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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h32.
Beatriz, uma mulher jovem e atraente, acaba de ser promovida a gerente de marketing de uma empresa de nome. É um cargo com o qual sonha desde o primeiro dia dos três anos de casa. Para chegar a ele Beatriz trabalhou duro. Fez muita hora extra, deixou de viajar nos feriados, abriu mão da vida pessoal. Mas também teve sorte: caiu nas graças da pessoa certa. No caso, seu chefe, um homem capaz e influente que lhe ensinou, com a paciência e a dedicação de um professor particular, quase tudo o que ela sabe hoje. E melhor, sem pedir nada em troca.
Ela sempre foi uma aluna talentosa e aplicada. E feliz. Mas agora Beatriz está confusa e receosa. Para sua surpresa, o chefe se disse apaixonado por ela. O sentimento não é recíproco, embora Beatriz o admire e o respeite. Ele é um homem casado e pai de três filhos e ela sempre o viu como um bom amigo. Mas seu futuro ali dentro a preocupa. Ambiciosa, quer continuar subindo na companhia. E receia que um "não" ao chefe poderá colocá-la na geladeira.
Sexo para ela, uma mulher moderna e desinibida, nunca foi problema. Agora pode ser.
Que fazer?
Eloi Zanetti, publicitário e diretor de comunicações de O Boticário, é casado pela segunda vez - com uma subordinada.
Se Beatriz é mesmo uma boa profissional, tem garra e segurança suficientes e não morre de "amores" pelo chefe, o melhor que tem a fazer é dar um não definitivo às intenções dele. E ir procurando uma colocação numa outra empresa onde possa desenvolver seu potencial fazendo uma carreira solo. Mas será mesmo que Beatriz vê o chefe só como amigo? É importante que ela seja honesta consigo mesma, porque ela pode estar muito mais envolvida emocionalmente com ele do que quer admitir a si própria.
Num caso com essas características é comum as pessoas tentarem se enganar, abafar os sentimentos, fugir. O que pode ser uma grande bobagem. Se Beatriz estiver apaixonada, e sabendo agora que é correspondida, vale a pena encarar o amor da sua vida. Não importa se ele é casado, se os outros poderão falar dos dois. Uma paixão bem vivida, ainda que por pouco tempo, vale mais do que qualquer carreira.
Mas, se realmente a admiração de Beatriz se limita ao patamar profissional, um romancezinho com o chefe não é recomendável. Além de não dar em nada, vai atrapalhar a carreira de ambos. No futuro seu chefe irá lhe agradecer muito por este "não" de agora. Romances interesseiros, sobretudo quando se destinam a acelerar a ascensão profissional, têm, em geral, péssimos finais. E não é só isso: sempre que existe alguma coisa "a mais" entre chefes e subordinados a empresa inteira percebe. Esse tipo de situação transforma os protagonistas da história em vítimas da maledicência dos colegas de trabalho. Beatriz e o chefe estariam sob o julgamento de uma "sociedade" conservadora (a maioria dos ambientes empresariais é conservadora). E, nesse caso, por mais que quisesse, o chefe não teria muito como ajudá-la.
Paulo Pereira é consultor e diretor da Eventos RH, empresa de assessoria em recursos humanos e recolocação profissional, com forte atuação no interior de São Paulo.
A situação retratada é muito comum nas nossas empresas, embora nem sempre as coisas ocorram de forma tão "suave". Poucas vezes o envolvimento, a atração e o interesse do chefe pela subordinada são um subproduto de uma relação saudável que foi crescendo ao longo dos anos, como parece ser o caso de Beatriz. Normalmente, os expedientes utilizados para tal são chantagens, ameaças veladas, falsas promessas - atitudes, enfim, que provocam muito mais medo e revolta nas pessoas do que a insegurança sentida por Beatriz.
Por outro lado, moderna e desinibida como é, Beatriz não tem o direito de ficar (ou alegar) surpresa com a revelação do chefe. Ninguém se apaixona por alguém só porque acordou cedo e resolveu se apaixonar. Entre Beatriz e o chefe existe uma espécie de "jogo", e não é de hoje. Teve início lá atrás e foi se tornando perigoso. Durante esse tempo certamente foram dados, de ambos os lados, vários sinais de que a relação estava se "contaminando". Mesmo assim, Beatriz e seu chefe preferiram não interromper o jogo.
Passando para a prática, primeiro Beatriz precisa se certificar se não está mesmo interessada no homem que existe por trás do chefe. Não? Então deve dizer isso a ele abertamente e romper o jogo, ainda que seus objetivos profissionais acabem prejudicados. Deixar que a história prossiga será desastroso não apenas para ela e para sua carreira, mas também para a imagem do chefe e para a família do chefe - do chefe que ela tanto admira e respeita. É claro que Beatriz poderá galgar posições mais rapidamente através de outros meios que não suas competências e habilidades. Só que não vai valer a pena. Ela não conseguirá mantê-las por tempo indeterminado e ainda terá que conviver com a frustração de saber que suas vitórias foram conquistadas à custa de mentiras e artifícios.
Silvia Generali da Costa é psicóloga, consultora em RH e autora do livro Assédio Sexual - Uma versão brasileira.
A situação de uma mulher cujo chefe admite abertamente estar apaixonado por ela não tem saída fácil. Se decidir recusar a investida, corre o risco de ser demitida ou ficar "na geladeira". Se aceitar, corre o risco de ser demitida depois, quando o chefe se apaixonar por outra pessoa, ou quando os dois discutirem, ou quando os colegas descobrirem e fizerem pressão, ou inúmeras outras situações. No caso de Beatriz, chamam a atenção alguns pontos:
Beatriz "deixou a situação rolar" porque estava sendo favorável a ela. Não acredito que ela não estivesse se dando conta de que a intimidade entre ambos estava aumentando. Isso dificulta qualquer "saída estratégica".
Se seu chefe está realmente apaixonado, se o que o move é afeto genuíno e não exercício de poder, ele aceitará elegantemente uma recusa de Beatriz, e não irá prejudicar o objeto de seu amor.
"Topar a parada", pelo jeito, não está fora de cogitação para Beatriz. Isso descaracterizaria uma situação de assédio e entraria na seara do "acordo amigável", que durará enquanto for vantajoso para ambas as partes.
Entenda-se, entretanto, que esse acordo será sempre desigual, uma vez que os envolvidos têm níveis diferentes de poder. É claro que num rompimento desse acordo a tendência é haver prejuízo para a parte com menos poder. Eu sugiro que Beatriz não tenha um caso com o chefe por dois motivos principais. Ela não está pessoalmente interessada nele, logo estaria desrespeitando seus próprios sentimentos. Se Beatriz é talentosa, dedicada e ambiciosa, não lhe faltarão oportunidades - dentro de condições estritamente profissionais - de mostrar sua capacidade como executiva.
Sérgio de Freitas Costa é advogado, administrador e professor de técnicas de negociação do MBA executivo da Business School São Paulo.
Beatriz está diante de duas situações de conflito com as quais terá que lidar. Em primeiro lugar há um conflito interno: Beatriz terá que decidir se seus planos de subir na empresa justificam um sacrifício pessoal de envolvimento com seu chefe, com o qual afirma não estar interessada em ter um caso. Há, de outra parte, um conflito externo, no mínimo potencial, caso Beatriz resolva não ter um caso com seu chefe e ao mesmo tempo não colocar em risco seu futuro profissional.
Em toda situação de conflito (ou negociação) é possível identificar alguns elementos básicos que ajudam a analisar a situação concreta. Desses elementos, são relevantes para Beatriz: interesses, relacionamento e comunicação.
Os interesses dizem respeito às preocupações, desejos, necessidades e temores que motivam nossas posições ou decisões. Há, normalmente, várias maneiras de satisfazer nossos interesses. Beatriz deve perguntar-se quais são seus interesses maiores a longo prazo. Não há certo ou errado aqui. As questões éticas ou de princípios morais podem ou não fazer parte de seus interesses maiores. Resolvido o conflito interno, Beatriz deve imaginar soluções para satisfazer seus interesses. Se ela tem um interesse substancial em seu sucesso profissional, será que ter um caso com o chefe é a única maneira de satisfazer esse interesse? O sucesso profissional não está restrito à empresa em que Beatriz trabalha, o que sugere também uma questão de reputação no mercado. Por isso, que outras formas criativas podem ser imaginadas para lidar com esse interesse?
Do ponto de vista do relacionamento é preciso separar as coisas do problema. Isto é, lidar com as questões pessoais (envolvimento emocional com o chefe) isoladamente das questões substanciais (sucesso profissional, carreira na empresa). O conflito externo pode surgir se Beatriz imaginar que um "não" a seu chefe irá colocá-la definitivamente na geladeira. Problemas pessoais exigem técnicas pessoais. Fora da empresa, certamente Beatriz sabe lidar com um pretendente que não é de seu interesse. Por que não usar as mesmas técnicas com o chefe? Não se deve ceder no relacionamento para obter uma concessão substancial. Ao comunicar seus interesses para o seu chefe, Beatriz não deve mandar uma mensagem, qualquer que seja ela. Deve conversar, no real sentido da palavra: expressar seus sentimentos e sua perspectiva da situação e perguntar abertamente sobre como o chefe vê a mesma situação. Em suma, buscar conjuntamente uma solução.
Os personagens e o enredo desta seção são fictícios. Mas os especialistas chamados a dar sua opinião são genuinamente de carne e osso. Caso você tenha uma história a contar, entre em contato conosco pelo e-mail: maya@email.abril.com.br
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