Além do desempenho irregular e abaixo do esperado, o Gaúcho também não rendeu tanto quanto se esperava no quesito marketing (Tullio M. Puglia/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2012 às 17h02.
Não é de hoje que os rumores sobre a possível saída de Ronaldinho Gaúcho do Flamengo dominam as mesas de bar do Rio de Janeiro. A posição oficial do craque e de seu staff é sempre a mesma: Ronaldinho quer cumprir o contrato até o fim. Pouca gente acredita, porém, que ele fique na Gávea até 2014, quando se encerra seu compromisso com o clube.
Além do desempenho irregular e abaixo do esperado, o Gaúcho também não rendeu tanto quanto se esperava no quesito marketing - o clube mais popular do país esperava faturar muito com contratos de patrocínio obtidos graças à presença do craque. Ainda sem patrocínio para a temporada, o Flamengo sofre para encontrar interessados em associar sua marca à camisa 10 de Ronaldinho.
Vivendo uma relação de amor e ódio com a fanática torcida rubro-negra - que alterna aplausos e duras cobranças, inclusive com vaias e perseguição ao ídolo nas noitadas cariocas -, Ronaldinho parece não estar mais tão convicto de que continuará no Flamengo por tanto tempo. Na saída do gramado depois do clássico contra o Vasco da Gama, ele surpreendeu ao falar pela primeira vez na possibilidade de vestir outra camisa, avisando que "gostaria de deixar o Flamengo pela porta da frente".
É ano eleitoral no Flamengo, e Ronaldinho costumava ser visto como grande trunfo para a reeleição da presidente Patrícia Amorim. Desde a noite de quinta-feira, porém, isso pode ter mudado: eliminado de forma desastrosa e traumática logo na fase de grupos da Copa Libertadores, o grande objetivo do clube na temporada (e pior: perdendo a vaga para um clube nanico, o Emelec do Equador), o Flamengo vê tempos turbulentos pela frente.
Ronaldinho, no entanto, não precisa se desesperar. Se quiser parar de jogar de vez, tem dinheiro de sobra para manter seu estilo de vida suntuoso por décadas e décadas. Se quiser fazer mais um bom contrato, terá uma fila de clubes de todas as partes do mundo dispostos a negociar.
Mesmo distante do auge, uma sombra do supercraque que brilhou no Barcelona, Ronaldinho ainda atrai público e dinheiro no exterior. Resta a ele fazer uma escolha: se decide trocar o Rio por outro lugar onde a torcida é fanática e a disputa em campo é acirrada ou se elege um destino menos estressante, onde poderia desfrutar da fama e da idolatria sem ter de correr tanto. Tudo depende da imagem que Ronaldinho, duas vezes eleito o melhor jogador do mundo, pretende deixar como jogador de futebol.
Como Pelé, dar adeus nos Estados Unidos
Encerrar a carreira na terra do "soccer", assim como fez Pelé, na década de 1970, talvez seja a melhor opção possível para Ronaldinho Gaúcho - e não só no aspecto financeiro. Nos Estados Unidos, o brasileiro se juntaria a nomes como David Beckham e Thierry Henry e seria uma das grandes estrelas da bem organizada, porém pouco exigente, liga americana.
Ronaldinho, que já foi visto passando férias tranquilas em Nova York há alguns anos, não sofreria um assédio tão intenso dos fãs e poderia organizar suas habituais festas sem ser tão vigiado pela imprensa local, mais interessada nos astros do basquete, beisebol e futebol americano. Outro fator que pode pesar a favor: a curta duração da temporada da Major League Soccer (MLS).
O campeonato nacional é disputado entre março e outubro, com uma longa pausa justamente durante o verão no hemisfério sul. Ao contrário de Beckham e Henry – que buscam empregos temporários nos grandes clubes europeus durante esse período – Ronaldinho poderia gastar seu astronômico salário em churrascos e pagodes em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, ou em qualquer outro lugar do mundo - além de curtir o Carnaval carioca antes mesmo de começar a temporada.
Reencontrar Roberto Carlos no longínquo Daguestão
Junto com os rumores sobre a saída de Ronaldinho do Flamengo vieram as especulações sobre o possível interesse do clube russo Anzhi em contratar o Gaúcho. Jogador e dirigente da equipe, o brasileiro Roberto Carlos fez questão de desmentir os boatos, mas não seria nada improvável se o camisa 10 desembarcasse em Moscou num futuro próximo.
Comprado em 2011 por um magnata local, o Anzhi investiu uma fortuna na contratação de astros do futebol internacional, como o próprio Roberto Carlos, o treinador holandês Guus Hiddink e o camaronês Samuel Eto’o, com quem Ronaldinho poderia reviver a parceria muito bem sucedida (ainda que cheia de atritos fora dos gramados) dos tempos de Barcelona.
O brasileiro certamente receberia um dos salários mais altos do planeta e teria a chance de disputar ligas europeias, grande meta do clube para os próximos anos. Porém, pesa contra os russos o frio que Ronaldinho teria de enfrentar, além do fato de jogar em uma região de gravíssimos conflitos, sujeito a ataques terroristas a qualquer momento.
O Anzhi é um clube sediado no Daguestão, maior república da região do Cáucaso, que vive em constante atrito com a Chechênia, devido às suas intenções separatistas. O clube, no entanto, treina em Moscou, a mais de 2.000 quilômetros da sede do clube - e viaja a cada partida. Seria como se Ronaldinho morasse em São Paulo, mas fosse jogar em Salvador nos finais de semana.
Voltar a brilhar na Cidade Luz
Se um retorno ao Barcelona é absolutamente improvável, é possível imaginar uma volta de Ronaldinho a outro clube onde marcou época: o Paris Saint Germain. Entre 2001 e 2003, o brasileiro foi a grande estrela da equipe, e, mesmo sem ter conquistado nenhum título de expressão, ganhou a admiração do povo francês, anos antes de se consolidar como o melhor jogador do planeta, em terras espanholas.
Soma-se a isso o fato de o PSG estar há meses em busca de um craque que possa liderar o retorno do clube à elite do futebol europeu – para esta temporada, o clube já mirou as contratações de Tevez, Kaká e Beckham. Com enorme investimento de um grupo do Catar, o Paris Saint Germain já trouxe Pastore, Lugano, Maxwell e Thiago Motta, entre outros, e está na briga pelo título nacional.
Se voltasse a Paris, Ronaldinho reencontraria também o treinador italiano Carlo Ancellotti – que o levou para o Milan, em 2008 - e o diretor brasileiro Leonardo, com quem teve problemas no clube italiano, onde o brasileiro era o treinador e reprovava suas aventuras noturnas.
Viver um sonho árabe das mil e uma noites
O interesse dos países árabes pelos brasileiros não vem de hoje: Zagallo e Rubens Minelli, entre outros treinadores, além do ex-craque Roberto Rivelino, já se aventuravam no Oriente Médio desde a década de 1970. Atualmente, grandes craques em fim de carreira - não apenas brasileiros - abrem mão do glamour das grandes ligas europeias para levar uma vida mais tranquila, porém não menos luxuosa, em países asiáticos ou do Norte da África.
Entre os países do chamado mundo árabe, Catar e Emirados Árabes Unidos são os dois com melhor estrutura esportiva para receber esses atletas. Por ali passaram recentemente nomes como Romário, Gabriel Batistuta, Fabio Cannavaro, Fernando Hierro, Pep Guardiola e Frank de Boer. No mundo árabe, Ronaldinho viveria de frente para o mar, treinaria apenas à noite (devido ao calor infernal durante o dia), teria a companhia de muitos brasileiros (Grafite, Fernando Baiano e Afonso Alves, entre outros, curtem uma vida de príncipe na região) e, claro, ganharia muito dinheiro.
No Catar ou nos Emirados, Ronaldinho não teria tantos problemas com a cultura local, muito mais aberta ao consumo de álcool e aos direitos das mulheres, algo que não ocorre em outros países da região, como Arábia Saudita ou Irã. Ainda assim, teria de mandar trazer do Rio as dançarinas de funk com quem gosta de fazer suas festas.
Como Anelka e Conca, fazer um negócio da China
Outra possibilidade para Ronaldinho seria jogar na Ásia, onde conquistou o título mais importante de sua carreira: a Copa de Mundo de 2002. Entre os países do continente, a China se apresenta como um dos mercados mais promissores e, provavelmente, alguns clubes locais teriam condições de arcar com os vencimentos do craque brasileiro.
Recentemente, outro habilidoso meia deixou o Rio de Janeiro para tentar a sorte – e faturar muito – em terras chinesas. Em 2011, o argentino Dario Conca trocou o Fluminense pelo Guangzhou Evergrande e foi campeão chinês logo em sua primeira temporada. Já em 2012, houve a transação mais badalada do futebol deste país: o francês Nicolas Anelka foi contratado pelo Shanghai Shenhua e afirmou ser parte de uma estratégia de desenvolvimento do esporte mais popular do mundo no país mais populoso da Terra.
Ronadinho Gaúcho poderia ajudar muito neste processo, mas provavelmente iria enfrentar dificuldades de adaptação em um país tão fechado politicamente e tão diferente em relação aos costumes ocidentais (sem contar a distância enorme das praias brasileiras).
Na Turquia, lucrar (e suar) bastante
Outro mercado muito receptivo aos craques brasileiros, a Turquia poderia ser uma boa opção para Ronaldinho Gaúcho - mas desde que sua intenção fosse reviver os melhores momentos de sua carreira, provando que ainda tem futebol para se destacar em jogos de alto nível.
Atuando em algum dos clubes grandes do país - Fenerbahçe, Galatasaray ou Besiktas -, o craque receberia um bom salário, disputaria ligas europeias e, invariavelmente, teria a companhia de muitos compatriotas, que costumam elogiar muito a vida que levam na capital Istambul. Alex, que vai ganhar até estátua na frente do estádio do Fenerbahçe, é o grande nome de uma lista que inclui André Santos, Cristian, Elano, Jardel, Taffarel e Bobô, todos destaques do futebol turco nos últimos anos.
Na Turquia, no entanto, Ronaldinho encontraria situação semelhante à vivida no Flamengo: muita cobrança de uma torcida apaixonada, e, por vezes, impaciente. Os clássicos turcos geralmente são marcados pela enorme rivalidade e violência entre os torcedores, que exigem bons resultados e dedicação em campo. Em Istambul, Ronaldinho poderia ser rei, como Alex, mas teria que mostrar serviço.
Pegar um voo no Santos Dumont
Ao invés de cruzar o mundo e largar parentes e amigos para trás, Ronaldinho poderia mudar de ares trocando apenas de cidade, e não de país. Uma transferência para outro clube brasileiro é absolutamente improvável neste momento. Apesar de ter conquistado o título carioca e a vaga para a Libertadores em 2011, é possível dizer que a passagem de Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo, por enquanto, foi um fracasso.
O clube não atraiu patrocinadores, viveu momentos de muita turbulência, atrasou salários, demitiu treinador e o seu camisa 10 resolveu pouquíssimas partidas. Ronaldinho foi notícia muito mais pelas festas que promovia e pelas ausências aos treinamentos do que por seus gols. Além disso, ao optar por jogar no Rio de Janeiro, Ronaldinho fechou muitas portas em outros grandes clubes do país.
No Grêmio, onde era muito aguardado e poderia se redimir da maneira como deixou o clube onde foi revelado, se queimou de vez com a torcida e se tornou persona non grata. No Palmeiras, foi acusado de oportunista e mercenário em razão do "leilão" protagonizado por seu agente e irmão, Assis. Apesar de ser um craque incontestável, é difícil imaginar que um clube brasileiro irá apostar novamente em Ronaldinho e desembolsar todo o dinheiro necessário para contratá-lo.