Carreira

O que os problemas de Graça Foster podem ensinar aos CEOs

Em meio ao escândalo de corrupção, o que a presidente da Petrobras pode fazer para recuperar sua imagem, segundo especialistas em carreira

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 24 de dezembro de 2014 às 05h12.

A engenheira química Graça Foster pode não estar diretamente envolvida num dos maiores escândalos corporativos do país, o de corrupção na Petrobras, a estatal que dirige desde 2012 e na qual trabalha há mais de 30 anos. Mas sua reputação profissional vai terminar o ano abalada. O que essa experiência conturbada pode ensinar a outros presidentes de empresa? EXAME.com ouviu especialistas em carreira para responder.

“A pessoa pode trabalhar bem por 20 anos. Mas, ao se envolver em um escândalo, perde esses 20 anos de carreira. Reputação profissional se tem ou não”, afirma o headhunter Bernardo Entschev, presidente da De Bernt Entschev Human Capital. “Com o discurso de ‘fico enquanto tiver a confiança da presidente Dilma’, Graça caminha para enterrar sua imagem profissional e, consequentemente, sua empregabilidade.”

O que deveria então ter feito Graça Foster, segundo os especialistas? Entschev responde: “A presidente da Petrobras deveria ter deixado o cargo logo no início do escândalo. Mas está fazendo o oposto, valendo-se do apoio que tem do governo.”

Quem hoje contrataria Graça Foster? “Ninguém”, afirma Entschev. Na prática, qualquer tipo de associação ou envolvimento em um escândalo corporativo cria problemas para uma eventual tentativa de recolocação profissional.

A única chance de um executivo sair-se bem estando no comando de uma empresa envolvida em corrupção é levantar o estandarte da limpeza, segundo Entschev. “Um novo presidente que descubra falcatruas deve fazer uma auditoria e conduzir o processo de investigação na empresa ou sair imediatamente da companhia porque, em algum momento, isso vai atingi-lo”, afirma Entschev.

Ele conta que anos atrás foi procurado por executivos de uma grande multinacional que tinham descoberto um rombo de milhões na área financeira da companhia. “Meu conselho a eles foi: saiam imediatamente da empresa”, diz Entschev. Foi o que fizeram e ainda registaram em cartório o motivo da saída. Dois meses depois, o escândalo estourou nos jornais. “O nome deles não foi citado e hoje trabalham em outras empresas”, diz Bernardo Entschev.

Para a imagem do profissional, pouco importa se ele está envolvido ou não no escândalo. O resultado é sempre negativo, diz Silvio Celestino, sócio fundador da Alliance Coaching. Segundo ele, profissionais bem sucedidos constroem a carreira criando oportunidades e alternativas.

Veja o caso do piloto Nelson Piquet. “Quando o Flávio Briatore fez o Nelsinho Piquet cometer aquela malandragem para favorecer Fernando Alonso, em 2008, Piquet foi praticamente banido da F-1”, diz Celestino, referindo-se à premeditação de um acidente de Piquet, então na Renault, no GP de Cingapura. O acidente favoreceu seu colega de escuderia Fernando Alonso, que terminou a corrida em primeiro lugar.  A carreira de Nelson Piquet nunca mais foi a mesma depois que o escândalo de favorecimento tornou-se público.

Já para o bilionário Warren Buffet a história foi diferente, lembra Silvio Celestino, referindo-se ao caso de informação privilegiada na compra de ações do banco Goldman Sachs, em 2008. “Quando estourou a crise do banco de investimentos Goldman Sachs, Buffet usou sua reputação profissional a seu favor para negociar com os órgãos fiscalizadores. Disse aos auditores: confiem em mim que vou resolver isso e não terei misericórdia com os responsáveis.” Os auditores deram-lhe a chance e Buffet descobriu a origem da fraude. Mesmo com o escândalo, sua reputação manteve-se intacta, porque ele foi atrás e resolveu o caso.

Só para lembrar: em 2008, Rajat Gupta, um membro do conselho de administração do Goldman Sachs, passou para frente a informação de que Warren Buffet compraria um lote bilionário de ações do banco. Raj Rajaratnam, fundador da gestora Galleon, beneficiou-se da informação e ganhou muito dinheiro com a alta dos papéis no mercado. Três anos depois, ele foi condenado por fazer negócios a partir de informação privilegiada. Gupta também foi condenado por ter passado as informações.

Aos executivos que tenham a reputação profissional manchada, Entschev dá um conselho. “Um dos caminhos é abrir um negócio próprio, com foco no produto a ser lançado.” O produto deve falar por si só, sem depender da imagem do executivo para deslanchar.

Fica aí a dica para Graça Foster, se precisar deixar a presidência da Petrobras.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da Petrobrascarreira-e-salariosEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasExecutivos brasileirosGás e combustíveisGraça FosterIndústria do petróleoMulheres executivasPetrobrasPetróleo

Mais de Carreira

Veja 6 estratégias essenciais para empreender no Brasil, segundo o treinador Bernardinho

Da roça para Paris: a história inspiradora do atleta “Maranhão” que irá disputar as Olimpíadas

De estilista a presidente: os 4 passos para alcançar o sucesso, segundo a CEO do Grupo Malwee

Arteris investe em educação corporativa para lidar com desafios de diversidade geracional

Mais na Exame