São Paulo – Menos de 1% dos graduados em cursos superiores anualmente no Brasil forma-se em química . O baixo contingente não é novidade e, há alguns anos, representantes do setor notam estagnação na oferta qualificada de profissionais.
“De maneira geral, o Brasil tem poucos cientistas, não só na área de química, como também em física e matemática”, diz Ivano Gutz, professor do Instituto de Química da USP e coordenador das Olímpiadas de Química do Estado de São Paulo.
De acordo com ele, basta uma pessoa se perguntar quantos profissionais já se apresentaram a ela como cientistas por profissão . Segundo dados da Fapesp, são cerca de 700 cientistas/pesquisadores por cada milhão de habitantes no Brasil.
“A gente leva desvantagem na Ciência de maneira geral. A palavra cientista quase nem existe no Brasil. Nosso índice é muito baixo em comparação a países como Israel, Singapura, Japão, Alemanha”, diz Gutz.
No entanto na indústria química, esta realidade a princípio negativa, na crise, traz até certo alívio para quem já está trabalhando. Funcionários do setor passam ao largo dos recentes cortes.
“A indústria química não dispensou, não existe demissão em massa. Manteve os seus profissionais porque eles são treinados para longo prazo”, diz Martim Afonso Penna, diretor- executivo da Associação Brasileira da Indústria de Cloro, Álcalis e Derivados (Abiclor).
De acordo com ele, profissionais qualificados para o trabalho na indústria química raramente ficam sem trabalho tendo em vista o conhecimento especializado demandado sobretudo pela complexidade da atividade. “É um pessoal disputado, por ser uma indústria de processo que exige preparação e envolve uma série de requisitos ligados a questões de saúde, ambientais e de segurança”, diz Penna.
Esta é também uma das razões pelas quais o salário na indústria química é mais alto do que a média, de acordo com o diretor-executivo da Abiclor. Na área de cloro-álcalis, empregados da indústria receberam, em 2015, valor médio de R$ 5.876,05 por mês, equivalente a três vezes o salário médio pago por outros setores.
Desinteresse começa na escola
A falta de apelo das aulas de química na escola contribui para o desinteresse pela área. “A química é uma ciência experimental, mas isso não acontece nas escolas”, diz o diretor executivo da Abiclor. São raros colégios com laboratórios bem equipados e a disciplina é em sua grande maioria exposta de forma teórica e abstrata. “O aluno vê aquelas fórmulas e letras e acha que nunca vai usar aquilo na sua vida”, diz Gutz.
Além disso, se informações a respeito do campo de trabalho fossem mais acessíveis, o interesse na carreira na área química poderia ser maior. O professor Ivano Gutz fez um estudo da origem dos ingressantes no curso de Química da USP e notou que há mais alunos vindos de áreas industriais, como São Bernardo do Campo, Diadema, Osasco e Taboão da Serra do que das áreas centrais de São Paulo. “Existe um efeito da proximidade, de conhecer, muitas vezes de ter parentes empregados na indústria química”, diz.
As boas oportunidades de trabalho na indústria muitas vezes só chegam ao conhecimento dos alunos que já estão na graduação de química. “Muitos entram com o ideal de serem professores, mas ao longo do curso, acabam deixando de lado a licenciatura para optar pelo bacharelado, mais alinhado às necessidades da indústria”, diz Gutz.
São Paulo - A definição de geração Z surgiu a partir do termo “zapear”, que significa mudar as coisas de forma rápida e repentina, explica o consultor Gilberto Wiesel. Nascidos depois de 1995, os
jovens Z são nativos digitais e multifuncionais. Isso significa que estão acostumados a receber uma imensidão de informações e, consequentemente, vivem em um mundo de infinitas possibilidades. Comparados aos seus predecessores, a
geração Y , são mais críticos, exigentes e dinâmicos. “Sabem o que querem e, principalmente, o que não querem”, diz Wiesel. Mais empreendedores e com a criatividade latente, os jovens da geração Z tendem a procurar
profissões que permitam ascensão mais rápida, de acordo com o especialista. “Acredito que carreiras que demandam muito tempo para se chegar ao topo, como por exemplo a medicina, terão dificuldade em atrair essa nova geração imediatista”, afirma o consultor. É que, segundo ele, quanto antes esses jovens puderem entrar no
mercado de trabalho e colocar sua expertise à prova, mais motivados estarão. “Trabalhos que não tenham inovação, que são metódicos, também não vão atrair essa galera”, diz. Mais consciente das questões ambientais e de seu papel na sociedade, a geração Z poderá dar mais valor às ocupações ligadas à sustentabilidade. Profissões atreladas ao mundo da tecnologia também seguem com força e atratividade. Com a ajuda de seis especialistas,
EXAME.com reuniu 26 carreiras que têm tudo para fisgar os profissionais do futuro. Navegue pelas fotos para conhecê-las.
2. Engenharia ambiental ou gestão ambiental 2 /28(Thinkstock/anyaberkut)
A análise integrada das questões ambientais, própria da engenharia ambiental, é uma atividade que deve atrair os jovens Z, segundo aposta do consultor Gilberto Wiesel, especialista no desenvolvimento de competências. “Percebo uma preocupação maior em relação ao meio ambiente. A geração Z tem mais consciência do seu papel na sociedade”, concorda Maurício Sampaio, coach de carreira.
3. Ciências naturais 3 /28(Thinkstock/DanComaniciu)
“Profissionais da área de ciências naturais podem trabalhar em escolas, ministrando disciplinas de ciências e meio ambiente ou ainda em planos e projetos de conscientização ambiental, elaboração de materiais didáticos e acadêmicos sobre o tema. “Se você pegar a grade curricular das escolas, já vai encontrar muita coisa sobre o tema de sustentabilidade e meio ambiente”, diz Maurício Sampaio.
4. Ecologia 4 /28(Thinkstock)
O crescimento urbano desordenado fez surgir grandes aglomerações urbanas que crescem mais com o passar dos anos. “Ainda não temos soluções para as questões ambientais das megacidades”, diz Eline Kullock. Por isso, preservação e recuperação de recursos naturais e criação de espaços verdes em centros urbanos são atividades que podem atrair mais atenção da geração Z.
5. Nutrição orgânica 5 /28(Susy Morris/Creative Commons)
A popularidade crescente de programas de TV comandados por figuras como Bela Gil provam que a alimentação saudável está na ordem do dia. “O jovem valoriza a sustentabilidade e traz isso para a mesa”, explica o professor e especialista em comunicação Dado Schneider. Assim, profissões ligadas à nutrição orgânica têm tudo para se tornar cada vez mais populares no futuro.
6. Engenharia agrícola e de pesca 6 /28(Thinkstock)
O crescimento populacional é uma realidade que vai demandar profissionais capacitados para o trabalho na produção de alimentos. O plantio e cultivo em regiões próximas às megacidades do futuro é uma atividade citada por Eline Kullock, especialista no estudo de gerações. “Com o trânsito caótico, o transporte de alimentos terá custo inviáveis”, afirma a especialista.
7. Engenharia hidráulica 7 /28(---D.Z---/Creative Commons)
A área é uma aposta do consultor Gilberto Wiesel. A geração Z já convive com a falta de recursos naturais, daí a maior consciência ambiental ser um ponto em comum entre esses jovens, como citam especialistas. Exploração, uso e gestão dos recursos hídricos são assuntos que ganham força com o passar dos anos e pedem soluções inovadoras e urgentes, o que pode atrair mais interesse para o campo de trabalho.
8. Oceanografia 8 /28(Getty Images)
O estudo de ambientes aquáticos também pode ser atrativo para uma geração preocupada com questões ambientais. A preservação da fauna e flora de oceanos, mares, rios, lagos e zonas costeiras e a análise da composição de suas águas é um trabalho que pode ganhar mais destaque dentro de alguns anos, segundo Gilberto Wiesel.
9. Biotecnologia e biossistemas 9 /28(Getty Images)
“Por serem multifuncionais, os jovens da geração Z têm uma rapidez fantástica para lidar com muitas coisas ao mesmo tempo”, diz Gilberto Wiesel. O caráter multidisciplinar de biotecnologia e biossistemas tem tudo a ver com isso. Com a possibilidade de atuar em diversos setores, como o agrícola e industrial, este profissional combina estudos de biologia, química, física, estatística e informática para desenvolver técnicas ou produtos nas áreas química, de saúde, de alimentos e ambiental.
10. Engenharia de energia 10 /28(Getty Images)
Se a produção de alimentos é desafio, sistemas de geração, transporte, transmissão e distribuição de energia (sobretudo limpa) também são. O trabalho com fontes renováveis como energia hidrelétrica, solar ou eólica se apresenta como caminho mais atraente. “O estudo de novas fontes de energia também é muito promissor e a geração Z deverá ter êxito nessa área”, diz Maurício Sampaio, orientador profissional.
11. Design de jogos 11 /28(Patrick T. Fallon/Bloomberg)
Criar e desenvolver jogos eletrônicos para as mais diferentes plataformas é uma aposta de atividade profissional atrativa para a geração Z, segundo Gilberto Wiesel. E a atividade vai muito além do entretenimento puro e simples. Se as escolas já se renderam aos jogos educativos, executivos, também há algum tempo, utilizam jogos não só nas salas de descompressão, mas também como
ferramenta de diagnóstico e melhora de desempenho profissional.
12. Empreendedorismo ou trabalho em startup 12 /28(Thinkstock/Patrick Ryan/Divulgação)
Assim como a Y, a geração Z tende a recusar modelos tradicionais de trabalho, afirma o professor Dado Schneider. Por isso, é natural que se interesse pela ideia de criar sua própria empresa. Outra possibilidade é atuar em startups. “Empresas que estão começando permitem que cada um participe bastante, dê sua cara para o negócio, o que faz brilhar os olhos do jovem”, explica Martina Zago, gerente da consultoria Randstad.
13. Desenvolvimento de software 13 /28(Natalie Behring/Bloomberg News)
“É uma área que tem sido bastante sedutora para uma geração que é fluente em tecnologia”, diz Eduardo Bahiensi, sócio- fundador da Controller Education, empresa especializada em desenvolver soluções tecnológicas para a melhoria da educação. Por lá, diz ele, 80% dos funcionários são jovens. O caráter empreendedor da geração Z, destacado pelo consultor Gilberto Wiesel, tem sido muito proveitoso para a empresa, segundo Bahiensi.
“Desenvolvemos um aplicativo (App to Class) que é gratuito e que permite compartilhamento de conteúdo entre professores e alunos, por ideia e iniciativa dos jovens da nossa equipe”, diz. Segundo ele, para colocar o projeto em prática foi criada uma espécie de startup que tem sido incubada dentro da própria Controller Education.
14. Tecnologia da informação 14 /28(Cbeck527 / Flickr)
"Queridinha" da geração Y, a área de TI é ainda mais atraente para a geração Z, nativa digital por excelência. “Por serem mais criativos, os jovens Z deverão procurar profissões que possam proporcionar o desenvolvimento e implementação de seus projetos”, diz o consultor Gilberto Wiesel, que destaca o forte senso de empreendedorismo presente nesse grupo.
15. E-learning 15 /28(Thinkstock/Don Bayley)
A educação à distância vem se desenvolvendo de forma mais consistente e é um nicho de mercado que deve atrair a geração Z, muito mais acostumada ao aprendizado em ambientes digitais. Desenvolvimento de plataformas e conteúdo para educação à distância é outra aposta do consultor Gilberto Wiesel.
16. Computação gráfica 16 /28(Alicja Stolarczyk / SXC)
Profissões que não exigem faculdade, apenas cursos técnicos têm tudo para cair nas graças da Geração Z, segundo Gilberto Wiesel. “Penso que a característica mais marcante dessa geração seja justamente essa impaciência que tem com o tempo. Querem tudo para ontem e em alta velocidade”, diz. Nesse contexto, o trabalho com computação gráfica para desenvolver projetos de animação, ilustração e vídeo surge como atrativo e com possibilidade de alcance mais rápido para os jovens profissionais.
17. Gestão de mídias sociais e marketing digital 17 /28(Peterras/Flickr/Flickr)
Segundo Martina Zago, gerente da consultoria Randstad, a geração Z "nasceu" conectada às mídias sociais. Por isso, conhece muito bem o poder de comunicação das redes - e como atingir pessoas por esses canais. O mesmo vale para a área de marketing digital: a familiaridade com campanhas publicitárias na internet e com a dinâmica do e-commerce é um diferencial competitivo evidente para os mais jovens.
18. Diplomacia digital 18 /28(Thinkstock/Tijana87/Divulgação)
A profissão ainda não existe, mas o professor Dado Schneider aposta que em breve ela fará parte do mercado de trabalho. “A geração Z é engajada, quer mudar o mundo, criar pontes, fazer política na internet”, diz ele. Na visão do especialista, o diplomata digital será uma espécie de especialista na mediação de conflitos em ambientes online.
19. Gestão de negócios com foco em relacionamento humano 19 /28(Thinkstock)
Para o orientador profissional, Maurício Sampaio, a gestão de negócios vai ficar cada vez mais focada nas relações humanas. Já Eline Kullock afirma que um tema que terá mais destaque em um futuro próximo está relacionado ao trabalho na modalidade de home office. “Com a questão da locomoção sendo crítica, como trabalhar e engajar funcionários à distância? São soluções que já estamos começando a explorar”, diz a especialista no estudo de gerações.
20. Direito digital 20 /28(Divulgação)
Exercida por poucos por enquanto, a área do direito que tem como foco normas, aplicações e relações jurídicas relacionadas ao meio digital é promissora e atraente para a geração Z, de acordo com Gilberto Wiesel. “Para desenvolver essa carreira, é preciso estar capacitado antecipadamente com algum curso na área de TI”, diz ele.
21. Consultoria 21 /28(Thinkstock/monkeybusinessimages/Thinkstock)
De acordo com o professor Dado Schneider, a carreira de consultor reúne elementos tipicamente atraentes para a geração Z. “É uma ocupação caracterizada pela mobilidade, que permite que o profissional circule, transite entre núcleos diferentes de pessoas”, explica. “É um trabalho para quem não gosta de ficar na cadeira do escritório o dia inteiro”.
22. Gestão da inovação 22 /28(Thinkstock/solidcolours)
O desejo de imprimir sua personalidade ao trabalho é um traço típico da geração Y - e também da Z. Consequentemente, diz Martina Zago, gerente da consultoria Randstad, carreiras ligadas ao desenvolvimento de novos produtos e serviços têm tudo para fisgar o jovem. “Esta geração quer fazer o que acredita ser o melhor, então pode se dar muito bem na área de inovação das empresas”, explica.
23. Web design 23 /28(Getty Images)
Esta é mais uma atividade com possibilidade de atuação profissional sem necessidade de longos anos de formação acadêmica e com forte diálogo com a característica empreendedora da nova geração. “O que os jovens querem desde muito cedo é gerenciar sua própria empresa, através de sites, blogs, Facebook, etc. Vão vender seus produtos e ideias com ferramentas que conhecem e que são “a sua praia”, diz Gilberto Wiesel.
24. Engenharia aeroespacial 24 /28(Getty Images)
A concepção e desenvolvimento de foguetes, veículos espaciais e satélites é desafiadora e estratégica e por isso pode ganhar mais destaque no futuro. “Também é uma profissão que tem tudo a ver com essa geração”, diz Gilberto Wiesel.
25. Nanotecnologia 25 /28(Divulgação)
Da medicina à computação, passando pelo agronegócio, a nanotecnologia é uma área de pesquisa e desenvolvimento que também dialoga com o futuro e com a geração Z, segundo o consultor Gilberto Wiesel.
26. Fisioterapia/ educação física (com foco na 3ª idade) 26 /28(Thinkstock/KatarzynaBialasiewicz)
O envelhecimento populacional é assunto com que a geração Z terá que lidar. A questão exigirá soluções que, naturalmente, vão demandar profissionais qualificados. Uma possibilidade citada por Eline Kullock é o maior interesse por carreiras na área de saúde voltada para a 3ª idade, como a fisioterapia.
27. Arquitetura (voltada para 3ª idade) 27 /28(Thinkstock/Feverpitched)
Além da questão de saúde, um nicho de mercado para arquitetos também pode ganhar mais destaque no futuro, também por conta do envelhecimento populacional. “Será preciso pensar cada vez mais em como as megacidades vão conviver com os mais velhos, em relação a equipamentos, casas, para permitir que esta população tenha mais atividades”, diz Eline Kullock.
28. Sonha em trabalhar no Facebook? 28 /28(Dado Ruvic/Reuters)