Paul Danos, reitor da Tuck Business School, que oferece o melhor MBA segundo a revista The Economist (Divulgação/Joseph-Mehling)
Talita Abrantes
Publicado em 31 de outubro de 2011 às 15h31.
São Paulo – Dos 11 alunos graduados no programa de MBA da Tuck Business School no ano passado, 9 voltaram a trabalhar em companhias com operação no Brasil logo após a formatura – sem qualquer escala em outra empresa e país.
Há dez anos, esse número seria nulo, de acordo com Paul Danos, reitor da escola de negócios número 1 da lista dos melhores MBAs, segundo The Economist.
Entre os países do BRIC, o fenômeno é exclusivo do Brasil, segundo afirmou o reitor em entrevista a EXAME.com. Os robustos salários oferecidos em solo tupiniquim - já similares aos oferecidos nos Estados Unidos - são uma das explicações para os dados.
Apesar do atual suspense nos mercados globais, Danos é enfático ao afirmar que sempre haverá espaço no topo das corporações para profissionais bem qualificados. "Em qualquer lugar onde houver prosperidade no mundo, o tipo de pessoa que estuda nos melhores MBAs sempre irá usufruir mais disso do que a média da população", diz.
Confira trechos da entrevista:
EXAME.com: A Tuck tem a maior taxa de alunos latino-americanos em relação a outras escolas de negócios? Por quê?
Paul Danos: Nos últimos dezessete anos, vim dezessete vezes para o Brasil. Além disso, somos uma das poucas escolas que mantém um agente trabalhando em tempo integral apenas para a América Latina.
O interessante é que agora os alunos brasileiros estão voltando para o Brasil para trabalhar. No ano passado, dos 11 brasileiros graduados, nove retornaram. Eu nunca vi isso. Há dez anos, zero de 11 voltaria para o Brasil.
EXAME.com: Quais as razões para isso?
Danos: Os empregos foram globalizados. Agora, os empregos estão disponíveis no Brasil também. No passado, havia uma grande diferença de salário. Hoje, não há mais. Além disso, os alunos me dizem que as empresas brasileiras precisam de talentos. Então, o mercado está aberto para profissionais de alto nível.
EXAME.com: A situação econômica dos Estados Unidos também explicaria o fenômeno?
Danos: Não. Nos últimos dois anos, tivemos as mais altas taxas de empregabilidade dos nossos alunos. Isso significa que as empresas continuam contratando os melhores.
EXAME.com: Os chineses e indianos também estão retornando para seus países após o MBA?
Danos: Eles começam primeiro nos Estados Unidos e depois vão para a Índia e China. Eles não vão diretamente para seus países. Os brasileiros retornam direto para trabalhar em bancos, consultorias, multinacionais com operação no Brasil ou empresas do mercado doméstico.
EXAME.com: Por que essa diferença?
Danos: A disparidade entre os salários oferecidos na China e Estados Unidos é grande. Mesmo se você converter a moeda local em dólares, a remuneração ainda é muito baixa. As pessoas retornam porque as companhias as envia. Assim, elas recebem o salário em dólares. No Brasil, não há mais essa diferença salarial.
EXAME.com: No ano passado, 97% dos alunos da Tuck conseguiram um emprego após a formatura. O senhor disse que essa foi uma das melhores taxas dos últimos anos. A que se deve isso?
Danos: As companhias demitiram muitas pessoas em 2008. Dois anos depois, quando a economia retomou seu rumo, elas precisaram reconstruir isso.
EXAME.com: Qual a sua previsão em termos de contratação das próximas turmas?
Danos: Se os bancos europeus não conseguirem solucionar o problema deles, claro que teremos um período de retração. Mas, para mim, o mercado é muito resiliente. Eu olho para os próximos cinco anos com uma visão muito positiva. Evidentemente, uma crise internacional pode explodir. Então, eu estou cauteloso, porém otimista.
Por outro lado, em qualquer lugar onde houver prosperidade, o tipo de pessoa que estuda nos melhores MBAs sempre irá usufruir mais disso do que a média da população. Eu diria que todas as companhias que eu conheço sempre estão abertas para novos talentos. Sempre há espaço para esse tipo de pessoa no topo.
EXAME.com: A crise de 2008 influenciou o ensino nas escolas de negócios?
Danos: Isso começou há dez anos, com a crise das empresas pontocom em 2000. Os fatos dos últimos anos criaram um desejo por assuntos ligados à ética e responsabilidade social.
Os alunos não querem gastar dois anos estudando apenas práticas específicas de negócios. Eles querem estudar assuntos relacionados a estilo de vida, como ser uma boa pessoa, um bom cidadão, a paz mundial e ecologia. Eles querem ganhar dinheiro, mas também querem mudar a sociedade.
EXAME.com: Pensando nisso, qual é o perfil de aluno que vocês procuram?
Danos: Queremos pessoas maduras, com atitude de ajudar os outros, que consigam aproveitar uma escola orientada para o trabalho em equipe. Não queremos estudantes que se isolem e só se importem com eles mesmos.
EXAME.com: Qual o perfil dos brasileiros que estudam na Tuck?
Danos: Geralmente, são muito qualificados, perceptivos e sofisticados. Algumas pessoas de outras culturas são ingênuas com temas como empreendedorismo ou trabalho em grandes companhias. Mas as pessoas que vem do Brasil são muito bem informadas. Eles já chegam com o networking construído.