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Este trabalho remoto conseguiu reverter a fuga de talentos. Saiba qual é

Programa de uma fundação oferecia US$ 10 mil a profissionais dispostos a se mudar para Tulsa por pelo menos um ano. Cerca de 3.300 pessoas aceitaram a oferta

(Divulgação: Justin Paget/Getty Images)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 19 de outubro de 2024 às 15h31.

Última atualização em 19 de outubro de 2024 às 15h31.

Líderes empresariais e autoridades locais em Tulsa, no estado americano de Oklahoma, se perguntaram por anos como preencher o vazio deixado quando os jovens se mudavam para grandes cidades costeiras.O que, eles se perguntavam, poderia manter os profissionais enraizados no interior do país?

Eles acabaram invertendo essa premissa: em vez de lutar para reter os nativos de Tulsa, decidiram recrutar pessoas de fora. Nos últimos anos, o aumento do trabalho remoto proporcionou uma nova maneira de responder à fuga de talentos da cidade.

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Cinco anos após a George Kaiser Family Foundation começar a oferecer US$ 10.000 (cerca de R$ 56.700) a trabalhadores remotos dispostos a se mudar para Tulsa por pelo menos um ano, cerca de 3.300 pessoas aceitaram a oferta.

Steven Briggs, de 55 anos, trabalhava remotamente como cientista de dados em Dallas quando se inscreveu no programa 'Tulsa Remote'. Ele e sua esposa se mudaram para a Tusla em 2021, e ele brinca que sua nova cidade simboliza o lado oposto da famosa frase sobre Nova York: “O que você pode dizer sobre Tulsa é: ‘Se você não conseguir em nenhum outro lugar, você consegue aqui’”.

O surgimento repentino do trabalho remoto durante a pandemia levou muitas cidades e estados — Topeka, Kansas, Savannah, Geórgia, Virgínia Ocidental e noroeste do Arkansas — a disputar novos moradores com programas que ofereciam incentivos financeiros.

O programa de Tulsa é um dos maiores. Pesquisadores de Harvard e outras universidades examinaram os efeitos do Tulsa Remote, questionando se estava sendo vantajoso para os trabalhadores remotos e para a própria cidade.

A pesquisa, divulgada este mês, entrevistou 1.248 pessoas — incluindo 411 que participaram do Tulsa Remote e outros que foram aceitos, mas não se mudaram, ou que não foram aceitos, mas se inscreveram no programa — e descobriu que os trabalhadores remotos que se mudaram para Tulsa economizaram, em média, US$ 25.000 (R$ 141,9 mil) a mais em custos anuais de moradia do que o grupo que foi selecionado, mas não se mudou.

As relocações também foram um benefício para o estado de Oklahoma e a cidade de Tulsa, gerando cerca de US$ 14,9 milhões (cerca de R$ 85 milhões) em receita anual de imposto de renda e US$ 5,8 milhões (R4 32,9 milhões) em impostos sobre vendas dos trabalhadores remotos, segundo estimativas dos pesquisadores.

—Todo prefeito do interior deveria prestar atenção a isso — disse Prithwiraj Choudhury, professor associado da Harvard Business School e principal autor do estudo. — Por causa do trabalho remoto, uma grande parte da força de trabalho pode se realocar, e há a possibilidade de reverter a fuga de cérebros.

Descobrir como manter profissionais tem sido um desafio para cidades médias, longe da costa. Tulsa perdia cerca de mil pessoas com ensino superior a mais do que absorvia a cada ano entre 2015 e 2019. Nesse período, a maioria dos que se mudavam para Oklahoma tinha mais de 45 anos e renda abaixo da média do estado, segundo o Federal Reserve Bank de Kansas City.

Filantropos locais começaram a pensar em como atrair novos residentes para Tulsa. Por volta de 2011, perceberam que algumas pessoas que haviam se mudado para lá por meio do programa 'Teach for America' continuaram vivendo na cidade. Pensaram que, se outros trabalhadores do conhecimento tivessem motivos para experimentar a vida em Tulsa, também poderiam ficar.

— Foi um momento de revelação: se incentivássemos as pessoas a virem por um ano, poderíamos mantê-las para contribuir com a cidade e a economia — disse Justin Harlan, diretor do Tulsa Remote.

Mike Neal, presidente da Câmara de Comércio regional de Tulsa, inicialmente duvidou:

— Quando mencionaram a ideia, pensei: 'Você ficou maluco?.

Mas com o trabalho remoto subindo de 4% para 43% dos trabalhadores em 2020, o projeto se tornou viável. Naquele ano, 380 pessoas se mudaram para Tulsa pelo programa, e, em 2021, esse número subiu para 939.

A pandemia trouxe um influxo de jovens trabalhadores de alta renda para Oklahoma, com 40% deles entre 25 e 44 anos desde 2020, segundo o Kansas City Fed. Cerca de 75% dos participantes do Tulsa Remote ainda vivem na cidade após completarem o programa, que inclui eventos comunitários para ajudar na integração.

A Fundação George Kaiser continuará financiando o Tulsa Remote enquanto ele demonstrar ser uma oportunidade de enriquecimento comunitário.

A conquista da casa própria

Jasmine Renae Ball, de 32 anos, faz parte da onda de migrantes do trabalho remoto que chegou a Tulsa durante a pandemia. Ela morava em Los Angeles, trabalhando como planejadora financeira e sempre com a sensação de que deveria seguir seu próprio conselho e economizar para comprar uma casa. Isso não parecia viável em Los Angeles.

Em 2020, quando suas reuniões com clientes passaram a ser pelo Zoom, ela se inscreveu no Tulsa Remote. Jasmine comprou uma casa de três quartos em Tulsa por cerca de US$ 185 mil (cerca de R$ 1 05 milhão), um terço do custo dos apartamentos menores que estava procurando em Los Angeles.

Ela também convenceu seus pais aposentados a se mudarem do norte da Califórnia para Tulsa, junto com sua irmã mais nova.

— Tudo era muito caro — disse Ball sobre sua vida na Califórnia. —Isso fazia com que você tivesse que escolher entre certas coisas e não viver necessariamente a vida que queria, ou então as pessoas se endividavam tentando criar o estilo de vida que desejavam.

Custos de moradia disparam

Muitas cidades dos EUA têm passado por esse ciclo nos últimos anos. Jovens profissionais de cidades caras, frustrados, se mudam e fazem os custos locais dispararem. Em Spokane, Washington, os preços das casas aumentaram 60% entre 2020 e 2022. Austin, no Texas, e Portland, no Oregon, também viram os custos de moradia subirem por conta do influxo de novos moradores.

Tulsa não está imune a esses desafios. O preço médio de uma casa na região de Tulsa aumentou 9% desde o ano passado, enquanto o preço médio nacional subiu 3,2%.

Choudhury, de Harvard, observou que outras cidades no país viram um grande salto nos preços de imóveis e que o influxo de moradores pelo Tulsa Remote ainda é pequeno demais para afetar significativamente os custos locais:

— A gentrificação é uma preocupação. Mas a escala agora não me preocupa. Em uma cidade de 1 milhão de pessoas, há 3.000 novos trabalhadores do conhecimento.

Alguns dos novos moradores de Tulsa reconheceram que ainda não se sentem totalmente parte da cultura local — então, por quanto tempo eles ficarão ainda é uma questão em aberto.

— Definitivamente, ainda sou de Wisconsin no meu íntimo — disse Tricia Jimo, de 45 anos, cuja mudança para Tulsa, pelo programa, foi parcialmente inspirada por ter enfrentado muitas manhãs geladas removendo neve da entrada de sua casa antes de ir trabalhar nos subúrbios de Madison.

— Na minha cabeça, eu estava indo para Tulsa por um ano, e sempre poderia voltar se não fosse o lugar certo para mim — acrescentou. — Quatro anos depois, agora as conversas que estou tendo são mais como: ‘Você vai ficar em Tulsa para sempre?’ Talvez.”

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