Construindo degraus: os 5 grandes desafios para as mulheres alcançarem o topo da carreira
No Dia Internacional da Igualdade Feminina, Margareth Goldenberg, gestora executiva do “Movimento Mulher 360”, compartilha como as empresas podem melhorar iniciativas para alcançar a meta do Pacto Global da ONU de 50% de mulheres na alta liderança até 2030
Repórter
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 17h19.
Nesta segunda-feira, 26, é celebrado o Dia Internacional da Igualdade Feminina. A data foi criada em 1971 pelo Congresso americano para comemorar o aniversário do direito de voto às mulheres americanas, que aconteceu em 1920. Mesmo com origem nos Estados Unidos, a data de popularizou em vários países, inclusive no Brasil, com o objetivo de refletir sobre os avanços na igualdade de gênero e destacar os desafios ainda existentes na sociedade, inclusive no mercado de trabalho.
“É uma data que serve para comemorar os avanços, ou seja, os degraus que já avançamos quando o assunto é igualdade de gênero em diferentes esferas, como política e trabalho. Porém, o marco também serve para apontar as lacunas que temos que avançar”, afirma Margareth Goldenberg, psicóloga, especialista em direitos humanos e mundo corporativo há 27 anos e CEO da Goldenberg Diversidade, consultoria estratégica que promove diversidade, equidade e inclusão nas empresas.
Como tirar a igualdade de gênero do papel?
Apenas 6% de CEOs são mulheres no mundo todo, segundo a 8ª edição "Women in the Boardroom", pesquisa realizada pela Deloitte, empresa global de consultoria e auditoria. Apesar de ainda ser uma porcentagem baixa, em 2023 houve um aumento de 1% em relação ao ano anterior.
“Vemos todo aumento da presença feminina na liderança como um resultado positivo, afinal, estamos avançando”, afirma Aline Vieira, sócia-líder do Delas, iniciativa de Diversidade de Gênero da Deloitte Brasil.
O estudo também mostra o avanço quando o recorte é Brasil: a representação de mulheres em cargos de CEO aumentou de 0,8% para 2,4% em 2023.
Para acelerar os avanços das mulheres no mercado de trabalho, o Pacto Global da ONU promoveu o movimento “Elas Lideram”, que estabelece o compromisso de metade de mulheres na alta liderança até 2030. Goldenberg faz parte do comitê como gestora executiva do Movimento Mulher 360, que começou em 2015 com oito grandes empresas globais e hoje reúne 112 empresas que buscam acelerar a equidade de gênero no ambiente corporativo brasileiro.
"Hoje, a conversa não é mais sobre por que devemos promover a equidade de gênero, mas sim sobre como podemos fazer isso", afirma Goldenberg.
Apesar dos avanços, Goldenberg afirma que há ainda desafios a serem superados no mercado de trabalho para alcançarmos globalmente a igualdade de gênero nas companhias em cargos de alta liderança. Veja quais são eles.
Os 5 desafios para a jornada das mulheres ao topo
A cultura organizacional
Entre as principais lacunas que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, está a cultura organizacional das empresas, afirma Goldenberg. “Historicamente, a cultura de uma empresa foi construída por homens e para homens”, diz.
Essa estrutura, muitas vezes inconsciente, perpetua estereótipos e barreiras que dificultam a ascensão das mulheres.
"Ainda temos um degrau quebrado na jornada das mulheres entre a coordenação e a gerência, que impede a equidade de gênero nos níveis mais altos das organizações, como diretora, CEO ou conselheira", afirma Goldenberg que lembra que as mulheres continuam sendo maioria formadas nos cursos universitários no Brasil e em cargos de entrada, como estagiárias, trainees, analistas, assistentes, até coordenação.
Outra grande barreira para as mulheres na cultura organizacional é a maternidade, que continua sendo vista como um obstáculo, e não como um impulso para a carreira, afirma a gestora que participa do comitê da ONU Mulheres.
“É fundamental termos equilíbrio nessa economia do cuidado, que ainda está nas costas das mulheres. As empresas ainda precisam melhorar práticas sobre a maternidade e sobre a ampliação da licença parental”.
A flexibilidade é outra característica de cultura que está ajudando mulheres a chegarem até o topo. Segundo Goldenberg, atualmente a flexibilidade no ambiente de trabalho é altamente valorizada não só por mulheres, mas também por homens, mas a falta impacta desproporcionalmente as mulheres, especialmente aquelas que são mães.
“A ausência de flexibilidade no trabalho é um dos principais motivos pelos quais mulheres, especialmente as que ocupam cargos de diretoria, pedem demissão.”
Esse tipo de demissão, está gerando o fenômeno que Goldenberg chama de “porta giratória”.
“Para cada mulher promovida diretora, duas mulheres diretoras pedem demissão, ou seja, nós estamos enxugando o chão com a torneira aberta.Temos um esforço imenso de contratação de mulheres em todos os níveis, mas elas não estão se mantendo na empresa.”
Microagressões
As microagressões é outro ponto levantado por Goldenberg como um deságio atual para as empresas. Pequenas atitudes discriminatórias que, embora sutis, podem ter um impacto profundo e duradouro nas mulheres e criam um ambiente de trabalho excludente, afirma Goldenberg.
“Essas microagressões incluem comportamentos como interromper mulheres em reuniões, não reconhecer a autoria de suas ideias, atribuir somente a elas tarefas domésticas no ambiente de trabalho (como organizar festas ou escrever atas), ou fazer comentários sobre sua aparência ou estado emocional.”
Impactos da pandemia
A pandemia de Covid-19 também trouxe retrocessos significativos para a equidade de gênero. Mulheres, especialmente as negras e de baixa renda, foram as mais impactadas, enfrentando demissões e a sobrecarga do cuidado familiar sem o apoio de escolas e creches.
"É como se tivéssemos dado dois passos para trás, e agora estamos retomando a caminhada pela equidade", diz Goldenberg.
O apoio dos homens
Para mulheres chegarem a posições de liderança é preciso que os homens que hoje ocupam esses lugares estejam engajados com a causa.
“Empresas que envolvem seus líderes masculinos avançam 30% mais rápido na promoção da equidade de gênero, segundo uma pesquisa recente da Boston Consulting Group”, diz Goldenberg. "A transformação cultural deve ser constante, até que a equidade de gênero seja a norma, e não a exceção”.
O apoio entre elas
Para as mulheres que aspiram a cargos de liderança, Goldenberg compartilha alguns conselhos, entre eles o apoio entre as mulheres.
"Acreditem em si mesmas, conheçam suas competências e deem visibilidade ao seu trabalho. Busquem mentoria e não deixem que os desafios as desmotivem. A sororidade entre mulheres também é fundamental para esse avanço."