Maurício de Sousa: (Gustavo Scatena)
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2015 às 11h16.
Quando criança, Mauricio de Sousa já desenhava e rabiscava em seus cadernos escolares. Cresceu em Mogi das Cruzes, embora tenha nascido em Santa Isabel – ambas no estado de São Paulo. "Nasci numa família em que todo mundo desenhava. Eu era apenas mais um. A novidade foi que eu aprendi a ler com gibi, muito antes de entrar na escola. E isso me fascinou bastante. Toda criança desenha, essa é a nossa primeira forma de comunicação. Só que eu não parei", diz ele, em bate-papo com o Na Prática.
Em sua adolescência, seus traços já ilustravam cartazes e pôsteres dos comerciantes da cidade. Mauricio também colaborava com alguns jornais locais como desenhista, até os 19 anos – quando seu pai precisou se mudar para São Paulo e levou junto a família. "Achei que poderia fazer a mesma coisa que fazia em Mogi na capital. Então, quando cheguei, fui até a Folha (então Jornal Folha da Manhã, atual Folha de S.Paulo), procurei o chefe de arte e mostrei meus desenhos a ele. Ele olhou para o material e disse: 'Garoto, faz outra coisa da vida, desenho não dá futuro, não dá dinheiro, seja feliz'. Mas a partir daquilo eu não era mais feliz, caiu o mundo para mim. Nunca tinha recebido um 'não' tão categórico", conta.
Apesar na negativa, Mauricio foi chamado para ser revisor de textos do jornal, até que se candidatou para uma vaga de repórter policial. "Minha formação foi através da leitura. Eu lia um livro por dia, era viciado em ler. E isso me ajudou na carreira de jornalista policial e também na hora de escrever os quadrinhos. Aprendi com os grandes mestres da literatura ideias, técnica e estilo para desenvolver personagens e histórias", afirma.
Nesse período, criou seu primeiro personagem, o cãozinho Bidu, passando a publicar semanalmente uma série de tiras em quadrinhos no jornal. Também planejou tudo o que viria depois disso. "Ainda na redação, fui aprendendo como os americanos faziam produção, distribuição, tradução, cobrança, marketing e como planejavam a redistribuição de quadrinhos. Logo comecei a redistribuir o que era publicado na Folha em outros jornais. Quatro anos depois, já estava em 300 jornais do Brasil. Aí ninguém me segurava mais."
Mais tarde, Mauricio publicou seus primeiros tablóides e criou novos personagens: Cebolinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho, Horácio, Raposão, Astronauta, entre outros. Em 1970, lançou a revista da Mônica, com tiragem de 200 mil exemplares, pela Editora Abril. Anos depois, levou as revistas para a Editora Globo, até que fundou a Mauricio de Sousa Produções (MSP) e assinou contrato com a Panini - responsável pelas suas publicações.
Nos últimos anos, Mauricio expandiu seu universo para diversos públicos. Um de seus mais recentes sucessos é a revista Turma da Mônica Jovem, na qual os personagens estão com cerca de 15 anos de idade. Sua tiragem supera 500 mil exemplares mensais. Também lançou o Graphics MSP, nas quais autores convidados reinterpretam seus clássicos personagens em seus próprios estilos, e o Mônica Toy, que aposta nos traços 2D, no estilo toyart, e em animações sem diálogos e bem-humoradas.
A tecnologia também influenciou a própria forma de desenhar e criar as histórias. "O trabalho que se fazia em uma semana hoje pode ser feito no tablet em um dia – com qualidade e capricho. Ainda tenho funcionários ainda nos velhos sistemas, e eu necessito deles para alguns trabalhos, e outros que usam a máquina maravilhosamente. Eu fico olhando e penso: 'Ah, se eu tivesse isso na minha época. Não precisaria ter varado tantas noites'."
Hoje, as criações de Mauricio chegam a cerca de 30 países. No Brasil, suas revistas respondem por 86% das vendas do mercado: autor já alcançou o número de 1 bilhão de revistas publicadas. Aos quadrinhos, se juntam centenas de livros ilustrados, revistas de atividades, álbuns de figurinhas, DVDs, livros tridimensionais e até livros em braile, além de produtos licenciados.
Seu recado ao jovem que também gosta de desenhar mas não sabe se deve seguir carreira como desenhista? "Você tem que fazer o que gosta, ser apaixonado por aquilo e saber fazer bem. Mas não adianta nada o artista fazer algo para si próprio, para guardar na gaveta. Quem manda é o público."
Confira os vídeos:
Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal de carreira da Fundação Estudar