoras pequenas  

Vinho: Brasil está na décima sexta posição no ranking global de consumo de vinho  (Imagem gerada por inteligência artificial/Adobe Firefly/Exame)

Vinho: Brasil está na décima sexta posição no ranking global de consumo de vinho (Imagem gerada por inteligência artificial/Adobe Firefly/Exame)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 8 de agosto de 2024 às 15h45.

Última atualização em 8 de agosto de 2024 às 16h56.

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O Tuju é um dos três restaurantes em São Paulo a ostentar duas estrelas Michelin. É um dos mais badalados e está sempre presente nas listas dos melhores do país. Seu chef e sócio Ivan Ralston é uma celebridade. Por isso chamou tanta atenção a ação deflagrada na tarde desta quarta-feira, 7, pela Receita Federal.

A Operação Bordeaux foi deflagrada na zona sul de São Paulo, visando um grupo que importava ilegalmente vinhos de luxo para venda, segundo a Receita Federal. Algumas garrafas eram vendidas por até 100 mil reais.

A Receita estima que até 4 mil garrafas de vinho foram apreendidas, totalizando um valor de mercado de até 6 milhões de reais. Com base nessa estimativa, calcula-se que os impostos federais sonegados das mercadorias apreendidas cheguem a R$ 3 milhões.

Ações recorrentes de apreensões de vinhos

Em nota, o Tuju diz que “as 352 garrafas de vinhos apreendidas pela Receita Federal foram regularmente compradas por ele, mediante pagamentos devidamente registrados em sua contabilidade. “Os impostos de responsabilidade do TUJU são integral e pontualmente recolhidos.  As garrafas foram adquiridas no Brasil, através de compra com a importadora Clarets.”

A Clarets é de propriedade de Guilherme Lemes, também um dos sócios do Tuju.

Apesar da visibilidade do Tuju, para o mercado de vinho a apreensão não foi surpresa. Em dezembro do ano passado, outra ação da Polícia Federal aprendeu 8 mil garrafas de vinho em cinco endereço comerciais e residenciais em Macaé, no norte fluminense, durante a Operação Estáfilo.

O vinho ilegal virou um negócio

“Infelizmente, o descaminho de vinho é muito mais comum do que gostaríamos”, diz um consultor com mais de 15 anos de mercado. “Muitos consumidores são atraídos por ofertas mirabolantes e não checam as fontes na hora de comprar. O vinho ilegal virou um negócio.”

Segundo esse consultor, muito vinho vem de contrabando da Argentina. A Polícia Federal investiga até a participação de facções criminosas. “Os grandes importadores em geral não fazem, mas tem muito revendedor pequeno que compra e repassa, esse é o problema”, diz.

Dentro do mercado, segundo os especialistas, é fácil identificar onde há sonegação. Basta ver quem vende grandes rótulos de Bordeaux, Borgonha, super Toscanos e o espanhol Vega Sicilia, cujos rótulos podem atingir 10 mil reais nas grandes importadoras, com descontos de até 40%.

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Sommeliers que vendem por WhatsApp

As grandes importadoras, principais prejudicadas com a venda ilegal de vinho, estão organizadas para identificar irregularidades no mercado e encaminhar denúncias. Uma das mais ativas, segundo fontes ouvidas pela EXAME Casual, é a Mistral, justamente uma das maiores.

A Mistral vende muitos vinhos argentinos de grande apelo no Brasil, como os rótulos da Catena Zapata. No site da importadora, o Catena Zapata Malbec Argentino 2021 Double Magnum é vendido a 5.160 reais. Procurada, a empresa enviou a seguinte nota: "A Mistral gostaria de informar de que não fazemos denúncias e sim buscamos informar o consumidor através do selo e de campanhas informativas”.

"Não são nem só as importadoras pequenas que trazem vinho sem pagar imposto”, diz o executivo de uma grande marca. “Na pandemia, alguns sommeliers começaram a vender pelo WhatsApp vinhos de conhecidos, que tinham em casa ou traziam de viagens curtas. E essa prática ficou.”

Produtores checam a ficha dos clientes

A entrada de vinhos ilegais no Brasil não se dá mais apenas a conta-gotas, por pessoas que trazem garrafas enroladas nas roupas dentro da mala. Muitos compradores encomendam lotes grandes, na casa de milhares de unidades.

“Estamos cada vez mais de olho em quem são nossos clientes”, disse Sebastian Zuccardi, da família da premiada vinícola argentina, em passagem por São Paulo, na semana passada. “Quando alguém faz um pedido grande, levantamos sua ficha. Se não for conhecido, não fazemos a venda.”

Produtores renomados não querem ver seu nome envolvido em casos escandalosos de apreensão. Mas nem todos têm a tranquilidade financeira para escolher seus clientes. “Muitos produtores boutique, que fazem vinho de qualidade, mas em pequena escala, não costumam fazer essa distinção entre os clientes. Quem paga, leva”, diz o executivo

O potencial do mercado brasileiro

Dentro do mercado global de vinho, o Brasil se apresenta como um porto relativamente seguro na tormenta, segundo relatório do serviço de inteligência de mercado WineXT. Tem a quinta maior população adulta do mundo (170 milhões habitantes com mais de 18 anos), a nona economia (2,13 trilhões de dólares, mas apenas a décima sexta posição no ranking global de consumo de vinho (3.6 milhões hectolitros).

Os dados ajudam a dimensionar o espaço para crescimento da bebida por aqui. Comparado aos grandes países emergentes, o Brasil teve expansão relativamente estável. Enquanto a China perdeu 4% de participação no consumo global de vinho nos últimos seis anos, enquanto o Brasil avançou 0,5% no mesmo período, entre 2016 e 2022, de acordo com a OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho).

Para os vizinhos, trata-se de um mercado importante. O Brasil encerrou o ano de 2023 como o principal mercado para as exportações chilenas, por exemplo, tanto em volume quanto em valor. Em questões tributárias, porém, algumas fronteiras precisam ser respeitadas.

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