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Em carta, CEO do Airbnb ensina que existe jeito certo de fazer demissões

Impactada pela pandemia do coronavírus, a startup vai demitir cerca de 1.900 funcionários, um corte de 25% no seu quadro

Brian Chesky, CEO 
e co-fundador do Airbnb (Michael Nagle/Bloomberg)

Brian Chesky, CEO e co-fundador do Airbnb (Michael Nagle/Bloomberg)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 7 de maio de 2020 às 10h00.

Última atualização em 7 de maio de 2020 às 15h48.

“Hoje, eu preciso confirmar que estamos reduzindo o quadro do Airbnb. Eu vou compartilhar todos os detalhes que puder sobre como eu cheguei a essa decisão, o que estamos fazendo para aqueles saindo, e o que acontecerá agora”, escreveu o CEO e co-fundador do Airbnb, Brian Chesky, em carta aberta para a equipe na terça-feira, dia 5, sobre o corte de 25% no quadro de funcionários.

A startup de aluguel de quartos e imóveis foi fortemente impactado pela pandemia do novo coronavírus e seus efeitos nas viagens e no turismo. Segundo Chesky, a empresa foi forçada a se reestruturar, deixando de investir nas áreas de transporte e imóveis de luxo. No processo, serão cerca de 1.900 profissionais demitidos.

Entre as muitas decisões difíceis durante crises, a demissão é uma que poucas lideranças aprendem a fazer de uma boa maneira.

“É muito comum no mercado de trabalho ver pessoas que sabem fazer as coisas mais mirabolantes, mas não sabem fazer uma demissão”, conta José Augusto Figueiredo, presidente no Brasil da Consultoria LHH. “Apesar da notícia ser ruim, tem que ser feita da forma correta”.

Em sua própria carreira, o executivo já ensinou muitos líderes a se preparar para encaminhar da melhor forma uma conversa de desligamento. Para ele, é difícil encontrar um CEO que entre no nível de detalhe que Brian Chesky revelou.

O especialista destaque três características importantes para refletir e se inspirar no CEO do Airbnb: transparência, coragem e vulnerabilidade.

O CEO revela com muitos detalhes todo o processo para tomar a decisão e assume que não tem as respostas sobre essa crise: “Nós enfrentamos duas difíceis verdades: não sabemos quando o turismo vai voltar; quando o turismo voltar, ele vai ser diferente”.

Então, ele fala do plano para garantir que os desligados tenham atendimento individualizado e recebam o máximo de assistência.

Entre as medidas, o Airbnb vai manter os planos de saúde, tirar o tempo mínimo para participação nas ações, oferecer ajuda na recolocação no mercado e deixá-los ficar com os notebooks de trabalho.

Segundo Figueiredo, esses são “benefícios” comuns entre empresas que optam por serviços de outplacement. A carta descreve alguns pontos que o especialista aponta como essenciais na hora de comunicar uma demissão, como garantir que a conversa seja individualizada, que os benefícios e direitos fiquem claros e, o mais importante, que as razões por trás da redundância de sua função.

De início, Chesky deixa claro que a decisão não é um reflexo do trabalho das pessoas e finaliza a carta agradecendo aos demitidos:

“Eu realmente sinto muito. Por favor, saiba que não é sua culpa. O mundo nunca vai parar de procurar por qualidades e talentos que você trouxe para o Airbnb... que ajudaram a fazer o Airbnb. Eu quero agradecê-lo, do fundo do meu coração, por dividi-los conosco”.

Além do cuidado com o colaborador desligado, a pessoa que faz a demissão precisa estar atenta a quem fica para manter um bom clima interno e não perder a confiança da equipe. Afinal, até aquele ponto estavam todos trabalhando juntos.

“Uma vez, após uma reestruturação, um CEO me contou que reuniu a equipe e falou que quem tinha que ir, já foi, e, os que ficaram eram sobreviventes que iriam construir a nova realidade da empresa. E todos ficaram olhando para ele com cara feia. E ele não entendeu o que aconteceu”, conta Figueiredo. “E não entendeu mesmo. Aquelas pessoas que se foram eram amigas e colegas das que ficaram, não significa que eram piores”.

Em sua carta, o CEO do Airbnb reconhece esse aspecto: “O resultado é que vamos nos despedir de colegas que amamos e valorizamos. Temos grandes pessoas deixando o Airbnb, e outras empresas terão a sorte de tê-los”.

Por último, uma demissão feita com a delicadeza devida deixa a porta aberta para o retorno daquele talento quando o negócio voltar a crescer.

Da forma como a situação foi conduzida, o CEO honra a história do funcionário na empresa, os valores da companhia e a reputação do negócio para seus clientes.

O presidente da LHH no Brasil fala que se preocupa em como será o pós-pandemia no país. Ele acredita que o momento de reestruturações ainda virá, mesmo com o programa do governo para manutenção do emprego com a MP 936.

“As nossas lideranças não foram preparadas para agir dessa forma. Para muitos, quem está fora, está fora. Quem está dentro, é vencedor”, diz. “É preciso ter uma maneira para falar com as pessoas nas transformações ruins de um jeito que ainda possa reter talentos no futuro”

Para ele, a carta do CEO não destrói a cultura que foi construída ao longo dos anos na empresa e ainda reforça a relação de confiança com todos, colaboradores e clientes.

Nas palavras de Chesky: “Nossa missão não é meramente sobre viajar. Quando começamos o Airbnb, nosso slogan era ‘Viaje como um humano’. A parte humana era sempre mais importante que a parte da viagem. Nós temos como razão o pertencimento, e no centro de pertencer está o amor”.

Leia aqui a carta na íntegra.

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