Executiva: números indicam que os bancos estão se tornando um dos últimos baluartes da discriminação sexual nos países nórdicos (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2014 às 21h57.
Copenhague - A região nórdica se orgulha de ter a menor brecha de gênero do mundo. Mas basta entrar em um banco para que a brecha aumente, e muito.
As mulheres que trabalham nos setores bancário e de seguros da Suécia, da Noruega, da Dinamarca, da Finlândia e da Islândia ganham quase um terço a menos do que um homem no mesmo cargo.
Em nenhum outro setor – dos fabricantes de medicamentos da Dinamarca aos produtores de petróleo da Noruega – a discrepância é tão grande, de acordo com dados da Comissão Europeia.
“É uma batalha difícil”, disse Laila Busted, que dirigiu o departamento de igualdade de gênero na Confederação Dinamarquesa de Sindicatos durante oito anos até abril, em entrevista.
“Até as mulheres pensam: ‘Discriminação? Aqui na Dinamarca, não. Temos oportunidades iguais”.
Os números indicam que os bancos estão se tornando um dos últimos baluartes desse tipo de discriminação sexual, há muito abandonado em outras áreas.
Embora os dados do Fórum Econômico Mundial mostrem que a cultura voltada para a igualdade em educação, saúde e política da região nórdica tenha resultado nas menores brechas de gênero do mundo, o setor financeiro continua até agora teimando em permanecer imune ao desenvolvimento.
De acordo com Pia Andreasen, vice-presidente sênior de recursos humanos do Danske Bank A/S, com sede em Copenhagen, os dados salariais refletem distintos níveis de experiência, não o gênero.
Conclusão justa?
“Fatores compensáveis, como nível do cargo, anos de experiência, localização e nível acadêmico”, devem ser analisados, disse Andreasen em uma entrevista. “Então, não é tão fácil assim fazer esse tipo de comparação e tirar uma conclusão justa”.
A brecha salarial entre os funcionários de bancos nos países nórdicos é mais estreita na Dinamarca, onde as mulheres ganham em média 22 por cento menos do que os homens, e mais ampla na Finlândia, onde a diferença é de 35 por cento, de acordo com cifras não ajustadas que foram compiladas pela secretaria de estatísticas da Comissão Europeia.
As bancárias suecas ganham 31 por cento a menos, ao passo que as norueguesas recebem apenas 70 por cento do que seus colegas homens ganham. Na Islândia, a brecha salarial é de 34 por cento, de acordo com os dados, que incluem o setor de seguros.
Glorificar a Suécia
“É possível que haja algumas explicações muito boas para as diferenças salariais e outras muito ruins”, disse Mariane Dissing, diretora administrativa da Associação de Funcionários Dinamarqueses do Setor Financeiro, em entrevista.
A discriminação pelo gênero “é ilegal e não faz sentido”.
Annika Falkengren, CEO do SEB AB, banco com sede em Estocolmo, disse que a Suécia precisa se esforçar mais em levar a igualdade de gênero à esfera corporativa. Em uma entrevista em dezembro, ela advertiu sobre os riscos de “glorificar” a Suécia, porque ainda há “muito poucas mulheres nos cargos mais altos”.
As empresas que confiam menos nas mulheres para os cargos administrativos podem ter menos chances de atingir os mesmos níveis daquelas que tratam do mesmo modo ambos os gêneros.
As companhias com mais mulheres em cargos seniores ganham mais e pagam mais aos investidores, de acordo com uma pesquisa realizada em setembro pelo Instituto de Pesquisa CreditSuisse.
Contudo, para as mulheres do setor bancário, um cargo mais alto não garante um salário maior.
Imitar os homens
As finlandesas em cargos administrativos ganham em média 40 por cento menos do que os finlandeses, de acordo com as cifras da secretaria de estatísticas da Finlândia.
Na Dinamarca, as gestoras ganham 79 por cento do salário recebido pelos homens nesse cargo, conforme a secretaria de estatísticas dinamarquesa.
Falar sobre o salário é um “tabu” e muitas vezes as mulheres não imaginam que estão sendo discriminadas, de acordo com Kenn Warming, um dos autores de um relatório sobre brechas salariais entre gêneros publicado pelo Instituto Dinamarquês de Direitos Humanos.
As mulheres são as primeiras a perder o emprego quando as empresas fazem cortes.
Nos dez anos até 2013, os bancos suecos empregaram 1,5 por cento mais homens, embora a quantidade de funcionárias mulheres no setor tivesse diminuído 15 por cento, de acordo com dados compilados pelos empregadores.
De acordo com Cristina Lage, que administra ativos de cerca de 100 bilhões de coroas (US$ 16,7 bilhões) como CEO da Unipension I/S, a brecha salarial poderia se fechar se as mulheres fizessem como os homens.
“Se as mulheres exigissem tanto quanto os homens, eu não vejo nenhuma questão estrutural que proíba a igualdade salarial”, disse ela.