Alfaiate mais poderoso do país, Ricardo Almeida faz 35 anos de história
Conhecido pelo seus ternos e peças de alfaiataria com cortes impecáveis, Ricardo Almeida concedeu entrevista a EXAME VIP
Anderson Figo
Publicado em 17 de abril de 2019 às 11h47.
Última atualização em 17 de abril de 2019 às 15h55.
O alfaiate mais poderoso do país celebra hoje 35 anos de história relevante na moda masculina brasileira . Conhecido pelo seus ternos e peças de alfaiataria com cortes impecáveis, Ricardo Almeida comemora em grande estilo com muita elegância e sofisticação —algo que faz há anos com maestria.
Ele conversou com exclusividade com EXAME VIP. Acompanhe a entrevista abaixo.
Como celebrar 35 anos de uma marca tão relevante?
Isso é muito tempo no mercado de roupa, algo bem complicado. Vamos comemorar com uma grande e merecida festa.
Quais foram as principais dificuldades durante todo esse tempo?
Tantas. No Brasil é o que mais têm, não há facilidade.
A principal foi quando comecei com a frustação da falta de bons tecidos que ainda não existiam por aqui. Foi em 1991, com a abertura das importações de tecido, que tudo começou a mudar. Fui o primeiro a trazer uma boa quantidade para confeccionar no Brasil. Fiquei sabendo que liberariam e fui seis meses antes fazer pedidos no exterior.
Hoje temos bastante fornecedores europeus.
Qual foi o momento mais importante?
Diversos. Desfilar na semana de moda foi um deles. Entramos na São Paulo Fahion Week como o patinho feio, passamos por cima de muita coisa por ser a primeira marca de moda masculina, e conseguimos.
O lançamento da coleção Ricardo Almeida For Special Ladies e a abertura da nossa Flagship na Rua Bela Cintra, em São Paulo, em 2012, também foram grandes momentos.
Assim como a abertura da nova fábrica em 2016 com equipamentos importados de última geração e a grande parceria com a marca de luxo italiana, que fornece tecidos nobres que você não encontra em qualquer lugar do mundo, a Loro Piana. Temos sua exclusividade na América Latina.
Qual segredo do seu sucesso?
Até 2009 não quisemos crescer. Foi quando vimos as marcas importadas vindo ao Brasil. Se a gente não cresce vira fundo de quintal e por isso começamos a expandir, mesmo com a crise. Hoje estamos no melhor momento. Sem sociedade, sem grupos, quero preservar a marca em sua essência. Mas para ter sucesso tem que gostar do que faz. Você não trabalha, se diverte. Deve ter carinho de fazer o que gosta para fazer bem feito.
Você acha que em 35 anos fez tudo o que queria ou ainda falta algo?
Agora a gente vai alavancar o feminino. A ideia é essa. Não quero aumentar tanto o masculino, apenas continuar com a exclusividade, batalhamos muito para melhorar todo maquinário de precisão, de corte e costura. Vamos deixar o masculino sem muitas lojas e expandir a marca feminina.
Como foi vestir a seleção brasileira na Copa do Mundo em 2018?
Foi bem interessante, legal, achava que a seleção não se vestia adequadamente, precisava de um terno. O mundo todo de alfaiataria e a seleção de agasalho. Achava desleixado.
O que você acha que mudou na moda masculina nos últimos 35 anos?
O comportamento, o preconceito da sociedade. Hoje não existe mais, e o homem tem a liberdade de fazer o que quiser e assumir o que fica melhor para si. Pode ser vestir uma roupa, mudar o cabelo, fazer plásticas etc. O homem perdeu o preconceito de se cuidar. Além disso, não há mais certo e errado, você não precisa viver de azul marinho, pode ousar.
Você sempre demonstrou grande paixão por motor. Agora é embaixador da Mercedes-Benz AMG?
Gosto de carros e motos. Ando muito de moto porque o trânsito em São Paulo é caótico, mas apenas de dia. A AMG, além de um carro, é uma joia, um carro muito especial. É uma marca que faz um modelo sob medida para você, e isso tem muito a ver com nossa marca. Fazemos coisas iguais.
Qual foi o melhor aprendizado?
Além de gostar do que se faz, é importante sempre estar atualizado com o que está acontecendo no mundo, com tecnologia, equipamentos e gestão. Tem que se envolver e ter noção de tudo, ou você acaba dançando por causa de um terceiro.
Vestir-se bem é... ?
Estar coerente com o lugar que você está. Ter bom senso para driblar qualquer situação. E saber que para sair da regra, você precisar estar no topo da pirâmide. O Caetano Veloso pode usar o que quiser, ele tem legado para isso. E nossa marca também, não preciso seguir terceiros, tenho condições de dizer o que é legal e quem confia em mim vai gostar e usar.
Daqui para frente... ?
Vamos investir na RA2, marca dos meus filhos Ricardo (15) e Arthur (14). São roupas sem gênero, mais street e descoladas. Vamos usar malha para um público jovem, nada de alfaiataria. Estamos em fase final de moldes e modelos, a ideia é montar a primeira loja até o fim do ano.
Como eles participam?
Se envolvem em pesquisa e criação. Ajudo no direcionamento mas o design é deles. A ideia é manter um sucessor. Mesmo sendo outro tipo de produto, o contexto é o mesmo, e mais tarde podem tocar tudo.
Pensa em se aposentar?
Parar nunca, mas diminuir um pouco o ritmo. Fazer mais esportes, academia, mudar isso. Eu nunca venderia minha fábrica para ficar cheio de dinheiro sem ter o que fazer.