A língua portuguesa é machista? Veja a resposta de um professor
Nas regras de concordância, o masculino predomina em diversas circunstâncias
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2017 às 13h14.
Última atualização em 21 de março de 2017 às 15h27.
Em mensagens modernas, vem sendo frequente o uso de "X" a fim de que seja garantido um gênero neutro: "alunXs", em vez do masculino "alunos"; "meninXs", em vez do masculino "meninos"; "filhXs", em vez do masculino "filhos". Além de criativa, a construção faz refletir sobre gênero.
Seria a Língua Portuguesa machista?
Nas regras básicas de concordância, o masculino predomina em diversas circunstâncias.
Por exemplo, quando existem substantivos de gêneros distintos, a norma prevê que o adjetivo fique no masculino plural: "Alice, Gabriela e Enzo são estudiosos."
Em uma sala de aula, mesmo que predomine o sexo feminino, diz o professor: "Meus alunos são atenciosos."
No valioso estudo O Machismo na Linguagem: A Concordância Nominal, de Adriano da Gama Kury, chama-me atenção um parágrafo: "E lá vem a prepotência do masculino: nas enumerações de substantivos de gêneros diversos, mesmo que haja um só do masculino, é nesse gênero que fica, por norma, o adjetivo: "Havia papéis, gravuras, revistas e canetas espalhados sobre a mesa." (A concordância com o nome mais próximo se considera caso excepcional).
Gêneros gramaticais, como se sabe, são dois: masculino e feminino. Para mim, a questão vai além: o fim do preconceito, pois, sim, é preciso. Questiono, às leitoras e aos leitores, se a frase abaixo tem algum machismo:
"O brasileiro é um povo divertido."
Nem se forçássemos muito, a frase teria ir como para o feminino. Da mesma forma, ninguém pensaria que "a brasileira" estaria de fora. O masculino foi, ali, utilizado por questão de concordância com o próprio termo "povo". O fato de o gênero masculino (e não o pensamento masculino) ser enraizado à nossa Gramática é questão da História, da Origem da Língua.
Ratifico: estar uma frase no masculino não significa, necessariamente, machismo.
De alguns anos para cá, vimos as inúmeras discussões sobre a forma "presidenta", aceita pela própria Academia e pelos estudiosos, mas sem a lógica gramatical. No entanto, se demonstra a luta pela igualdade, que sejam utilizadas essa e quaisquer outras formas femininas.
Argumenta ainda Gama Kury: "Não se deve escrever: 'Henri Lebrun é um advogado de renome, e sua mulher uma bonita morena.' Como se deve escrever: 'Os Lebrun formam um belo casal. Henri é um louro bonito, e sua mulher, morena, tem belos cabelos. Cada um é apreciado no domínio da sua profissão: Anne é uma excelente pianista, e Henri um advogado de talento.'"
Na era da luta contra estereótipos, creio que "alunXs" é reflexo do politicamente correto.
Um grande abraço, até a próxima e siga-me pelo Twitter!
Diogo Arrais
@diogoarrais
Professor de Língua Portuguesa - CPJUR
Autor Gramatical pela Editora Saraiva