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A certificação Leed vale a pena?

Profissionais que investiram na certificação Leed, para projetar prédios sustentáveis, se beneficiam da falta de concorrentes e conquistam obras lucrativas.

Guido Petinelli, de Curitiba: parte do seleto clube de arquitetos aptos a tocar projetos ambientalmente responsáveis (Marcelo Almeida)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de abril de 2015 às 08h08.

O estádio da Arena da Baixada, que recebeu os jogos da Copa do Mundo em Curitiba, é uma referência em sustentabilidade. Graças a um sistema de calhas, toda a água captada durante as chuvas é conduzida a tanques de armazenamento e tratamento para ser reutilizada.

O projeto arquitetônico, que favorece a iluminação e a ventilação naturais, permite reduzir o consumo de eletricidade. Torneiras com temporizadores, materiais que não promovem o aquecimento excessivo e painéis de LED complementam a economia de água e energia.

O escritório do arquiteto paranaense Guido Petinelli, de 32 anos, foi o encarregado de garantir que a obra seguisse as normas necessárias para ser certificada pelo Green Building Council (GBC), organização não governamental com sede nos Estados Unidos, responsável por reconhecer as melhores práticas na construção sustentável.

A escolha do escritório de Guido não foi casual. O arquiteto compõe o seleto grupo de 250 profissionais brasileiros — ou 0,26% do total de 95 000 arquitetos do país — que detêm a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), concedida pelo GBC, que os habilita a projetar, executar e acreditar empreendimentos ambientalmente corretos. Nos Estados Unidos, 175 000 profissionais detêm o título.

A capacidade de entregar edificações verdes, planejadas para poupar água e energia, é hoje um pré-requisito para que uma construtora possa ser selecionada para tocar projetos de grandes empresas ou se inscrever em licitações de obras governamentais.

Só no Brasil, as construções sustentáveis movimentam 13,6 bilhões de reais anuais e já respondem por 9% do PIB de edificações, subdivisão do PIB da construção civil que exclui obras de infraestrutura. Mas a expectativa é que esse percentual dobre nos próximos cinco anos, segundo Felipe Faria, diretor da regional brasileira do GBC.

Na esteira desse movimento, crescem a demanda e os salários pagos aos profissionais capacitados a executar construções ambientalmente responsáveis. Como o preço dos projetos corresponde em média a 1% do valor da obra, e como os empreendimentos certificados são geralmente grandes, isso pode representar uma remuneração milionária.

Apesar de prometer acesso a projetos caros, poucos arquitetos brasileiros se interessam. Quem atua na área alerta que, por enquanto, o título Leed só é indispensável em escritórios de arquitetura que atendam grandes corporações. Para a maior parte dos profissionais, cujos clientes são pessoas físicas e pequenas e médias empresas, o apelo é pequeno. “A certificação é onerosa para quem não atua em grandes escritórios e é um tiro no escuro, pois não há garantia de retorno”, diz Gilberto Belleza, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo.

Ao mesmo tempo, a reserva de mercado valoriza os profissionais que saíram na frente nessa certificação. A possibilidade de aumentar a renda ao atuar num segmento ainda pouco explorado foi um dos principais fatores que motivaram a arquiteta paulistana Vanessa Rocha Siqueira, de 34 anos, a obter a certificação Leed em 2012. “Percebi que o mercado de construção verde poderia ser um trampolim em minha carreira”, diz. Desde que conseguiu o selo, o faturamento de sua empresa foi multiplicado por 10.

Conseguir a certificação Leed não é um processo burocrático. Depois de frequentar cursos de dois dias de duração, ministrados pelo GBC, os arquitetos e engenheiros precisam ser aprovados em provas da entidade.

O valor do exame, apesar de alto, não é proibitivo — varia de 250 a 350 dólares, conforme a certificação desejada. A maior dificuldade para os brasileiros, segundo o GBC, é que as provas — com 200 questões a ser respondidas em 240 minutos — eram aplicadas no Brasil só em inglês. Desde o segundo semestre de 2014, entretanto, tornou-se possível fazer os testes em português.

O fim da exigência de experiência também deve facilitar a obtenção do Leed — o que gera um novo dilema. Como ocorre em diversos mercados, ao se popularizar, os selos de garantia estabelecem um novo patamar, mas perdem o efeito diferenciador. Bom para os institutos certificadores, nem tanto para os profissionais.

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O estádio da Arena da Baixada, que recebeu os jogos da Copa do Mundo em Curitiba, é uma referência em sustentabilidade. Graças a um sistema de calhas, toda a água captada durante as chuvas é conduzida a tanques de armazenamento e tratamento para ser reutilizada.

O projeto arquitetônico, que favorece a iluminação e a ventilação naturais, permite reduzir o consumo de eletricidade. Torneiras com temporizadores, materiais que não promovem o aquecimento excessivo e painéis de LED complementam a economia de água e energia.

O escritório do arquiteto paranaense Guido Petinelli, de 32 anos, foi o encarregado de garantir que a obra seguisse as normas necessárias para ser certificada pelo Green Building Council (GBC), organização não governamental com sede nos Estados Unidos, responsável por reconhecer as melhores práticas na construção sustentável.

A escolha do escritório de Guido não foi casual. O arquiteto compõe o seleto grupo de 250 profissionais brasileiros — ou 0,26% do total de 95 000 arquitetos do país — que detêm a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), concedida pelo GBC, que os habilita a projetar, executar e acreditar empreendimentos ambientalmente corretos. Nos Estados Unidos, 175 000 profissionais detêm o título.

A capacidade de entregar edificações verdes, planejadas para poupar água e energia, é hoje um pré-requisito para que uma construtora possa ser selecionada para tocar projetos de grandes empresas ou se inscrever em licitações de obras governamentais.

Só no Brasil, as construções sustentáveis movimentam 13,6 bilhões de reais anuais e já respondem por 9% do PIB de edificações, subdivisão do PIB da construção civil que exclui obras de infraestrutura. Mas a expectativa é que esse percentual dobre nos próximos cinco anos, segundo Felipe Faria, diretor da regional brasileira do GBC.

Na esteira desse movimento, crescem a demanda e os salários pagos aos profissionais capacitados a executar construções ambientalmente responsáveis. Como o preço dos projetos corresponde em média a 1% do valor da obra, e como os empreendimentos certificados são geralmente grandes, isso pode representar uma remuneração milionária.

Apesar de prometer acesso a projetos caros, poucos arquitetos brasileiros se interessam. Quem atua na área alerta que, por enquanto, o título Leed só é indispensável em escritórios de arquitetura que atendam grandes corporações. Para a maior parte dos profissionais, cujos clientes são pessoas físicas e pequenas e médias empresas, o apelo é pequeno. “A certificação é onerosa para quem não atua em grandes escritórios e é um tiro no escuro, pois não há garantia de retorno”, diz Gilberto Belleza, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo.

Ao mesmo tempo, a reserva de mercado valoriza os profissionais que saíram na frente nessa certificação. A possibilidade de aumentar a renda ao atuar num segmento ainda pouco explorado foi um dos principais fatores que motivaram a arquiteta paulistana Vanessa Rocha Siqueira, de 34 anos, a obter a certificação Leed em 2012. “Percebi que o mercado de construção verde poderia ser um trampolim em minha carreira”, diz. Desde que conseguiu o selo, o faturamento de sua empresa foi multiplicado por 10.

Conseguir a certificação Leed não é um processo burocrático. Depois de frequentar cursos de dois dias de duração, ministrados pelo GBC, os arquitetos e engenheiros precisam ser aprovados em provas da entidade.

O valor do exame, apesar de alto, não é proibitivo — varia de 250 a 350 dólares, conforme a certificação desejada. A maior dificuldade para os brasileiros, segundo o GBC, é que as provas — com 200 questões a ser respondidas em 240 minutos — eram aplicadas no Brasil só em inglês. Desde o segundo semestre de 2014, entretanto, tornou-se possível fazer os testes em português.

O fim da exigência de experiência também deve facilitar a obtenção do Leed — o que gera um novo dilema. Como ocorre em diversos mercados, ao se popularizar, os selos de garantia estabelecem um novo patamar, mas perdem o efeito diferenciador. Bom para os institutos certificadores, nem tanto para os profissionais.

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