Brasileiro prefere benefícios a salários maiores
Trabalhador no Brasil vê os benefícios como parte da remuneração e atribui a eles um valor monetário
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de janeiro de 2017 às 09h34.
Última atualização em 9 de janeiro de 2017 às 14h39.
São Paulo - Um estudo feito pela seguradora Zurich em parceria com a Universidade de Oxford mostra que 67% do brasileiros preferem benefícios de proteção à renda, como seguros de vida e invalidez, a salários maiores .
Feita com mais de mil pessoas no Brasil, a pesquisa aponta que a escolha por salários mais altos em detrimento de benefícios seria a opção de apenas 19% dos entrevistados.
Edson Franco, CEO da Zurich no Brasil, acredita que esse comportamento ocorre pela falta de informação para se planejar por conta própria e por causa da cultura protecionista do Brasil, de que "o Estado poderá resolver".
Por outro lado, Franco pondera que a hiperinflação da década de 1980 dificultava o ato de poupar e acabou tirando a capacidade de planejamento de longo prazo.
O pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn, explica que o trabalhador vê os benefícios como parte da remuneração e atribui a eles um valor monetário.
A mudança de comportamento, diz, depende do "quanto o trabalhador estaria disposto a abrir mão para receber em dinheiro".
Zylbertajn ainda pondera que os benefícios significam o acesso a serviços geralmente por um valor muito mais baixo, mas por outro lado, ele também "pode limitar o leque de opções e tirar a liberdade de escolha".
Para o pesquisador, o alto nível de encargos trabalhistas é um estímulo à concessão de benefícios. Ele diz que a empresa teria um custo maior se desse um aumento salarial no lugar de benefícios. Já o empregado provavelmente teria descontos na folha e dificilmente conseguiria o serviço pelo mesmo valor.
Descuido
O levantamento alerta que os brasileiros podem ser considerados descuidados. No total, 44% dos entrevistados afirmaram que já sofreram perda de renda devido à invalidez ou morte de familiar, mas 41% ainda creem que a chance disso ocorrer é de 10%.
O educador financeiro da Dsop, Reinaldo Domingos, acredita que essa realidade pode mudar. Segundo ele, os jovens já perceberam o risco de perder renda no futuro, seja por uma doença ou porque vão se aposentar mais tarde.
Se as regras mais duras defendidas pelo governo Temer forem aprovadas, também haverá menos chance de obter o benefício integral.
O cenário de crise dificulta a ampliação de serviços pelas empresas, ao mesmo tempo em que reduz o orçamento disponível para que a população escolha fazer seguros por conta própria.
Apesar disso, Franco sustenta que esse é um planejamento de longo prazo "que transcende as discussões atuais".
O levantamento da Zurich ainda mostra que 72% dos brasileiros dizem ter recursos para até seis meses em caso de perda de renda. Para Domingos, as pessoas não entendem o conceito de sustentabilidade financeira. "Achamos que não vale a pena fazer um seguro com 40 anos, mas esquecem que podemos viver até os cem anos."
O educador explica que o ideal é a pessoa ter uma reserva de dinheiro e um seguro. À medida em que o tempo passa e a pessoa consegue fazer uma reserva maior, o prêmio do seguro vai diminuindo.
Para Franco, da Zurich, o melhor momento para fazer um seguro é quando se inicia a formação de uma família.
Benefícios são obrigatórios?
Os benefícios são adquiridos em negociações coletivas entre os sindicatos, mas não estão previstos na CLT. De todo modo, especialistas alertam que tudo que for acordado deve estar no contrato.
Os benefícios são vantajosos para as empresas porque trazem incentivos fiscais e satisfazem o trabalhador.
A CLT permite que o trabalhador receba até 70% do salário em utilidades e 30% em dinheiro.
Não entra na definição de utilidades ou salário in natura, transporte, educação e vestuário, por exemplo.
Não é permitido também restringir benefícios a uma função ou cargo específico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.