Carreira

Os conselhos de Damásio de Jesus para concurseiros

Para um dos nomes importantes do mercado de concursos no Brasil, concurseiro deve ter um diferencial – e isso inclui se vestir bem

Estudar é fundamental; mas é preciso ir além para passar em concursos (Dreamstime)

Estudar é fundamental; mas é preciso ir além para passar em concursos (Dreamstime)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2011 às 17h26.

São Paulo – Na hora de se preparar para concurso público, não há estratégia melhor do que estudar. E muito. Mas pensar fora da caixa e tentar ir além do que todos fazem também é essencial, na visão de Damásio de Jesus, um dos principais nomes da preparação de concursos do Brasil.

Aos 76 anos, o fundador do Complexo Educacional Damásio de Jesus coleciona histórias de quem viveu na pele a saga de se preparar para um concurso público. Para seguir a carreira de juiz, começou a estudar as matérias fundamentais para o cargo a partir do segundo ano da faculdade de Direito.

Quando uma mudança na lei redirecionou seus planos profissionais para o cargo de promotor de justiça do estado de São Paulo, Damásio se tornou um concurseiro profissional. “Meus pais pagavam o meu aluguel e eu comia na sogra”, conta. “Foi um tempo de grandes problemas porque eu não era ninguém”.

Como superou tudo isso? “Estudando e tendo fé”, responde enfático. Para ele, o concurseiro deve estudar tanto ao ponto de dominar todos os assuntos pedidos na prova.

Isso não significa, contudo, que o concurseiro deva deixar a si mesmo de lado. Compostura e cuidados com a aparência, segundo ele, também contam para o resultado final.


EXAME.com: Qual é o principal erro dos candidatos a concurso público?
Damásio de Jesus:
Um dos erros que as pessoas cometem é não estudar. Concurso não é simplesmente concurso. É uma questão de vida. É uma encruzilhada da vida: em que você vai ou não vai. É preciso ter extrema seriedade ao lidar com isso. Eu não posso brincar com minha vida, com meu futuro, com minha profissão.

EXAME.com: Como fazer isso de uma maneira eficiente?
Damásio de Jesus:
Sempre dou o exemplo de um piloto de companhia aérea. Para trabalhar, ele precisa de um destino. Mas isso não basta. Ele precisa de um plano de voo para organizar a vida. Quando você está estudando para concurso, você tem que alterar o ritmo da sua vida. Se não mudar, não chega a lugar nenhum.


EXAME.com: Em que medida o senhor alterou o ritmo da sua vida?
Damásio de Jesus:
Desde o início da faculdade de Direito, eu queria ser juiz. Por isso, a partir do segundo ano da graduação, comecei a estudar apenas as matérias mais importantes para o concurso da Magistratura, que são processo civil, penal, constitucional, por exemplo. As outras disciplinas eram apenas para passar de ano. Essas aí eram para passar na Magistratura.

Comecei a namorar no mesmo período. Mas o namoro não era todo dia, nem quando eu quisesse. Era apenas sábado e domingo, das 7 às 9 horas da noite.

EXAME.com: Mas era uma imposição familiar?
Damásio de Jesus:
Não. Era cabeça boa. Eu já sabia que para ser alguém de destaque tinha que estudar todas as noites, inclusive aos sábados e domingos. Eu digo para os meus alunos: vocês têm que estudar tanto que caia o assunto que cair, você sabe.

EXAME.com: E como o senhor foi parar no Ministério Público?
Damásio de Jesus:
Quando me formei, entrou em vigor a famosa lei que exigia dois anos de atividade forense para se candidatar ao cargo de juiz. Foi um desalento. Meus professores, então, me aconselharam a prestar concurso para promotor e cumprir os dois anos exigidos. No fim, fiquei 26 anos.Sempre digo que fui apaixonado pela Magistratura e acabei me casando com a instituição do Ministério Público.

EXAME.com: O senhor já tinha concluído a faculdade nesse período. Como foi isso?
Damásio de Jesus:
Eu já estava casado, mas estudava o dia inteiro. Meus pais pagavam o aluguel da minha casa e eu comia na sogra. Foi um tempo de grandes problemas porque eu não era ninguém. Quando você está se preparando para concursos, você não é o que não é nem o que não é. Você é advogado e quer ser promotor, mas não é promotor ainda. Você fica no limbo.

EXAME.com: Mas como encarar isso sem traumas?
Damásio de Jesus:
Estudando e tendo fé. Você está se preparando, por isso, acredita em você. Sabe que vai chegar lá.

EXAME.com: E quem não pode se dedicar exclusivamente para concursos?
Damásio de Jesus:
O plano de vida fica mais longo. Há pessoas que com um ano passam no concurso. Outras, que estudam e trabalham, passam com dois, três anos. Mas não pode ser um aluno genérico.

EXAME.com: Como assim?
Damásio de Jesus
: Aluno genérico é aquele que faz exatamente o que todo mundo faz, estuda o que todos estudam. Para passar, é preciso ser específico. Ou seja, estudar o que todos estudam e algo mais. Ele precisa ter um diferencial, que pode ser conhecer outras línguas, música ou teatro. Alguma coisa que faça a diferença para a carreira que ele escolheu.

EXAME.com: Qual foi o seu diferencial?
Damásio de Jesus:
Seriedade no propósito. Quero isso e vou fazer de tudo para ser isso.

EXAME.com: Soube que o senhor aconselha seus alunos até a mudar o jeito de se vestir. Por quê?
Damásio de Jesus:
A compostura conta muito. Você tem que olhar o aluno e já vê-lo na mesa de juiz. Certa vez, três alunos me contaram que foram convocados para a prova oral de determinado concurso. Entre eles, estava uma moça muito mal vestida. Marquei uma reunião com ela e fui franco: “vestida desse jeito, a senhora não vai chegar a lugar algum”. Ela ficou brava, justificou que estava daquele jeito de tanto estudar. Repeti que ela não iria passar. Ela aceitou meu conselho e passou. Se tivesse ido daquele jeito, não teria passado.

 

Acompanhe tudo sobre:carreira-e-salariosComportamentoConcursosConcursos públicosvagas-de-emprego

Mais de Carreira

É o fim da hora extra? Inteligência artificial pode acabar com o maior pesadelo dos executivos

Elon Musk: 'A guerra por talentos mais louca já vista', diz magnata sobre profissionais de IA

Apenas metade da geração Z diz ter um mentor no trabalho — e isso pode custar caro

Maioria dos funcionários não deseja total autonomia no trabalho, diz CEO do Airbnb