Um nicho de carreira promissor para engenheiros e arquitetos
Profissionais LEED AP, aptos para desenvolver projetos verdes na construção civil, ainda são raros no Brasil. Veja como se tornar um deles
Camila Pati
Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 14h00.
São Paulo – Um mercado ainda não desbravado e muito promissor. Assim, a arquiteta Vanessa Siqueira do escritório Norte Arquitetura define a área de projetos para edifícios verdes no Brasil.
Ela se refere aos raros profissionais acreditados como LEED AP (LEED Accredited Professional) no Brasil, ou seja, que estão aptos desenvolver projetos de edificações candidatas à certificação ambiental LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Por aqui, apenas 128 têm o título de LEED AP no currículo. Vanessa é um deles.
Criada pelo USGBC (U.S. Green Building Council) e reconhecida mundialmente, a certificação LEED atesta as construções verdes. A adesão é voluntária e o projeto de reforma ou construção deve cumprir uma série de requisitos com base em um sistema de pontuação e créditos para conseguir o “selo LEED”.
“Ter um profissional LEED AP na equipe conta como ponto, apesar de não ser obrigatório para obter a certificação”, diz Vanessa. Boas práticas ambientais, como mecanismos de economia de água ou a reutilização de materiais, por exemplo, também fazem o projeto pontuar.
Além da pontuação, a complexidade da metodologia também explica a necessidade de contar com a consultoria de um LEED AP no projeto. “Um profissional que não tenha a acreditação LEED pode pleitear a certificação do projeto, mas terá o grande trabalho de ir atrás de guia de referência e estudar o passo a passo para cumprir todos os requisitos da metodologia que um LEED AP já domina”, diz Vanessa.
Mercado aquecido
Dados de fevereiro de 2015 mostram que o Brasil conta, até agora, com 223 empreendimentos com selo LEED. Em 2014, 82 obtiveram a certificação e outros 950 empreendimentos estão em processo de análise.
Na opinião de Vanessa, o crescimento rápido justifica a alta demanda por profissionais LEED no Brasil. “O Brasil ocupa o quarto lugar em número de projetos certificados, atrás de Estados Unidos, Suécia e China”, afirma.
Estádios da Copa do Mundo são exemplos de recentes construções verdes brasileiras. A Vila Olímpica, casa dos atletas durante as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, será o primeiro “bairro” com selo LEED no Brasil.
Outros fatores que turbinam este mercado são as recentes políticas públicas e leis de incentivo fiscal para construções sustentáveis, de acordo com Vanessa.
Pouco e caros: como ser LEED AP
Uma consultoria de um LEED AP custa de 0,5% a 1% do valor da obra, segundo Vanessa. Levando-se em conta que projetos de grande porte custam dezenas e até centenas de milhões de reais, a remuneração de um LEED AP é um dos grandes atrativos da carreira .
Para conseguir o título de LEED AP, o profissional precisa ser aprovado em dois exames elaborados pelo GBCI (Green Building Certification Institute).
A primeira prova é mais geral, e o aprovado se torna um LEED Green Associate. A segunda etapa já versa sobre conteúdos específicos. São cinco especializações que podem ser escolhidas: Projeto de Edificações e Construção (BD+C), Projeto de Interiores e Construção (ID+C), Operações e Manutenção (O+M), Desenvolvimento de Bairro (ND), e Casas e Edifícios Residenciais Multifamiliares de Poucos Andares (HOMES).
Não é preciso ser formado em engenharia civil ou arquitetura para ser um LEED AP. Qualquer pessoa ligada ao ramo de construção civil pode se candidatar às provas. Mas, em geral, são profissionais destas áreas os mais interessados na carreira.
A boa notícia para brasileiros é que desde o segundo semestre do ano passado é possível fazer provas em português. Os exames traduzidos já disponíveis são os de LEED Green Associate, primeira parte do processo para se tornar um LEED AP, e dois de especialização: de projeto e construção e de operações e manutenção de edifícios existentes.
Cada uma das provas tem 100 questões de múltipla escolha e duração de 2 horas. A nota mínima para passar é de 170, numa escala que vai de 125 a 200. O preço das provas é salgado: se feitas sequencialmente, as duas etapas custam até 550 dólares.
Um obstáculo para quem não tem o inglês afiado é a bibliografia para estudo que continua sem tradução oficial. Mas, desde o começo deste mês o escritório de Vanessa, o Norte Arquitetura, começou a publicar em seu site boletins técnicos com informações (em português, é claro) sobre as construções sustentáveis. O material é inédito e promete ajudar interessados em ser LEED AP.
Quanto mais gente, melhor
A iniciativa, diz a arquiteta, tem o objetivo de democratizar o acesso à profissão, ainda pouco difundida. Para Vanessa, com mais concorrentes na área, mais oportunidades devem surgir.
“Mercado fechado não é bom para ninguém. Para mim, não é uma questão de dominar um nicho de carreira. Como arquiteta e como cidadã, eu quero ver construções melhores no meu país”, diz.
Atormentada pela poluição, a cidade chinesa de Shenzhen resolveu dar um basta nos carros poluidores. Em 2012, o governo local lançou uma frota de mais de 3 mil ônibus e táxis movidos a energia limpa. A estratégia é priorizar o transporte público elétrico e, gradualmente, estimular a substituição dos carros particulares. Nos próximos dois anos, mais 35 mil novos veículos “verdes” devem ser incorporados à frota. O objetivo final - e de longo prazo - é zerar as emissões do setor de transporte, que responde por metade do carbono liberado pela cidade. Entre 2009 e 2013, o programa evitou a emissão de 160 mil toneladas de CO2, fazendo de Shenzhen um exemplo da luta chinesa pela despoluição do ar.
Amsterdã é um exemplo de como a proteção ao meio ambiente e o combate às mudanças climáticas podem ser incorporados na estratégia de desenvolvimento econômico de uma cidade. A capital holandesa projetou um poderoso instrumento de financiamento de US$ 103 milhões para serem investidos em projetos de energia sustentável, alguns deles com foco em empresas de pequeno porte. O fundo reduz contas de energia para os cidadãos e os negócios e contribui para as metas globais de redução de CO2 da cidade. Com o projeto, a prefeitura espera reduzir em 40% as emissões de carbono no ano de 2025, em relação ao ano de 1990. Em 2010, a cidade já tinha conseguido uma redução de 20%, em comparação com os níveis de 1990.
Outro projeto verde inspirador da cidade de Londres é a substituição dos icônicos táxis Black Cabs por modelos de baixa emissão de poluentes, como os carros híbridos. A cidade também criou um limite de idade para o carro continuar rodando, que já retiriu das ruas mais de 3 mil veículos antigos (e poluentes) . E segundo uma nova norma, todo novo táxi a ser licensiado a partir de 2018 deve ser capaz de rodar em modo “zero emissão”.
Ao longo dos últimos 30 anos, Portland, nos Estados Unidos, passou de 200.000 habitantes para 600.000 e anexou áreas adjacentes que não tinham a mesma infraestrutura das regiões centrais. Paralelamente, grande parte da cidade se desenvolveu de forma desconexa, exigindo muitas viagens de carro. Como resultado, o setor de transporte chegou a responder por 40% das emissões de carbono da cidade. Disposta a mudar esse perfil, Portland lançou a estratégia Cidade Saudável Conectada, que visa garantir “bairros completos” a pelo menos 80% da população até 2035. Ou seja, a prefeitura está trabalhando para aumentar a disponibilidade de serviços, comércio e infraestrutura adequada que reduza distâncias e facilite a mobilidade na cidade.