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Maridos, maridos, negócios à parte

Rosana vai aos eventos do banco com o marido a tiracolo. Por que faz isso, se são reuniões restritas aos clientes?

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.

Germano é gerente de um banco na área de relações com o mercado. Uma de suas principais atribuições é organizar reuniões para o público externo e interno. Essas reuniões são restritas às pessoas convidadas. A produção desses eventos fica a cargo de Rosana, supervisora de relações públicas. Competente, 34 anos, Rosana sempre desempenha suas tarefas com facilidade e capricho.

Pouco tempo atrás, Rosana se casou. E passou a comparecer a todos os encontros que coordena acompanhada pelo marido. Esses eventos são descontraídos. Reúnem os clientes da empresa, que costumam levar suas mulheres, e também o corpo de diretores e gerentes do banco. Rosana não é a única da equipe que comparece a esses acontecimentos, já que se trata de reuniões de trabalho. Mas é a única que leva o marido. O homem até que é discreto. A questão é que ele se comporta como um dos convidados.

Por mais de uma vez, os colegas de Germano lhe perguntaram sobre a presença de estranhos num evento restrito. Ele desconversou. Mas não consegue entender por que Rosana, conhecendo bem a empresa em que trabalha, ainda não percebeu que está criando um pro-blema ao ser tratada como exceção. Como dizer a ela que não leve o marido nos eventos?

Aparentemente, Rosana não assimilou totalmente os objetivos e expectativas das reuniões que promove. Apesar de coordenar eventos que se caracterizam como reuniões sociais, descontraídas e agradáveis, ela esqueceu que a sua finalidade ali é estreitar os vínculos entre o banco e seus clientes.

Na condição de representante do banco, Rosana é diretamente responsável pelo êxito desses encontros. Em outras palavras, deve estar inteiramente concentrada na organização do evento e no bem-estar de seus participantes. A presença de seu marido pode desviar o foco de atenção e impedir que ela se dedique integralmente à sua responsabilidade primária, ou seja, assegurar o sucesso desses contatos com os clientes.

Considerando a experiência e a competência profissional de Rosana, acho que Germano tem pela frente um problema de fácil solução. Ele deve discutir o assunto, esclarecendo o objetivo dos encontros e a responsabilidade dela na condução dos mesmos. Isso será suficiente para mostrar a Rosana a inconveniência de ir acompanhada. O que chama a atenção, entretanto, é a dificuldade de Germano em corrigir uma situação que está comprometendo os resultados de seu trabalho. Ora, até os colegas já lhe chamaram a atenção para o problema!

Germano deve se perguntar por que hesita em tomar uma atitude. Pode ser que não esteja seguro de ter definido claramente os limites da atuação de Rosana e agora se sinta responsável pelo fato de ela não agir exatamente como o esperado. Se esse for o caso, ele deve mostrar a Rosana a importância desses encontros com os clientes para a estratégia comercial do banco e o papel deles nesse processo. Deve também deixar claro as implicações da companhia do marido.

Mas é possível que o próprio Germano não veja claramente os limites entre os aspectos social e profissional desses encontros. De fato, as reuniões podem ser ao mesmo tempo agradáveis (pelo convívio social) e produtivas (pela oportunidade comercial). Entretanto, a atuação de Germano e Rosana deve estar nitidamente orientada para os resultados comerciais.

Germano pode estar relutante em discutir o problema com receio de que Rosana leve o assunto para o lado pessoal. Isso pode comprometer o relacionamento entre ambos e a qualidade de seu trabalho no futuro. Se for essa a razão, ele provavelmente está subestimando a capacidade da colega para tratar de forma objetiva os problemas no trabalho. Germano precisa acreditar mais na maturidade profissional de Rosana e ser, ele mesmo, maduro o suficiente para dar a ela a oportunidade de encontrar maneiras mais eficazes de desenvolver suas responsabilidades.

Rosa Maria Paulino é formada em relações públicas e diretora de recursos humanos do McDonald s Brasil

Obviamente, trata-se de um exemplo típico de falta de comunicação empresarial. Esse problema não é um privilégio apenas do banco em que Germano trabalha. Ele está presente na maioria das organizações. As empresas em geral se comunicam pouco e inadequadamente com seus colaboradores. Assim, seus talentos desperdiçam um tempo precioso e, claro, podem comprometer a eficiência dos resultados. A ausência de uma atitude estratégica de comunicação do gerente Germano contribui para que Rosana se exponha - e também ao marido - a uma situação desconfortável. Germano deve simplesmente comunicar, de maneira aberta e clara, que o procedimento de Rosana não está em conformidade com os objetivos dos eventos.

Por outro lado, o episódio nos remete a outra reflexão: "mulher, casamento e trabalho". Não estaria o marido de Rosana invadindo sua privacidade? Forçando a barra? Cerceando sua liberdade? Será que não percebe que sua atitude em nada ajuda? Ele deveria respeitar o trabalho da mulher, deixando-a à vontade, não misturando casamento com trabalho. É claro que Rosana chegou a uma posição importante no banco por meio de sua capacidade profissional. Basta agora focar-se adequadamente no cargo.

Odair Montanaro Gazzetta é gestor corporativo de recursos humanos da Electrolux do Brasil

Cada vez mais o mundo dos negócios necessita de pessoas capazes de construir organizações saudáveis e criativas. Ou seja, as empresas precisam de funcionários que busquem permanentemente o autoconhecimento, o autodesenvolvimento, a comunicação genuína, a informação clara, simples e direta. Não há mais tempo ou espaço para desperdícios de recursos e talentos humanos. As pessoas precisam desenvolver a coragem de pensar e agir de forma independente. Só assim serão capazes de encontrar caminhos inovadores e criativos. O fácil não é a nossa meta!

É nesse contexto que a decisão sobre a presença ou não do marido de Rosana nos eventos deveria ser tomada. Germano, como responsável pela área de relações com o mercado, não pode abdicar do papel de líder na relação com seus clientes. O melhor a fazer é levar a discussão para o seu grupo de trabalho. O ideal é ajudar Rosana a perceber o melhor caminho para todos. O grupo precisa falar e ouvir com o coração, ter o desprendimento da crítica e do julgamento. Só assim Germano, Rosana e seus colegas poderão compartilhar o problema e a solução. Dessa forma, qualquer que seja a decisão tomada, deixará o grupo mais fortalecido e solidário.

Rugenia Maria Pomi, socióloga, educadora e psicodramista, é diretora do Saratoga Institute Brasil

O que faz uma relações públicas, competente, despachada, caprichosa, experiente e madura, como Rosana, levar o marido a tiracolo? Vontade de exibi-lo? De se exibir para ele ou para algum ex-namorado? Desejo de ficar acima do pessoal de sua equipe? Ou alguma intuição de que a presença dele melhora as reuniões?

Gostaria de entender melhor o comportamento de Rosana antes de lhe dizer que não levasse o marido aos eventos, se fosse o caso. Conversaria com ela individualmente, de modo descontraído e aberto, dando liberdade e tempo para suas explicações. Estaria disposto a sair convencido, se ela tivesse uma boa razão para essa atitude. E nesse caso procuraria reorganizar o formato das reuniões, junto com as demais pessoas da equipe.

De outro modo, não estando convencido, diria de forma clara que a presença de seu marido está fora do contexto, é contraproducente e contrária às expectativas dos clientes e colegas.

De uma forma ou de outra, faria com clareza, tempo e calma. Afinal, até as mais impessoais organizações dão licença para a eventual bobeira que acomete os apaixonados, como já disse alguém.

Antonio Cortese é sócio-gerente da TEC An International Organization of CEOs

Os personagens e o enredo desta seção são fictícios. Mas os especialistas chamados a dar sua opinião são genuinamente de carne e osso. Caso você tenha uma história a contar, entre em contato conosco pelo e-mail: avidacomoelae@email.abril.com.br

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