Bússola

Um conteúdo Bússola

O Copom em perspectiva: mudança não foi totalmente surpreendente

A resolução do impasse sobre o orçamento e os primeiros sinais de arrefecimento da pandemia reduziram o risco fiscal

A reviravolta da estratégia de política monetária implementada pelo Banco Central surpreendeu muitos analistas (Adriano Machado/Reuters)

A reviravolta da estratégia de política monetária implementada pelo Banco Central surpreendeu muitos analistas (Adriano Machado/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2021 às 18h38.

A reviravolta da estratégia de política monetária implementada pelo Banco Central do Brasil em sua última reunião surpreendeu muitos analistas. Ao contrário do que vinham anunciando desde o início da pandemia, quando o BCB reduziu a taxa básica de juros (Selic) para 2% ao ano e indicou que esta taxa permaneceria em níveis excepcionalmente baixos por um longo período de tempo, o Copom decidiu aumentar a Selic em 0,75 ponto de porcentagem e antecipar que haveria novo aumento na reunião seguinte do Comitê, em maio.

Esta mudança de postura não foi totalmente surpreendente. A retirada do chamado “forward guidance”, ou seja, da sinalização de que os juros permaneceriam baixos por um longo período de tempo, além de declarações de membros da autoridade monetária após a reunião de janeiro, sugeriam que o início da normalização da política monetária começaria antes do previsto anteriormente, que era agosto de 2021. Apesar disto, grande parte dos analistas esperavam que isto ocorreria na reunião de maio e não em março e que o Copom iniciaria a normalização com um aumento da Selic de 0,5 p.p. e não de forma mais agressiva, como ocorreu.

A surpresa foi ainda maior devido ao elevado nível de ociosi

dade da economia brasileira e do comportamento dos núcleos de inflação e dos preços dos serviços, que permaneciam abaixo das metas para a inflação em 2021 e 2022.

Entretanto, o forte choque de oferta decorrente dos aumentos dos preços das commodities nos mercados internacionais, potencializado pela desvalorização do Real devido à dúvida quanto ao respeito ao teto do gasto público e ao aumento do risco fiscal percebido pelos investidores, manteve a taxa de inflação em níveis elevados no início de 2021. Com isso, as expectativas para a inflação em 2021 se descolaram da meta do ano e começaram a contaminar as expectativas para 2022.

Diante do risco de perda de controle sobre as expectativas e de perda de credibilidade, o que tornaria a política monetária menos efetiva, a autoridade monetária decidiu adotar uma estratégia mais contundente. Esta, a nosso ver, a razão da reviravolta na estratégia de política monetária ocorrida em março. Entretanto, em seu comunicado após a reunião e na ata da reunião, os membros do Copom mantiveram a avaliação de que a normalização da política monetária seria apenas parcial e que, no final do processo, seria mantido algum grau de estímulo para a atividade econômica.

A resolução do impasse sobre o orçamento, que foi sancionado pelo Presidente da República com vetos de tal forma a manter os gastos recorrentes dentro do teto, e os primeiros sinais de arrefecimento da pandemia, com queda no número de casos e de mortes, reduziram o risco fiscal, o que tem levado a uma tendência de valorização do Real e a menos pressão sobre a taxa de inflação.

Diante desses desenvolvimentos, a pergunta é se haverá alguma mudança importante no comunicado divulgado após reunião do Copom, já que a decisão de aumentar a Selic em 0,75 p.p. parece sacramentada. Se nossa análise está correta, o ponto fundamental que levou à mudança de trajetória da política monetária não está resolvido. As expectativas para a inflação em 2021 permanecem em elevação e persistem sinais de que o risco de contaminação para 2022. Diante deste cenário, a mudança de estratégia de política monetária deverá ser reforçada na próxima reunião do Copom.

Isto significa que no comunicado e na ata da reunião deverá ser retirada a avaliação de que, no final do processo de normalização, algum grau de estímulo à atividade econômica será preservado. Em outras palavras, que a manutenção de algum estímulo irá depender do comportamento da taxa de inflação e das expectativas para a inflação em 2021 e, principalmente, para 2022, que é o horizonte relevante da política monetária neste momento.

*José Márcio Camargo é professor titular do Departamento de Economia da PUC do Rio de Janeiro e Economista Chefe da Genial Investimentos

Siga Bússola nas redes: Instagram | LinkedinTwitter  |   Facebook   |  Youtube 

 

Acompanhe tudo sobre:CopomJurosSelic

Mais de Bússola

Com crescimento da tecnologia na contabilidade, papel do contador está cada vez mais estratégico

Cosan investe em inovação aliada ao desenvolvimento sustentável

Todo desenvolvedor precisa saber desses 4 assuntos para criar um app de sucesso

Essa nova startup criou IA para varejistas online venderem ‘na conversa’