São Paulo — Atletas olímpicos geralmente são lembrados por vitórias e recordes. Mas são seus tombos, derrotas e passos em falso que trazem as maiores lições para a vida e para a carreira. Segundo Rubens Pimentel, sócio da Ynner Treinamentos, o esporte ensina que o verdadeiro campeão não é só aquele que conquista a medalha de ouro, mas também quem investiga, descobre e aceita seus limites — sem nunca deixar de batalhar para compensá-los de alguma forma. De Diego Hypólito a Marta (foto), veja o que 6 atletas olímpicos brasileiros podem ensinar sobre humildade, perseverança e motivação. Navegue pelas imagens para acessar o conteúdo.
Aos 22 anos, Thiago Braz da Silva ganhou a medalha de ouro após saltar 6,03 metros na disputa do salto com vara. Com isso, cravou um novo recorde olímpico. O caminho até lá foi duro: em 2014, ele sofreu uma lesão no punho esquerdo, precisou fazer uma cirurgia e teve que recomeçar os treinos aos poucos. Para Rubens Pimentel, sócio da Ynner Treinamentos, a história ensina muito sobre planejamento. “Ele controlou a ansiedade e aceitou que precisava saltar mais baixo até se recuperar da lesão”, explica. “Isso mostra a importância de criar uma cronograma para atingir um objetivo, sem atropelar etapas”, explica. Para o diretor geral da consultoria Robert Half, Fernando Mantovani, Thiago abandonou sua zona de conforto para vencer. “Ele foi atrás de um técnico novo, foi morar na Itália, decidiu se reinventar”, afirma. “Isso mostra como na carreira às vezes é preciso jogar tudo para o alto, não se acomodar”. A participação da avó na criação do atleta, abandonado aos dois anos pelos pais, também inspira reflexões. Rígida, ela exigia que o neto fosse o melhor no esporte que escolheu. De acordo com Mantovani, a história mostra como gestores severos e “chatos” também podem ser, à sua maneira, um ótimo estímulo para o crescimento e o desenvolvimento em qualquer carreira.
Ícone da ginástica artística, Diego Hypólito levou tombos e perdeu medalhas olímpicas que pareciam certas duas vezes: uma em Pequim, em 2008, e outra em Londres, em 2012. Em luta contra a depressão, ele viveu sua redenção nos Jogos de 2016 ao conquistar a medalha de prata para o Brasil.
“Tendo passado pelo que ele passou, poucas pessoas seguiriam em frente”, diz Mantovani. A grande lição do esportista é o valor da tentativa. A promoção que parecia iminente nunca chegou? Foi demitido após anos de dedicação a uma empresa? Estudou dia e noite para um concurso público, mas não passou? Ainda que as perdas se sucedam indefinidamente, insistir é importante. Segundo Pimentel, a história de Hypólito mostra como a paciência e a inteligência emocional são grandes aliadas do sucesso. Por mais acachapantes que sejam as derrotas, elas precisam ser digeridas e transformadas em energia para tentar de novo.
Vencedora da medalha de ouro no judô, Rafaela Silva cresceu na Cidade de Deus, uma das mais conhecidas favelas do Rio de Janeiro. Sua vitória veio calar uma enxurrada de críticas do público, inclusive de cunho racista. Os preconceitos enfrentados pela atleta são uma constante também no mundo corporativo. “Ainda há muitas barreiras para a diversidade nas empresas, mas pessoas como Rafaela mostram que essa é uma luta que vale a pena lutar”, diz Mantovani. A judoca é uma inspiração não apenas pelos obstáculos sociais e culturais que enfrentou, mas também pela própria capacidade de se aprimorar no esporte, afirma Pimentel. “Ela cometeu um erro bobo na Olimpíada de 2012 e o que fez? Reconheceu as lacunas que tinha, e foi atrás de resolvê-las”, explica ele. Na carreira de qualquer pessoa, esse mesmo movimento é necessário: em vez de negar, ignorar ou minimizar os próprios limites, vale mais olhá-los de frente e trabalhar para suprimi-los ou compensá-los da melhor forma possível.
Quem disse que os introvertidos têm menos chances de sucesso do que os extrovertidos? Para Mantovani, o primeiro medalhista do Brasil na Olimpíada de 2016, Felipe Wu, é um exemplo vivo que que os “quietinhos” podem ser extremamente eficientes. Medalha de prata no tiro esportivo, o atleta é conhecido por sua timidez. "Ele ensina que marketing pessoal não é tudo", diz o diretor da Robert Half. “Muitas vezes, quem faz a melhor entrega é justamente quem faz menos barulho”. A capacidade de improviso de Wu merece atenção. “Quando apareceu o estatuto de desarmamento, ele teve muita dificuldade para conseguir armas e encontrou uma solução simples, mas muito criativa: foi se tornar sargento do Exército, para ter acesso ao seu material de treino, além de outros recursos”, afirma Pimentel. “A capacidade de improvisar e buscar parcerias para resolver um problema aparentemente insolúvel é admirável e inspiradora”.
Ícone da seleção brasileira de futebol feminino, Marta é um exemplo para qualquer profissional quando o assunto é liderança e trabalho em equipe. Após a derrota na partida contra a Suécia na Olimpíada, ela defendeu que o ouro importa menos do que o brilho do time. “Ela é tudo menos individualista, o que é incomum no futebol”, diz Pimentel. “Mesmo sendo uma grande estrela, ela está sempre jogando para o grupo”. A postura humilde e dedicada ao coletivo é justamente o que a torna tão querida pelas outras jogadoras e pelo público. Outro detalhe interessante sobre a história de Marta é o fato de ela ser uma mulher de sucesso numa área tipicamente masculina. Seja no futebol, na tecnologia ou nos postos de comando das grandes empresas, a diversidade de gênero permanece um ideal longe de ser conquistado. Segundo Mantovani, a jogadora é admirável por driblar também esse tipo de preconceito. “A vitória sobre a discriminação traz ainda mais respeito para a figura dela, e valoriza muito suas conquistas”, diz.
Como grande parte dos atletas brasileiros, o ginasta Arthur Zanetti precisou superar adversidades por falta de apoio e financiamento. Como seu esporte é particularmente caro, diz Pimentel, as dificuldades vieram em dobro. Curiosamente, o próprio sucesso do ginasta, que conquistou o ouro nas argolas na Olimpíada de Londres em 2012, também se transformou em desafio. “Depois que você ganha, precisa ganhar de novo”, diz Mantovani. Ao contrário de outros atletas, ele não relaxou após a vitória. Independentemente das glórias passadas, o ginasta continua lutando para se manter no pódio. Zanetti não repetiu o ouro em 2016, mas fez o máximo possível e conquistou o 2º lugar. Segundo Mantovani, a cor da medalha se tornou um mero detalhe. “A consciência tranquila de ter se preparado e se esforçado fez com que a prata dele tivesse gosto de ouro”, afirma. "Esse é o verdadeiro significado de uma vitória profissional".
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