Para presidente da PepsiCo, mulheres não podem ter tudo
Executiva à frente da PepsiCo não acredita na possibilidade de sincronizar destaque na carreira e dedicação à família; veja o depoimento
Claudia Gasparini
Publicado em 3 de julho de 2014 às 13h39.
São Paulo - O desafio de conciliar vida pessoal e profissional é um velho conhecido de muitas mulheres. Mas desta vez uma declaração de Indra Nooyi, presidente da PepsiCo desde 2007, expôs o dilema sob um ponto de vista cruamente honesto - e um tanto desencantado.
Para a diretora da multinacional, as mulheres não estão em condições de desempenhar com sucesso todos os papéis esperados dela. Nós fingimos que podemos ter tudo, mas não podemos, disse Indra em recente entrevista à revista The Atlantic num evento em Aspen.
Foi sua própria experiência pessoal que a levou à conclusão. Segundo ela, na noite em que descobriu que seria nomeada presidente da empresa, correu para casa querendo contar a excitante novidade para a mãe.
Eu disse ‘Tenho uma ótima notícia para você’, ao que ela respondeu ‘A sua notícia pode esperar. Você pode sair e comprar leite?’, contou à plateia a presidente da PepsiCo.
Indra perguntou a ela por que não havia recorrido a outras pessoas da casa. O marido da executiva, segundo a mãe, estava cansado, e ela havia se esquecido de pedir o favor aos empregados. Então, como uma boa filha, a executiva saiu, comprou o leite e voltou para casa.
Apesar da fria recepção da mãe, Indra finalmente contou a ela a notícia sobre sua nomeação à presidência. Ela me disse: ‘Vou explicar uma coisa para você. Você pode ser presidente da PepsiCo. Você pode integrar o conselho diretor. Mas, quando entra nesta casa, você é a esposa, a filha, a nora, a mãe. Então deixe essa porcaria de coroa na garagem e não traga para dentro de casa, lembrou Indra.
A dura experiência trouxe, para ela, a convicção de que não é possível acumular papéis e ser bem-sucedida em todos eles. Estamos em apuros. Sabe de uma coisa? [O que nos resta são] mecanismos para lidar com isso, afirma.
Mamãe ou má mãe?
Casada e mãe de duas meninas, a presidente da multinacional não se considera uma pessoa dedicada à família. Planejamos nossas vidas meticulosamente para sermos pais decentes, mas, se você perguntar às nossas filhas, não tenho certeza se dirão que eu tenho sido uma boa mãe, confessou a executiva.
Tyra, uma das garotas, costumava ligar para o escritório da mãe para saber se podia jogar Nintendo. Quem atendia a menina - e dava a permissão para o videogame, depois de checar se ela havia feito a lição de casa - era a secretária.
No entanto, de todos, o marido é quem acaba mais prejudicado. Raj sempre disse que a minha lista de prioridades é a PepsiCo, a PepsiCo, a PepsiCo, as crianças, minha mãe, e, só no fim da lista, ele... Mas pelo menos ele está na lista, brincou a executiva.
Veja seguir a entrevista na íntegra:
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