Carreira

O profissional “dos sonhos” das empresas

Segundo pesquisa, há um grande descompasso entre os que as empresas querem e o que os brasileiros são


	A partir de vasta base, a consultoria carioca Etalent extraiu o perfil médio do profissional brasileiro em quatro estágios da carreira: analista, gerente, diretor e presidente
 (EXAME.com)

A partir de vasta base, a consultoria carioca Etalent extraiu o perfil médio do profissional brasileiro em quatro estágios da carreira: analista, gerente, diretor e presidente (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de março de 2013 às 15h05.

Nos últimos cinco anos, 3 milhões de profissionais registraram seus currículos no site de recrutamento Vagas.com, com sede em São Paulo. Enquanto cadastravam suas informações, cada candidato fez o teste DISC, um teste de comportamento consagrado, utilizada por empresas do mundo todo para avaliar perfis psicológicos de funcionários e candidatos a um emprego.

A partir dessa vasta base, a consultoria carioca Etalent extraiu o perfil médio do profissional brasileiro em quatro estágios da carreira: analista, gerente, diretor e presidente. A maior surpresa revelada pelo teste é que o trabalhador nacional tem dificuldade de manter relacionamentos.

Os resultados também confirmam a presença de características pouco favoráveis no DNA profissional do brasileiro: desorganizado, centralizador, desconfiado e avesso a conflitos. "A maioria das pessoas é pouco produtiva e o que fazem é de baixa qualidade", diz Jorge Matos, presidente da Etalent e responsável pelo levantamento. "Só quem trabalha bem gera bons resultados e consequentemente interessam as organizações."


O olhar das empresas

Em uma segunda enquete, VOCÊ S/A perguntou a diretores de recursos humanos de 61 grandes empresas que atuam no Brasil, quais entre as características usadas no teste DISC eles mais valorizam. Os resultados mostram qual é o perfil desejado pelas organizações. O padrão de exigência, como não poderia deixar de ser, é alto. Mas esse não é o maior problema.

O complicado é que as empresas agem de forma contraditória, cobrando de uma mesma pessoa, por exemplo, espírito independente e ao mesmo tempo consideração para levar em conta a opinião de outras pessoas. "Isso é humanamente impossível", diz Jorge Matos. "As empresas brasileiras precisam parar de buscar profissionais super-heróis."


Uma comparação entre o perfil do trabalhador brasileiro e o candidato idealizado pelas empresas evidencia o descompasso do mercado: as pessoas são de um jeito e as empresas procuram características que não são encontradas no profissional médio. Por isso, quem tem essas características torna-se valorizado.

Dificuldade em ser objetivo

Uma característica marcante em todos os perfis é a dificuldade de ser objetivo. "O brasileiro não gosta de confrontar ou competir, ele busca sempre uma situação em que ambos os lados ganhem", diz Alfredo Behrens, professor de liderança global da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo. "Isso é herança da cultura portuguesa, muito mais propensa à negociação que à disputa."

Esse traço tem como lado positivo a flexibilidade e a disposição para encontrar uma solução de consenso, duas características importantes no trabalho. No entanto, torna-se um problema diante de situações que exigem uma resposta exata e que provocará descontentamento de alguma parte. "Não queremos ficar mal na foto com ninguém", afirma José Augusto Figueiredo, vice-presidente da consultoria LHH/DBM, do Rio de Janeiro. "Como dizemos sim para tudo, não conseguimos cumprir o que prometemos."


Problemas de relacionamento

O profissional brasileiro também tem problemas de relacionamento. Os gráficos mostram que o quesito consideração, que avalia a habilidade de se colocar-se no lugar do outro, é rara em todos os níveis. Segundo Behrens, da FIA, a valorização da hierarquia é um traço forte na sociedade brasileira e, no trabalho, essa característica prejudica o relacionamento entre chefes e subordinados. Ao tornar-se líder, o brasileiro passa a evitar contatos com sua equipe, como forma de se diferenciar.


No trabalho, a figura do "homem cordial", imagem do brasileiro descrita pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) em seu livro Raízes do Brasil (1936) só se aplica parcialmente. Somos justos, afáveis e doces apenas com os iguais. "Em uma sociedade onde, por natureza, falta amor ao desigual, se identificar com alguém abaixo hierarquicamente, não conta vantagem", afirma Behrens.


Fortalecer os pontos certos

Direcionar o desenvolvimento individual para o fortalecimento de pontos onde o mercado está mais carente é uma maneira de atender a demanda das empresas e assim conquistar destaque e obter uma colocação melhor. "Se você tiver uma boa capacidade de aprendizado, criatividade e souber trabalhar em equipe, terá uma ascensão muito mais rápida", diz Marcelo Santos, da consultoria Doers, de São Paulo. Mas com uma ressalva: é preciso encontrar, entre essas características, aquelas que naturalmente fazem parte de seu perfil pessoal. "Cada profissional tem atributos únicos e isso precisa ficar evidente", diz Jorge Matos, da Etalent.

Desenvolver características novas não é um processo fácil. Exige dedicação e sensibilidade para perceber como você é e como são as pessoas a seu redor. Fazer testes de perfil psicológico ajudam o profissional a descobrir um pouco mais sobre si, mas não são suficientes.

Conversar com colegas de trabalho sobre o próprio desempenho e procurar orientação com mentores e coaches são outras formas de aprendizado importantes. "A formação pesa, é claro, mas as características pessoais é que desempatam na hora de promover ou contratar alguém", diz Fátima Zorzato, sócia da empresa de recrutamento Russell Reynolds, de São Paulo.

Conta muito também, exercitar a capacidade de transferir o que você aprende na sua vida pessoal para a vida profissional, e vice-e-versa. Lembre-se que as pessoas são contratadas pela capacidade técnica e demitidas pelas comportamentais.

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