Para especialistas, térmicas a gás são opção para evitar racionamento
Aprovada na MP da Eletrobras, contratação de usinas a gás natural terá papel importante no crescimento econômico, segundo agentes do setor
Bússola
Publicado em 24 de junho de 2021 às 10h25.
Última atualização em 24 de junho de 2021 às 10h33.
Aprovada na MP da Eletrobras, a contratação de térmicas a gás deve mitigar – já a partir da segunda metade da década – o risco de racionamento de energia elétrica, fantasma que volta a assustar o Brasil. A opinião é de agentes do setor e especialistas ouvidos pela reportagem da Bússola.
Na avaliação de Augusto Salomon, presidente executivo da Abegás (associação que representa as empresas de distribuição de gás canalizado), o texto aprovado no Congresso Nacional é positivo.
" A falta de chuvas já não pode ser encarada como algo pontual. É um problema estrutural, que vem sendo observado há pelo menos dez anos. E o Brasil não pode mais seguir esperando que a solução caia do céu”, diz.
“Por isso, a contratação de 8.000 megawatts (MW) de termelétricas a gás natural, conforme aprovado no Congresso, representa um grande passo. Vai acelerar a necessária integração entre o setor elétrico e o setor de gás natural, incorporando uma energia firme e resiliente, importante para que o país não tenha mais que conviver com a ameaça de racionamento”, afirma.
De acordo com a medida provisória 1.031, o governo deverá contratar usinas que funcionem pelo menos por 70% do tempo. As entregas das termelétricas devem acontecer entre 2026 e 2030, a partir de leilões realizados com cinco anos de antecedência. O tempo de contratação é de 15 anos de duração.
O primeiro leilão, com entrega em 2026, deverá privilegiar o consumo de gás nacional produzido na região amazônica. No total, serão 2.500 MW para a região norte; 2.500 MW para a região centro-oeste; 1.000 MW para a região nordeste e 2.000 MW para a região sudeste. O texto está em análise na Casa Civil e seguirá para sanção presidencial até a primeira quinzena de julho.
Segundo a Abegás, as térmicas trarão benefícios econômicos, sociais e ambientais. "Um estudo nosso mostra que poderá representar uma economia para os consumidores, com queda nas tarifas tanto no mercado regulado como no mercado livre", diz Salomon.
Brasil: refém do clima
Para o economista Adriano Pires, fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a contratação de térmicas a gás, estabelecida na MP 1.031, significa a medida mais expressiva adotada no Brasil, em mais de uma década, para garantir a segurança do suprimento energético. "Temos uma matriz elétrica que é muito refém do clima", diz Pires.
Pires lembra que mais de 60% da matriz elétrica nacional é derivada da geração baseada na fonte hídrica. "Em períodos de seca, o planejamento conta com usinas termelétricas, acionadas para compensar a menor oferta de hidroeletricidade. A prioridade à construção de usinas hidrelétricas a fio d’água, e a forte expansão das fontes renováveis intermitentes, ou seja, dependentes de sol e vento, diminuíram a confiabilidade do sistema."
O economista diz ainda que o futuro do setor elétrico exigirá um equilíbrio entre as fontes distantes, sazonais e intermitentes com outras fontes de geração constante e próximas aos centros consumidores.
"As termelétricas a gás natural inflexíveis, com fatores de carga superiores a 70%, na base do sistema elétrico, podem funcionar como uma espécie de bateria virtual, permitindo um melhor gerenciamento do nível de reservatórios das hidrelétricas e a expansão das outras renováveis", afirma.
Com esse gerenciamento, acrescenta ele, a volatilidade do mercado de curto prazo será reduzida com a eliminação da necessidade do acionamento das térmicas mais caras e mais poluentes, como já vem ocorrendo.
Outro ponto importante, segundo o especialista, é a pluralidade do uso da água. "A exclusividade da água para a geração de energia prejudica outras atividades como abastecimento humano, manutenção de hidrovias, piscicultura, turismo e lazer. Entre 2014 e 2015 a hidrovia Tietê-Paraná foi paralisada por 16 meses."
Aneel: apoio
Em maio, em audiência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o diretor Sandoval Feitosa Neto elogiou a inclusão dos leilões para térmicas a gás. "Nós precisaremos de fontes de geração firme para permitir que as fontes renováveis se firmem como uma realidade inexorável em um país rico como o nosso", disse Sandoval.
“Como todos nós sabemos temos recursos de gás incríveis na nossa costa que precisam de alguma forma ser retirados e utilizados. Há um sinal muito claro de como utilizar esses recursos. A utilização de térmicas locacionais irá prover os meios para a utilização desses recursos energéticos", disse o diretor da Aneel em evento com a participação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
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