Como a vida de Leonardo da Vinci pode inspirar a sua carreira
Distraído, obsessivo, procrastinador e eclético, o estilo de Leonardo da Vinci pode ensinar muito sobre a verdadeira origem da inovação — e da genialidade
Claudia Gasparini
Publicado em 18 de fevereiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2018 às 06h00.
São Paulo — O cientista, arquiteto, matemático, engenheiro, inventor, botânico, anatomista, pintor, escultor, músico e poeta Leonardo da Vinci (1452-1519) dificilmente seria considerado um “profissional de alta performance” pelos padrões atuais de sucesso .
Distraído, obsessivo e sonhador, ele passou a maior parte da vida dissecando cadáveres, fazendo anotações intermináveis sobre a natureza e projetando máquinas bizarras que muitas vezes não funcionavam.
Absorto nessa observação apaixonada do mundo, negligenciava os trabalhos que lhe encomendavam e constantemente furava prazos.
Não queria se debruçar definitivamente sobre um único assunto: seus interesses iam de técnicas de luz e sombra na pintura até projetos de máquinas voadoras, passando por estudos anatômicos e a mecânica do voo das aves.
Para um profissional do século 21, acostumado a valores como foco, concentração, produtividade e busca por especialização em um determinado assunto, a vida de Leonardo não parece exatamente um modelo a ser seguido.
Mas o autor de um livro de mais de 600 páginas sobre a vida do gênio, o historiador e jornalista norte-americano Walter Isaacson, defende que qualquer pessoa pode usar o exemplo do pintor de Mona Lisa para ter uma carreira mais criativa e, de forma geral, uma vida mais interessante.
Na nova biografia, que causou furor no meio editorial no final de 2017 e deve inspirar uma versão cinematográfica com Leonardo DiCaprio no papel principal, Isaacson mostra que a genialidade de Leonardo tinha tudo a ver com sua falta de foco — ou, em outras palavras, com sua inefável curiosidade sobre tudo.
“Se você gosta de uma grande variedade de assuntos, começa a enxergar padrões em todas as coisas, e a habilidade de ver esses padrões é a origem da criatividade”, explica o biógrafo em entrevista ao site “Quartz at Work”. “Se você gosta de observar espirais nos rios e no ar, pode começar a enxergar essas espirais em um cacho de cabelo, por exemplo”.
Depois de estudar mais de 7.200 páginas de cadernos pessoais de Leonardo, Isaacson conta que o que mais o surpreendeu no biografado foi sua capacidade de observação e questionamento.
“Ele tinha curiosidade para saber como a língua de um pica-pau funcionava”, diz. “Parava para observar se as asas dos pássaros batiam mais rápido para cima ou para baixo, [e a lição que fica é que] às vezes é bom fazer uma pausa, guardar o iPhone e refletir sobre as asas dos passarinhos”.
Arte + tecnologia
Matemático e poeta, engenheiro e músico, Leonardo da Vinci também é um exemplo de como é possível se interessar, em igual medida, por ciências humanas e exatas.
Isso não era raro na Renascença, período em que surgiram inúmeros polímatas como ele. Segundo Isaacson, foi no século 20 que a ciência e a arte se transformaram em duas culturas divorciadas — uma divisão que começou a perder força nos anos 1970, com a revolução digital.
“Foi quando pessoas como Steve Jobs conseguiram conectar a engenharia à beleza do design, e a compreender tanto as emoções humanas quanto a tecnologia”, explica o historiador.
Pessoas capazes de navegar por disciplinas diferentes vão estar numa posição vantajosa quando a tecnologia provocar a disrupção dos empregos, defende Isaacson, que também biografou o criador da Apple. “Serão os criativos que conseguirão se adaptar”, diz.
Além de garantir a sua longevidade da carreira, ter curiosidade e abertura a respeito de vários assuntos diferentes também traz benefícios pessoais.
“Não é só algo que trará mais sucesso profissional, é algo que fará você viver uma vida mais rica”, conclui o biógrafo de Leonardo.