Mal tivemos tempo de comemorar um recuo da Covid-19 e já voltamos a conviver com o crescimento desenfreado da doença (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Isabela Rovaroto
Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 14h29.
Ao passo que a pandemia de coronavírus volta a acelerar no Brasil, com o forte crescimento no número de casos, internações e mortes, voltamos a ter um cenário de total incerteza em relação ao futuro de curto e médio prazos. Mal tivemos tempo de comemorar um recuo da Covid-19 no país, ocorrido entre os meses de setembro e outubro, e a partir de novembro voltamos a conviver com a realidade de um crescimento quase desenfreado da doença.
A explicação é simples: o vírus continuou por aqui e as pessoas voltaram a circular nas ruas, comércios, shoppings e até festas. Bastaram poucas semanas para que o contágio aumentasse novamente. Para piorar, na semana passada foi oficialmente confirmado no Brasil, pelo Ministério da Saúde, o primeiro caso de reinfecção. Ou seja, nem os mais de 6 milhões de brasileiros que já contraíram a doença (pelas estatísticas oficiais) estariam totalmente imunes ao coronavírus.
Enquanto isso, as campanhas de imunização já começam em vários países, entre eles Reino Unido e Estados Unidos. Nos EUA, ainda sob a administração de Donald Trump, o processo de aprovação da vacina da Pfizer inclusive foi acelerado e sua aplicação na população começou nesta segunda-feira.
No Brasil, a mídia vem acompanhando de perto essa evolução, noticiando cada conquista como uma vitória contra a pandemia. Tal cenário seria mais do que suficiente para fazer com que os brasileiros desejassem tomar alguma vacina contra o coronavírus, certo? Infelizmente, não. Pesquisa Datafolha divulgada neste fim de semana mostra que a maioria dos brasileiros continua querendo se vacinar, mas que a parcela dos antivacina cresce assustadoramente.
O percentual de brasileiros que pretendem tomar alguma vacina caiu de 89% em agosto para 73% agora, enquanto a fatia da população que manifesta não ter interesse na imunização saltou de 9% para 22%. O número preocupa, principalmente se pensarmos que as entrevistas foram feitas entre os dias 8 e 10 de dezembro, ou seja, já com o número de casos e mortes acelerando de novo e fortemente no país.
Enquanto o Brasil segue patinando na corrida pela vacina, a pandemia de coronavírus continua avançando novamente em todo o país. A média móvel de mortes, de 637 óbitos/dia, é hoje 23% superior à de duas semanas atrás. Nesse mesmo critério, a média móvel cresce hoje em 19 das 27 unidades da Federação. Em quatro UFs, há estabilidade e, em outras quatro, há queda no indicador de óbitos.
O número de novos casos segue o mesmo ritmo de crescimento, com alta de 20% nas últimas duas semanas. No domingo, a média móvel de novos casos diagnosticados atingiu 42,7 mil, patamar muito próximo ao verificado no auge da pandemia no Brasil, entre final de maio e final de agosto. A média móvel está há 11 dias acima dos 40 mil. Durante o pico da doença, foram 27 dias consecutivos acima desse patamar diário.
Os números da pandemia deixam claro uma coisa: enquanto não tivermos boa parcela da população imunizada pela vacina, iremos conviver com repiques e segundas e terceiras ondas da Covid-19. O percentual de brasileiros hipoteticamente imunizados por já terem sido contaminados é bastante baixo: 3,3% segundo os dados oficiais. Mesmo se multiplicarmos esse número por sete, como sugerem alguns estudos já realizados, apenas 2 em cada 10 brasileiros já teriam contraído a Covid-19.
A nossa sorte é que, para chegarmos a um grau de imunização capaz de reduzir a circulação do coronavírus no país, não dependemos dos 22% que prometem se negar a tomar a vacina. Se os mais de 70% dispostos a se vacinarem tiverem acesso à imunização e confirmarem sua intenção, muito provavelmente esse contingente será suficiente para termos algum tipo de imunização de rebanho. Falta só termos a vacina no Brasil. E torcer para que esse percentual de dispostos a se vacinar continue acima dos 70%.
*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa
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