Salário menor: lei da oferta e da procura (Creatas Images/Thinkstock)
Camila Pati
Publicado em 11 de novembro de 2015 às 14h00.
São Paulo – As equipes encolheram e os salários para as novas contratações também. “Antes da crise, as empresas estavam oferecendo remunerações até 20% maiores do que a média para fechar contratos com novos profissionais, hoje o que se vê são ofertas salariais que correspondem a 70% e 80% da média”, diz Marcelo Braga, sócio da Search RH.
Para ele, é a velha lei da oferta e da procura azedando as negociações acerca dos pacotes de remuneração. “Há exceções, claro, mas, em geral, com a crise a tendência é de redução nos salários”, diz.
Com a estimativa de um milhão de postos de trabalho fechados nos últimos 12 meses, a disputa mais acirrada nos processos de recrutamento e seleção faz com que muitos profissionais aceitem rendimentos menores e até cortejem cargos hierarquicamente inferiores aos seus empregos anteriores.
Sim, há diretores voltando às cadeiras gerentes, gerentes disputando vagas de coordenadores e até gestores flertando com posições de especialista.
Situação inevitável para quem está desempregado? A necessidade dá o tom, obviamente. “Melhor reduzir do que ficar sem rendimento algum”, diz Braga. Para ele, repensar a pretensão de salário variável e negociar redução de salário fixo é o mais indicado caso esta seja a condição para uma recolocação no mercado. Ainda mais com previsões pessimistas já respingando em 2016. “Acredito que comece a melhorar apenas em 2017”, diz Braga.
Jogo de xadrez
Carlos Felicíssimo, sócio do Group4, compara a situação a um jogo de xadrez. De um lado o mercado e o julgamento de recrutadores em relação à inflexibilidade ou não dos executivos em aceitar pacotes menos robustos. Do outro, os profissionais que necessitam de uma recolocação ao mesmo tempo em que não querem perder ritmo no movimento crescimento na carreira. “Um receio dos recrutadores é que o executivo que aceitou um salário menor saia na primeira oportunidade mais vantajosa de mercado que bater à sua porta”, diz Felicíssimo. Já os profissionais, diz ele, se perguntam: por que a empresa pode me demitir quando ela quer mas, se eu saio após pouco tempo, eu me queimo? “No fim do dia, é claro que todo mundo joga para ganhar”, diz.
De acordo com ele, situação financeira e o potencial de carreira da posição devem ser levados em conta na tomada de decisão. Você vai usar esse cargo para ganhar uma carona até outro melhor ou ele traz uma possibilidade de crescimento em médio e longo prazo?
Arrogância ou baixa autoestima só atrapalham
O desconforto pode ser consequência direta da readequação, seja ela salarial e/ou de posicionamento de carreira. “Por isso profissional deve levar em conta que uma decisão deste tipo não deve ser tomada por impulso”, diz Braga.
Demostrar uma atitude arrogante por já ter ocupado cargos mais altos na hierarquia ou abaixar a cabeça envergonhado e deprimido por ter se sujeitado a um salário menor são armadilhas.
A dica do sócio da Search RH é continuar investindo em qualificação e assim, aumentar o valor do seu passe quando a tormenta dissipar. “A crise torna urgente o corte de custos mas não de investimentos. Educação é um investimento e vai trazer retorno”, diz Braga.