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Já estamos na próxima pandemia: a de informação

Estamos nos apoiando em uma boia furada, nos afogando em um mar de informação, enquanto tubarões famintos se aproximam; mas não criemos pânico

A infodemia tem trazido consigo novas síndromes (Witthaya Prasongsin/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 21 de julho de 2021 às 21h42.

Última atualização em 21 de julho de 2021 às 21h46.

Por Rodrigo Pinotti*

Tenho tentado, nos últimos dois meses, evitar que a primeira coisa que faço quando acordo seja checar as mensagens no whatsapp (e depois o Twitter, e depois os e-mails — sou cringe, afinal). Por enquanto, tenho fracassado fragorosamente, mas ainda não perdi a esperança. Estou confiante de que alguma sensação mínima de normalidade no pós-vacina vai me ajudar a derrotar esse monstrinho verde que habita o celular e me faz tomar broncas da minha esposa enquanto jantamos porque eu parei de prestar atenção ao que ela está dizendo.

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Já vivemos uma nova pandemia, só que agora de informação. Uma infodemia, se você preferir, como definido pela Organização Mundial da Saúde: “um excesso de informações, algumas precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa”. Isso é verdade quando falamos de covid, mas, sinto informar, Dona OMS, já era verdade no ambiente de trabalho antes, e só fez piorar agora.

O termo infoxicação foi criado no começo da década de 1990 pelo físico Alfons Cornella, que escreveu um livro defendendo a necessidade de buscarmos aquilo que realmente é importante dentro da cacofonia de mídias à nossa volta, para evitarmos enlouquecer. Importante frisar: começo da década de 1990. Não havia Whatsapp, não havia Twitter, não havia Galinha Pintadinha no YouTube. A maioria das pessoas tinha apenas uma tela em casa. Nem SMS tinha, e o Alfons já estava reclamando. Gostaria muito de perguntar como ele está se sentindo hoje (talvez eu envie uma mensagem lá no site dele).

A infodemia tem criado novas síndromes, inclusive. Um exemplo é o medo de perder algum acontecimento, o que já foi caracterizado como FOMO, do inglês fear of missing out. Deve ser isso que me faz abrir o Whatsapp antes de me certificar sobre se meus filhos dormiram bem ou ao menos escovar os dentes. A FOMO foi descrita pela primeira vez no início do milênio e só piorou com a fase aguda do isolamento na pandemia.

Isso tudo tem mastigado o mundo corporativo. A saída passa por aquilo que o velho Alfons já havia dito lá quando o Chacrinha ainda era vivo: seleção. Você já deve ter ouvido em algum momento da vida que é necessário escolher as suas batalhas, porque não é possível lutar e vencer todas elas. Igualmente, nunca vai ser possível acompanhar tudo ao mesmo tempo — ou não sem perder a razão, ao menos.

Caso contrário, morreremos infoxicados. Se isso ocorrer, ao menos nossa memória viverá em algum resto de página indexada no Google para que os arqueólogos do século 23 nos desenterrem e tentem explicar que época louca foi essa de transição entre o real e o virtual. Espero que achem esse texto e o incluam em algum rodapé de página de uma enciclopédia publicada em alguma mídia que não foi inventada ainda.

*Rodrigo Pinottié sócio-diretor da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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