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Professor de português analisa frase polêmica de Bolsonaro no Roda Viva

Uma oração adversativa sobre uso da tortura proferida pelo candidato Jair Bolsonaro é o ponto de partida da Dica de Português de hoje

Bolsonaro: ele negou o golpe militar de 1964 (TV Cultura/Reprodução)

Bolsonaro: ele negou o golpe militar de 1964 (TV Cultura/Reprodução)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 31 de julho de 2018 às 13h37.

Última atualização em 1 de agosto de 2018 às 09h35.

Assisti ansioso, ontem, à entrevista de Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva, da tevê Cultura.
Separei, para este espaço linguístico, uma de suas declarações:

"Abominamos a tortura, mas naquele momento vivíamos na guerra fria."

Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva de 30 de julho de 2018

 

 

Em nossa Língua Portuguesa, as oposições são representadas por dois tipos de orações: as adversativas e as concessivas.
Sob o ponto de vista sintático, as adversativas são ligadas - de maneira habitual - pelos conectivos "mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto".

Refletindo sobre a Semântica (sentido da expressão), as estruturas adversativas apresentam oposição acentuada, garantindo à oração conectada por "mas" e seus semelhantes maior destaque:

"Ele argumenta bem, mas é agressivo."
"Ele fala pouco, mas é convincente."
"A tortura é abominável, mas vivíamos na guerra."

Já as orações adverbiais concessivas, além de serem subordinadas, são ligadas - de maneira habitual - pelos conectivos "apesar de que, embora, mesmo que, posto que, ainda que" e outros. É também presença constante o subjuntivo verbal.

Sob a ótica do discurso e da argumentação, uma oração subordinada adverbial concessiva tem oposição menos acentuada em relação às coordenadas adversativas:

"Embora seja agressivo, ele argumenta bem."
"Apesar de ser convincente, ele fala pouco."

Caso fosse a intenção de quem argumenta, a mudança de adversativa para concessiva (usando a declaração do candidato à presidência) garantiria mais suavidade ao discurso:

"Mesmo que se viva uma guerra fria, abominamos a tortura."

Fato é: tudo que envolve o discurso de Bolsonaro tem muita audiência, crítica, comentário, análise. É um fenômeno nas mídias sociais. É melhor a concorrência afinar a estratégia linguística, pois a palavra do candidato do PSL demonstrou, na entrevista de ontem, força no argumento.

Um abraço, até a próxima e inscreva-se no meu canal!

Diogo Arrais
http://www.ARRAISCURSOS.com.br
YouTube: MesmaLíngua
Autor Gramatical pela Editora Saraiva
Professor de Língua Portuguesa

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