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Saiba como levar o profissional quando a vida pesa

Eventos como separação, doenças graves e morte têm impacto no desempenho no trabalho. Saiba o que dizem os especialistas para encarar esses momentos sem (muito) estresse

Não se deixe sufocar: cerca de 30% das grandes organizações no Brasil oferecem aos empregados serviços de apoio psicológico, jurídico e financeiro (Stock.XCHNG)
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Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2012 às 12h37.

São Paulo - Deixe os problemas do lado de fora da empresa. Durante anos, essa frase pertenceu ao corolário de boas maneiras no trabalho. O escritório, diziam muitos líderes, não é lugar para discutir questões pessoais. Só que há uma verdade inconveniente a respeito dessa ideia: as pessoas carregam seus problemas para dentro da companhia. Cientes disso, os RHs criaram programas para auxiliar os funcionários mais estressados.

Atualmente, cerca de 30% das grandes organizações no Brasil oferecem aos empregados serviços de apoio psicológico, jurídico e financeiro. Mas mesmo esses bons programas têm dificuldade para cobrir as questões mais importantes da vida, como paternidade, separação, doenças graves e morte. Não existe regra para tratar desses eventos, que podem ter efeito imprevisível sobre o desempenho profissional, o que torna difícil para chefes e colegas lidar com gente nessa situação.

Em boas empresas, uma saída dos RHs tem sido encaminhar o colaborador a coaches ou terapeutas ocupacionais. O objetivo é mantê-lo no prumo enquanto atravessa uma mudança radical. Embora cada ser humano reaja de forma particular à dor e à alegria, é possível identificar comportamentos semelhantes diante de determinados períodos da vida. Em momentos de luto provocados por perdas, verificase tristeza, apatia, compulsão, diminuição da autoestima, alterações no sono e recolhimento.

"No luto, tem-se menos energia para interagir com familiares, amigos e colegas de trabalho porque é necessário empregá-la para cuidar da ferida emocional", diz Lindinaura Canosa, vicepresidente da Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro. A produtividade não cairá, obrigatoriamente, durante ou depois de uma situação dolorosa. Às vezes, a reação é oposta: o rendimento até aumenta porque a percepção fica mais acurada e o trabalho acaba servindo como válvula de escape.

Diante de situações extremas, em especial doença grave (própria ou de pessoas próximas), o profissional pode rever seus valores e adquirir um novo comportamento. Objetivos previamente estabelecidos pela empresa podem deixar de fazer sentido. Há um risco de queda no desempenho e é preciso tomar cuidado para mantê-lo em níveis adequados. "Um novo ser humano irá à companhia, mas as metas já definidas têm de ser entregues", diz Carlos Boschetti, que fez carreira executiva em empresas como Audi, Embratel e AT&T e hoje atua como coach.


O designer Vitor Mendonça, de 31 anos, teve altos e baixos de produtividade durante o período em que o pai lutou contra um câncer. Morando em Nova York, longe da família, seu desempenho até aumentou. "O que fiz foi me empenhar ao máximo para mandar notícias boas para ele, mergulhei nos estudos e no trabalho", diz. Após a morte do pai, Vitor caiu em depressão e sua produtividade foi lá embaixo.

Ele precisou mudar de faculdade devido ao fraco rendimento e teve de reduzir sua jornada de trabalho. Para dar a volta por cima, Vitor contou com os amigos, os familiares e um terapeuta. "A maior lição foi aprender a pedir ajuda e a tirar proveito disso de maneira positiva."

Casos graves

Ao deparar com uma situação imprevisível, como doenças graves ou morte, o profissional deve manter a calma e informar o chefe, os colegas e a equipe do ocorrido. Nesse caso, não vale a pena esconder as informações, até porque você poderá ter de se ausentar da empresa e precisará justificar a falta. Também é interessante tentar prever quais consequências a situação de emergência pode trazer para sua rotina.

"É necessário pensar quais tipos de impacto vão ser criados na produtividade do profissional e dos colegas", diz o coach Carlos Boschetti. Muitas vezes, há dúvidas sobre o quanto se deve falar para o chefe. Não há regras a respeito desse assunto, porém, antes de tomar a decisão, o mais indicado é mapear o ambiente.

"Uma possibilidade é lembrar como a companhia tratou casos semelhantes, o que as pessoas fizeram, como se expressaram e como o chefe se comportou", diz Renata Kurtz, supervisora das disciplinas de Organizações do IAG, escola de negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.


"Observar é uma forma de perceber a cultura organizacional na prática." E é preciso aprender a reagir de maneira equilibrada porque há um limite para remoer situações difíceis. Ainda que possa parecer duro, a capacidade de superação é uma qualidade e o período de dor é um momento para o profissional observar a si próprio e aprender a lidar com a dificuldade.

Por outro lado, se pensar apenas na dor não é saudável, fugir do luto também não é. "Aqueles que desenvolvem compulsão pelo trabalho para fugir da tristeza tendem a somatizar e, mais tarde, ter doenças", diz Damáris Vieira Novo, psicóloga e professora da área de gestão de pessoas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). "O indivíduo deve se perguntar quais alternativas tem para superar o problema depois de fazer um diagnóstico da situação", diz o coach Villela da Matta.

A opinião do especialista é de que, quanto mais um profissional é capaz de superar as próprias dificuldades, mais tem condições de crescer na companhia. "Se ele lida bem com os próprios problemas, fará o mesmo com os de seus liderados. Do contrário, não estará pronto para assumir um cargo de gestão."

"Com a gravidez fiquei mais focada"

Karla Basile, de 31 anos, gerente sênior da Chemtech, empresa de serviços para o mercado de petróleo, no Rio de Janeiro, espera o segundo filho para os próximos meses. A primeira gestação, de Beatriz, de 3 anos, tornou a engenheira química uma pessoa mais aberta, mais sensível ao problema dos outros, mais compreensiva. "A experiência da maternidade fez de mim uma gestora melhor", diz Karla, responsável por uma equipe de 130 profissionais.


Ela conta que está mais sensível e emotiva devido à nova gravidez, mas tenta manter intacto o desempenho no trabalho. Para isso, continua a estabelecer limites para os funcionários, a zelar pela entrega de projetos com a melhor qualidade possível e a cobrar o cumprimento dos prazos como antes. Desta vez, ela está menos ansiosa, aprendeu a lidar com os problemas com mais tranquilidade e passou a ser mais focada. "Com isso, minha produtividade aumentou", comemora Karla.

Boas-novas

Caso a mudança seja previsível, como casamento ou nascimento de filho, o colaborador tem de saber se planejar. Assim, a correria dos preparativos não pode interferir no desempenho; exceção feita à gestação de risco. A analista de marketing Sylvia Bozzo, de 26 anos, do Rio de Janeiro, teve de desdobrar-se para conciliar sua agenda na empresa, pós-graduação, preparativos do casamento e reforma de apartamento.

Ela fez planilhas mensais com tudo que tinha de resolver a cada dia. Sylvia usava a hora do almoço e o tempo livre à noite para se dedicar a essas tarefas, pois não queria comprometer a rotina profissional com assuntos pessoais. "O maior erro de uma noiva é pensar só na organização do casamento", diz Sylvia. "Esse é um evento pontual, já a carreira é para a vida toda e as demandas corporativas continuam ocorrendo e merecem dedicação", diz ela, que se casou em junho deste ano.

Nem todas as empresas têm um ambiente propício à revelação de emoções. "O nível de competição é tão alto em algumas companhias que, para não se fragilizar diante dos colegas, os funcionários preferem enfrentar sozinhos a alegria ou a tristeza", afirma Damáris, psicóloga da FGV-RJ. Se você está empregado em um lugar assim e está diante de uma situação difícil, não hesite em recorrer ao RH ou a um psicólogo. "O pior a fazer é deixar a vida te levar", afirma Damaris.

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São Paulo - Deixe os problemas do lado de fora da empresa. Durante anos, essa frase pertenceu ao corolário de boas maneiras no trabalho. O escritório, diziam muitos líderes, não é lugar para discutir questões pessoais. Só que há uma verdade inconveniente a respeito dessa ideia: as pessoas carregam seus problemas para dentro da companhia. Cientes disso, os RHs criaram programas para auxiliar os funcionários mais estressados.

Atualmente, cerca de 30% das grandes organizações no Brasil oferecem aos empregados serviços de apoio psicológico, jurídico e financeiro. Mas mesmo esses bons programas têm dificuldade para cobrir as questões mais importantes da vida, como paternidade, separação, doenças graves e morte. Não existe regra para tratar desses eventos, que podem ter efeito imprevisível sobre o desempenho profissional, o que torna difícil para chefes e colegas lidar com gente nessa situação.

Em boas empresas, uma saída dos RHs tem sido encaminhar o colaborador a coaches ou terapeutas ocupacionais. O objetivo é mantê-lo no prumo enquanto atravessa uma mudança radical. Embora cada ser humano reaja de forma particular à dor e à alegria, é possível identificar comportamentos semelhantes diante de determinados períodos da vida. Em momentos de luto provocados por perdas, verificase tristeza, apatia, compulsão, diminuição da autoestima, alterações no sono e recolhimento.

"No luto, tem-se menos energia para interagir com familiares, amigos e colegas de trabalho porque é necessário empregá-la para cuidar da ferida emocional", diz Lindinaura Canosa, vicepresidente da Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro. A produtividade não cairá, obrigatoriamente, durante ou depois de uma situação dolorosa. Às vezes, a reação é oposta: o rendimento até aumenta porque a percepção fica mais acurada e o trabalho acaba servindo como válvula de escape.

Diante de situações extremas, em especial doença grave (própria ou de pessoas próximas), o profissional pode rever seus valores e adquirir um novo comportamento. Objetivos previamente estabelecidos pela empresa podem deixar de fazer sentido. Há um risco de queda no desempenho e é preciso tomar cuidado para mantê-lo em níveis adequados. "Um novo ser humano irá à companhia, mas as metas já definidas têm de ser entregues", diz Carlos Boschetti, que fez carreira executiva em empresas como Audi, Embratel e AT&T e hoje atua como coach.


O designer Vitor Mendonça, de 31 anos, teve altos e baixos de produtividade durante o período em que o pai lutou contra um câncer. Morando em Nova York, longe da família, seu desempenho até aumentou. "O que fiz foi me empenhar ao máximo para mandar notícias boas para ele, mergulhei nos estudos e no trabalho", diz. Após a morte do pai, Vitor caiu em depressão e sua produtividade foi lá embaixo.

Ele precisou mudar de faculdade devido ao fraco rendimento e teve de reduzir sua jornada de trabalho. Para dar a volta por cima, Vitor contou com os amigos, os familiares e um terapeuta. "A maior lição foi aprender a pedir ajuda e a tirar proveito disso de maneira positiva."

Casos graves

Ao deparar com uma situação imprevisível, como doenças graves ou morte, o profissional deve manter a calma e informar o chefe, os colegas e a equipe do ocorrido. Nesse caso, não vale a pena esconder as informações, até porque você poderá ter de se ausentar da empresa e precisará justificar a falta. Também é interessante tentar prever quais consequências a situação de emergência pode trazer para sua rotina.

"É necessário pensar quais tipos de impacto vão ser criados na produtividade do profissional e dos colegas", diz o coach Carlos Boschetti. Muitas vezes, há dúvidas sobre o quanto se deve falar para o chefe. Não há regras a respeito desse assunto, porém, antes de tomar a decisão, o mais indicado é mapear o ambiente.

"Uma possibilidade é lembrar como a companhia tratou casos semelhantes, o que as pessoas fizeram, como se expressaram e como o chefe se comportou", diz Renata Kurtz, supervisora das disciplinas de Organizações do IAG, escola de negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.


"Observar é uma forma de perceber a cultura organizacional na prática." E é preciso aprender a reagir de maneira equilibrada porque há um limite para remoer situações difíceis. Ainda que possa parecer duro, a capacidade de superação é uma qualidade e o período de dor é um momento para o profissional observar a si próprio e aprender a lidar com a dificuldade.

Por outro lado, se pensar apenas na dor não é saudável, fugir do luto também não é. "Aqueles que desenvolvem compulsão pelo trabalho para fugir da tristeza tendem a somatizar e, mais tarde, ter doenças", diz Damáris Vieira Novo, psicóloga e professora da área de gestão de pessoas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). "O indivíduo deve se perguntar quais alternativas tem para superar o problema depois de fazer um diagnóstico da situação", diz o coach Villela da Matta.

A opinião do especialista é de que, quanto mais um profissional é capaz de superar as próprias dificuldades, mais tem condições de crescer na companhia. "Se ele lida bem com os próprios problemas, fará o mesmo com os de seus liderados. Do contrário, não estará pronto para assumir um cargo de gestão."

"Com a gravidez fiquei mais focada"

Karla Basile, de 31 anos, gerente sênior da Chemtech, empresa de serviços para o mercado de petróleo, no Rio de Janeiro, espera o segundo filho para os próximos meses. A primeira gestação, de Beatriz, de 3 anos, tornou a engenheira química uma pessoa mais aberta, mais sensível ao problema dos outros, mais compreensiva. "A experiência da maternidade fez de mim uma gestora melhor", diz Karla, responsável por uma equipe de 130 profissionais.


Ela conta que está mais sensível e emotiva devido à nova gravidez, mas tenta manter intacto o desempenho no trabalho. Para isso, continua a estabelecer limites para os funcionários, a zelar pela entrega de projetos com a melhor qualidade possível e a cobrar o cumprimento dos prazos como antes. Desta vez, ela está menos ansiosa, aprendeu a lidar com os problemas com mais tranquilidade e passou a ser mais focada. "Com isso, minha produtividade aumentou", comemora Karla.

Boas-novas

Caso a mudança seja previsível, como casamento ou nascimento de filho, o colaborador tem de saber se planejar. Assim, a correria dos preparativos não pode interferir no desempenho; exceção feita à gestação de risco. A analista de marketing Sylvia Bozzo, de 26 anos, do Rio de Janeiro, teve de desdobrar-se para conciliar sua agenda na empresa, pós-graduação, preparativos do casamento e reforma de apartamento.

Ela fez planilhas mensais com tudo que tinha de resolver a cada dia. Sylvia usava a hora do almoço e o tempo livre à noite para se dedicar a essas tarefas, pois não queria comprometer a rotina profissional com assuntos pessoais. "O maior erro de uma noiva é pensar só na organização do casamento", diz Sylvia. "Esse é um evento pontual, já a carreira é para a vida toda e as demandas corporativas continuam ocorrendo e merecem dedicação", diz ela, que se casou em junho deste ano.

Nem todas as empresas têm um ambiente propício à revelação de emoções. "O nível de competição é tão alto em algumas companhias que, para não se fragilizar diante dos colegas, os funcionários preferem enfrentar sozinhos a alegria ou a tristeza", afirma Damáris, psicóloga da FGV-RJ. Se você está empregado em um lugar assim e está diante de uma situação difícil, não hesite em recorrer ao RH ou a um psicólogo. "O pior a fazer é deixar a vida te levar", afirma Damaris.

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