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É possível poupar sem sacrificar o que você gosta. Veja como

As boas práticas para a gestão do dinheiro foram revisitadas e atualizadas.Saiba como administrar sua grana de forma mais eficiente — sem sacrificar o que gosta

Especialistas afirmam: é possível poupar sem sacrifícios (Alexandre Jubran)

Especialistas afirmam: é possível poupar sem sacrifícios (Alexandre Jubran)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2015 às 05h12.

O mundo das finanças pessoais passa por uma revisão de suas premissas. Até pouco tempo atrás, os especialistas recomendavam poupar desde o início da vida profissional, economizar mais à medida que o salário aumentasse e investir durante décadas até o fim da carreira. O objetivo — e a recompensa — desse esforço seria uma vida tranquila após a aposentadoria.

A mensagem dessa receita para acumular dinheiro é clara: sacrifique o presente para colher benefícios econômicos no futuro, como a formiga da antiga fábula. Agora os contestadores dessa fórmula estão se multiplicando. “Poucos seguiam esse planejamento e, quando o faziam, a sensação era de frustração, pois o dinheiro nem sempre pagava o estilo de vida da pessoa na maturidade”, diz Gustavo Cerbasi, autor de 14 livros sobre o tema.

Para ele e outros consultores financeiros ouvidos nesta reportagem, é preciso incluir alguma satisfação no presente para que a pessoa se sinta estimulada a economizar para o futuro. A questão, cuja resposta está nas próximas páginas, é como curtir a vida de maneira equilibrada e ainda fazer um colchão financeiro. Dica: existem estratégias diferentes para diferentes fases da vida.

O novo jeito de planejar considera informações antes ignoradas. Por exemplo, os gastos no início da vida adulta hoje são maiores do que no passado. Há maior necessidade de investimento na carreira para conseguir um salário melhor. O lazer ficou caro.

Ao longo da vida, os custos de moradia, educação e saúde comem uma fatia maior do orçamento. “É impraticável imaginar que a família pode aumentar seu esforço de poupança”, diz Mário Amigo, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), de São Paulo.

A revisão das práticas de finanças pessoais é influenciada pelas ideias dos israelenses Daniel Kahneman e Dan Ariely, pesquisadores da chamada economia comportamental, que se apoia na psicologia para estudar como as pessoas agem e reagem diante de decisões financeiras.

É de Kahneman, Nobel de Economia de 2002, a afirmação de que, com uma remuneração anual de 75 000 dólares, qualquer pessoa pode ser feliz e que rendas superiores não proporcionam mais alegria. Dan Ariely acha que planejamento financeiro é uma ilusão. “As pessoas priorizam o bem-estar imediato”, disse Ariely à VOCÊ S/A.

Em 12 anos pesquisando e escrevendo sobre finanças pessoais, o paulista Gustavo Cerbasi, de 40 anos, fez fama no assunto. Publicou 14 livros, que já venderam 1,7 milhão de exemplares. Um deles serviu de base para o roteiro do filme Até Que a Sorte Nos Separe (2012).

Em setembro, Cerbasi lançou Adeus, Aposentadoria (Sextante), que, segundo ele, fecha um ciclo iniciado em 2004 com Casais Inteligentes Enriquecem Juntos. O novo livro revisa as orientações financeiras das obras anteriores, reconhecendo que elas perderam eficácia. “A fórmula não funciona mais”, diz Cerbasi.

O que fazer, então? A VOCÊ S/A debateu com oito especialistas dez estratégias que, segundo Cerbasi, precisam ser reavaliadas à luz do momento econômico do país e de novas aspirações dos profissionais.

1 - Poupe mais, com ganho real

Nem sempre o hábito de poupar mais vai garantir reservas maiores no futuro. “Pode ser um esforço ilusório se você não for capaz de blindar seus ganhos contra o efeito corrosivo da inflação”, afirma Gustavo Cerbasi.

A estratégia é tão ineficaz quanto deixar de guardar um montante todo mês, ainda mais em um cenário desfavorável, de juros altos (11,25%) e inflação elevada (6,5% ao ano). “O rendimento da aplicação precisa ser descontado pela inflação, o que possibilita enxergar o ganho real”, diz o economista Richard Rytenband.

Na prática, o que você está fazendo é preservar o poder de compra. Para o dinheiro render mais, acompanhe os principais índices que medem a inflação, como IGP-M e IPCA, e revise suas aplicações semestralmente, de olho em flutuações do mercado e em modificações na legislação dos produtos financeiros.

Fazer esse acompanhamento dá trabalho. “É preciso pesquisar no mercado as opções oferecidas”, afirma Livia Mansur, estrategista da XP Investimentos.

2- Economize por mais tempo

A principal vantagem de poupar por mais tempo é se beneficiar dos juros compostos — que têm efeito multiplicador sobre seu dinheiro. No entanto, o esforço de estender o período de poupança, segundo Cerbasi, pode comprometer seriamente a qualidade de vida, a ponto de fazer com que o investidor abandone a estratégia ou viva uma vida infeliz. “Ao postergar o tempo de carreira para aumentar as economias, é preciso considerar seu desgaste. Se você tiver um trabalho adicional que dê prazer, gere receita e possibilite manter a conta mensal no azul, faz sentido aumentar o período produtivo”, diz Mario Amigo, professor de finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). 

Para o economista Richard Rytenband, a estratégia mais eficiente para fazer o dinheiro render é “criar novas fontes de renda”. Uma alternativa para isso é empreender um novo negócio. Importante: avaliar seriamente o risco do empreendimento e sua real vontade de tocá-lo.

3 - Seja ponderado no início

Se um tempo maior de poupança nos permite alcançar condições financeiras melhores no longo prazo, nada seria mais sensato do que guardar dinheiro desde o início da carreira”, afirma o consultor Gustavo Cerbasi.

A grande dificuldade é ter uma reserva no fim do mês, quando o salário está baixo — situação muito comum. Além disso, quando se é jovem, a vontade de comprar para criar uma sensação de status, comum no início da carreira, atrapalha a poupança.

A sedução do consumo, estimulado pelo reconhecimento social, joga contra o jovem investidor. Resultado: no início da carreira, há pouco incentivo para investir.

Para Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas, aplicar uma parcela do salário desde cedo pode ser uma estratégia bem-sucedida quando observamos a multiplicação proporcionada pelos juros compostos.

Porém, não adianta guardar bastante dinheiro e não descansar nem ter lazer, segundo Mario Amigo, professor de finanças da Fipecafi. “É preciso achar um ponto de equilíbrio, do contrário não há motivação para investir.”

Para o planejador financeiro Leonardo Gomes, aplicar o dinheiro desde cedo fará com que o tempo fique a seu favor. “Mas é preciso ter disciplina, pois desviar da rota pode significar abandonar o investimento e sucumbir ao consumo”, afirma Gomes. Se estiver colocando parte do salário em um plano de previdência corporativo, por exemplo, evite a tentação de sacar o dinheiro para trocar de carro

4 - Aposte na previdência corporativa

Os planos de previdência patrocinados exigem alguns cuidados. “É fundamental analisar o desempenho do fundo, a política de investimentos, os custos e as regras para resgate e portabilidade”, diz Alfredo Cunha, gestor de investimentos.

Essa análise deve ser feita desde o início, durante o período de formação de reserva. “O erro mais comum é desligar-se da empresa e resgatar o valor aplicado no plano de previdência, que é muito inferior ao valor acumulado”, afirma Alfredo.

Em caso de resgate, analise o desempenho do plano e, se não estiver satisfeito com o resultado, avalie fazer a portabilidade para outra seguradora.

O especialista em previdência Marcelo Rea, da ForLife Consultoria, lembra que muitos planos apresentam a seguinte regra de retenção: quanto mais tempo o profissional permanece na empresa, maior é a possibilidade de ficar com os recursos investidos. “Se for trocar de empresa, vale a pena avaliar se o novo empregador também oferece o benefício”, diz Marcelo. 

5 - Invista na previdência privada

Se sua empresa não oferece um plano corporativo de aposentadoria, invista na previdência privada. “Saiba, porém, que esses planos estão sujeitos às consequências do achatamento de ganhos no mercado financeiro — servem de complemento para a renda, mas dificilmente serão suficientes”, afirma Cerbasi. “Existem outras formas que podem ser mais rentáveis e fáceis de planejar”, diz o planejador financeiro Leonardo Gomes.

Antes de contratar, segundo Alfredo Cunha, gestor de investimentos, avalie o custo das taxas de administração, de carregamento, da tábua de mortalidade, dos juros na concessão da aposentadoria, da política de investimentos, além das regras para resgate ou portabilidade do plano.

Tendo isso em vista, os planos privados aparecem como uma boa opção para fazer seu dinheiro render, pois você tem benefícios fiscais muito interessantes. Informe-se com o gerente de seu banco e compare com os produtos de bancos concorrentes.

6 - Aumente todos os riscos

Ações e outros investimentos de renda variável são uma opção para quem deseja obter retornos maiores em suas aplicações. Trata-se, contudo, de ativos em que o risco de perdas também é maior.

O senso comum entre planejadores financeiros diz que só deve assumir risco quem tem disposição para acompanhar o desempenho da bolsa diariamente.

Do contrário, é melhor aplicar em renda fixa (veja reportagem “Na Dúvida, Fique com o CDI”). Para Lívia Mansur, estrategista da corretora XP Investimentos, quem planeja se aposentar daqui a 30 anos pode optar por ativos mais arriscados.

Segundo ela, o risco diminui quando o prazo do investimento se alonga. “E, conforme chegar à aposentadoria, a pessoa pode reduzir a volatilidade”, diz Lívia, que ressalva: não dá para medir o risco apenas pela oscilação de um papel.

Existem diferentes riscos: de crédito (no caso de títulos de dívida); de mercado (ações na bolsa); ou de moeda (aplicações em dólar). “Às vezes, um produto tem mais de um fator de risco, e isso precisa ser observado”, diz Lívia.

7 - Trabalhe para sempre

Muitos profissionais não se preparam adequadamente para a aposentadoria por acreditar que o desempenho não vai cair com o avanço da idade.

O raciocínio é básico: enquanto o dinheiro estiver entrando no caixa, não há motivo de preo­cupação. “Gosto do que faço. Não penso em parar.” Essa é a desculpa que muitos arranjam para negligenciar os cuidados necessários com o futuro.

Para Gustavo Cerbasi, trata-se de um equívoco comum de organização financeira, pois uma hora a pessoa vai se cansar e sentir vontade de parar. “Racionalmente, trabalhar até os últimos momentos da vida pode ser um argumento aceitável. Mas, emocionalmente, não é”, diz Cerbasi.

O contraponto a esse raciocínio é que trabalhar até uma idade mais avançada não é de todo ruim. Primeiro, porque as pessoas estão vivendo mais e com mais saúde, de maneira que mais profissionais se sentirão produtivos quando atingir a maturidade.

Segundo, porque manter o fluxo de receita é financeiramente imbatível em relação às demais alternativas, que consideram a interrupção da remuneração no momento da aposentadoria. “Continuar trabalhando faz todo o sentido”, diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do Santander.

O risco é que não se sabe quando o cansaço vai bater — algo que varia de pessoa para pessoa. E, para os que chegarem bem à velhice, o desafio será manter o interesse pelo trabalho diante da vontade de curtir a família e os amigos. 

8 - Crie alternativas de renda

Hoje é comum encontrar pessoas que mantêm dois caminhos profissionais ao mesmo tempo. Enquanto conservam a estabilidade em um emprego, no outro aumentam a renda ou desenvolvem um plano B.

O risco dessa estratégia, segundo Gustavo Cerbasi, é perder desempenho na carreira principal e não construir nada de relevante para o futuro por falta de foco.

Mas há quem defenda a opção pela dupla atividade. “Ela diversifica as fontes de renda”, diz o estrategista de investimentos pessoais do Santander, Aquiles Mosca, que cita como exemplo Steve Jobs, que concebeu a Apple enquanto estava empregado.“É uma estratégia interessante, que às vezes começa com um hobby.” 

9- Invista em imóveis, se quiser

Comprar imóveis como investimento é, em geral, considerado um jeito antiquado de fazer o patrimônio crescer. A falta de liquidez é um dos principais problemas.

Outra desvantagem é a desvalorização causada pela degradação da obra ou por mudanças no mercado imobiliário. Apesar de ser a ideia vigente entre planejadores financeiros, casos de gente que vê a própria casa valorizar mantêm a ideia de que esse tipo de investimento pode trazer bom retorno.

Para Samy Dana, da FGV, os imóveis podem ser, sim, bons negócios, desde que se ignorem as promessas irreais de corretores. E que se acompanhe a oscilação de preços. “A cada seis meses, pelo menos, é importante avaliar se houve mudanças na região ou se é necessário renovar o contrato de aluguel”, diz o economista Luiz Calado, autor do livro Imóveis (Editora Saraiva).

10 - Use o crédito a seu favor

A mensagem básica é: fuja das dívidas. Na visão de Gustavo Cerbasi, o crédito deve ser usado em duas situações: para financiar algo que ajude a gerar mais riqueza (educação, por exemplo) ou para corrigir falhas no planejamento de longo prazo, desde que sejam empréstimos esporádicos e que o pagamento de juros não interfira em planos mais valiosos.

Devemos evitar crédito sempre? Talvez não. Quando os juros são baixos, um empréstimo pode valer a pena para adquirir um bem. “O que não pode é usar sem responsabilidade”, diz Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi.

É fundamental calcular o custo efetivo total para sentir o peso dos juros embutidos e dos encargos financeiros. “Quanto menor o custo, melhor”, diz Samy Dana, da FGV. Antes de tomar crédito, negocie com o gerente e compare as taxas em diferentes bancos.

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