Carreira

Mulher não é tudo igual: a interseccionalidade no debate de gênero

Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos Consultoria, Michele Salles Villa Franca, Head de Diversidade Inclusão e Saúde Mental da Ambev e Txai Suruí, Ativista Indígena se reuniram em evento da EXAME e Aladas

Gabriela Augusto, da Transcendemos Consultoria, Michele Salles Villa Franca, da Ambev, Txai Suruí, Ativista Indígena e Marina Filippe, da EXAME: desafios são diferentes de acordo com gênero, classe e etnia entre as mulheres (hernanmuttoni/Reprodução)

Gabriela Augusto, da Transcendemos Consultoria, Michele Salles Villa Franca, da Ambev, Txai Suruí, Ativista Indígena e Marina Filippe, da EXAME: desafios são diferentes de acordo com gênero, classe e etnia entre as mulheres (hernanmuttoni/Reprodução)

A experiência do que é ser mulher não é algo universal. As vivências, perspectivas e problemas enfrentados podem ser muito diferentes caso você seja uma mulher negra, transgênero, indígena ou oriunda da periferia.

Foi pensando nisso, que os desafios das mulheres são singulares e ao mesmo tempo conversam entre si, que Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos Consultoria, Michele Salles Villa Franca, Head de Diversidade Inclusão e Saúde Mental da Ambev e Txai Suruí, Ativista Indígena se reuniram para compartilhar suas trajetórias na última terça-feira, 8, Dia Internacional da Mulher. 

A conversa liderada por Marina Filippe, Repórter de negócios e ESG na EXAME, aconteceu durante o painel Interseccionalidade: existe espaço para todes?, no evento Agora é Que São Elas, da Exame em parceria com a Aladas.

Gabriela Augusto, da Transcendemos Consultoria, comentou que desistiu de seguir a carreira no Direito, sua área de formação, por conhecer o ambiente machista dos escritórios de advocacia. "Uma amiga, que trabalhava em um grande escritório, me contou que os clientes preferiam ser atendidos pelos colegas dela que eram homens. Foi aí que eu pensei: poxa se já difícil para ela, que é mulher cisgênero, para mim seria duas vezes mais", comentou. 

Já Michele Salles Villa Franca, Head de Diversidade Inclusão e Saúde Mental da Ambev, comentou sobre o Representa, programa de estágio exclusivo para pessoas negras da Ambev. Segundo a profissional, a iniciativa foi se moldando conforme a companhia aprendia mais sobre a pluralidade desse público.  

"Passamos a entender os diferentes atravessamos das pessoas negras e como estávamos desenvolvendo e garantindo um ambiente de segurança psicológica para que os negros e negras que eram recrutados se desenvolvessem. Com isso, eliminamos testes de inglês dos recrutamentos e incluímos benefícios diferentes para atender as diferentes demandas desse população", disse.

Saúde mental e diversidade

Em comum, as profissionais comentaram sobre o peso de serem as primeiras, dentro de cada recorte social, a alcançarem espaços que antes lhes eram negados.

"Estar nesses espaços traz uma responsabilidade, mas ao mesmo tempo uma carga mental porque me sinto pressionada a não errar. Vão falar: olha, só podia ser a travesti, tinha que ser, entrou pela cota. Com isso, nós nos sentimos cobradas duas vezes mais", disse Gabriela.

Txai concordou. "Tem esse peso não só porque as pessoas vão falar, mas porque também os nossos erros caem sobre todas as mulheres e, no meu caso, sobre todos os povos indígenas. Quando o homem branco erra não cai sobre toda a comunidade branca, sobre todos os homens. Então, é essencial trazermos mais mulheres, trazer mais indígenas para esses espaços para termos referências e deixarmos de nos sentir sozinhas". 

Michele e Txai também comentaram sobre o quanto saúde mental e diversidade que, em primeiro momento são temas muito diferentes também estão conectados. "Quando eu me autoconheço, eu me reconheço enquanto grupo minorizado. Eu mesma fui me reconhecer como mulher negra só aos 30 anos. Quando nos conectamos a quem nos somos, temos um ambiente de segurança psicológica, nos tornamos indivíduos mais felizes e produtivos", disse Michele

Txai relembrou a importância de aumentar os serviços psicológicos para as comunidades indígenas que, muitas vezes, encontram dificuldades em acessar tratamentos. "Na Kanindé, associação de defesa etnoambiental da qual faço parte, criamos um núcleo psicossocial porque os povos indígenas sofrem violências diárias e isso traz consequências para as pessoas e para a comunidade".

Importância de sair do discurso

Por fim, as profissionais concordaram sobre a necessidade de que empresas, pessoas públicas e a sociedade como um todo saíam do discurso e tracem metas concretas para aumentar a inclusão dos grupos minorizados.

"Para mudarmos o cenário que temos hoje é preciso de ação. Agora todo mundo está falando de diversidade, mas será que nas empresas, nos locais que você frequenta a diversidade tem sido promovida, de fato? É preciso sair só do discurso", disse Txai.

A urgência de empresas entenderem isso para sobreviver em meio à transformação dos mercados foi outro ponto abordado. "Precisamos entender que aumentar a diversidade não é um favor que as empresas estão nos fazendo. O mercado precisa de mulheres, LGBTQI+s, pessoas negras, indígenas, isso traz mais valor para os negócios, proporciona serviços melhores, inovação. A sociedade precisa da gente", completou Gabriela Augusto. 

Veja o painel completo no vídeo abaixo:

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:DiversidadeIndígenasMulheresNegrosTransgêneros

Mais de Carreira

Home office sem fronteiras: o segredo da Libbs para manter o trabalho remoto sem parar de crescer

Escala 6x1: veja quais setores mais usam esse modelo de trabalho, segundo pesquisa

Como preparar um mapa mental para entrevistas de emprego?

Para quem trabalha nesses 3 setores, o ChatGPT é quase obrigatório, diz pai da OpenAI, Sam Altman