Da escola pública no Rio à Universidade da Pensilvânia: como ele realizou o sonho de estudar fora
Com apoio do programa Alcance Prep, Marcelo Carvalho apostou tudo na oportunidade e hoje quer que mais brasileiros ocupem o mesmo espaço que ele
Repórter Bússola
Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 13h00.
Última atualização em 10 de dezembro de 2024 às 13h56.
“ Estudar fora era um sonho tão distante. Seria incrível, achava, mas faltavam referências perto de mim”. Era o que pensava o educador e gestor educacional Marcelo Carvalho quando voltou a considerar o mestrado no exterior.
Nascido no Rio de Janeiro, ele fez escola pública a vida toda, se dedicou aos estudos e se formou em administração na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Como muitos, ele também precisou abraçar uma rotina intensa para conseguir conquistar seus objetivos.
Estudar no exterior, no entanto, parecia impraticável. Marcelo não tinha exemplos próximos que mostrassem que era possível. A perspectiva mudou quando ele conheceu o programa Alcance Prep, do Instituto Four .
“Um dos principais fatores foi a comunidade. Lembro que o Alcance Prep teve uma imersão no começo do ano, com três jovens com mesmo background que o meu que tinham sido aprovados em grandes universidades. Se eles chegaram lá, então eu também podia . Essa validação foi muito importante”, ele conta.
O programa o permitiu desde acertificação de língua estrangeira TOEFLaté a tradução de documentos e extensa revisão da Declaração de Propósito (SOP, Statement of Purpose) .
Com o suporte técnico e o da comunidade, Marcelo conseguiu realizar uma aplicação assertiva e foi aprovado na Universidade Columbia, em Nova York, e na Universidade da Pensilvânia (UPenn), onde atualmente cursa o mestrado em Educação.
Uma trajetória de sucesso na educação
Marcelo foi criado pela mãe, que também é educadora, e se inspirou nela em toda a sua trajetória. "Desde pequeno, eu já imaginava minha 'escola dos sonhos' e o que ela deveria ter para transformar vidas", ele conta, lembrando de quando tinha nove anos e conversava com a mãe sobre como ele imaginava sua escola perfeita.
Ainda na faculdade, Marcelo participou de movimentos de liderança universitários e da Empresa Júnior. Foi aí que entendeu ainda mais o potencial de impacto social da educação.
"Após me formar, decidi me engajar no projeto Escola em Uganda, onde me mudei do Brasil para o vilarejo de Kikajjo. Nós desenvolvemos esse projeto em conjunto com a comunidade, sempre priorizando o protagonismo dela nas ações que planejamos”, conta.
Mais tarde, ele entrou para o Grupo Salta Educação , um dos maiores grupos de educação privada do Brasil. Com 25 anos, foi convidado a fundar a escolaElite, em Belo Horizonte .
Em meados de 2023, com 29 anos, ele foi convidado para assumir um novo desafio, mas faltando um mês para sua aplicação, Marcelo resolveu recusar e apostar tudo na chance de estudar no exterior.
Com apoio e decisões assertivas, o sonho vira realidade
“Faltava um mês, mas ainda faltava bastante coisa. Tinha que estudar, fazer o TOEFL, a declaração de propósito, traduzir documentos, receber as cartas de recomendação... Eu pensei, ‘se não abrir mão do meu trabalho, não vou conseguir fazer a aplicação com a qualidade necessária para investir nesse sonho’.
Era o momento de me desligar do Grupo. Felizmente, deu tudo certo e pude escolher entre dois dos melhores programas em desenvolvimento de educação internacional do mundo ”, Marcelo detalha sua escolha arriscada, mas assertiva . Na época, ele já fazia parte do Alcance Prep, e diz que o programa foi chave na aplicação.
O Instituto Four é uma organização sem fins lucrativos focada em desenvolver lideranças para ocupar espaços de tomada de decisão. Em parceria com a Fundação Lemann, eles lançaram o Alcance Prep, que hoje está na sua terceira edição, com inscrições até o dia 15 de dezembro.
O principal objetivo do programa é garantir oportunidade de estudar no exterior a profissionais pretos, pardos e indígenas de qualquer região do Brasil. Participantes conseguem vagas em universidades de renome internacional como Harvard , Stanford , MIT , Oxford (Inglaterra) , UCLA (EUA), Universidade de Toronto (Canadá) , Universidade Columbia , a Universidade da Pensilvânia e outras.
“Acreditamos que mudar o perfil racial de brasileiros que estudam no exterior pode contribuir para que minorias possam mudar suas condições de vida e de suas famílias, tendo em vista todas as oportunidades profissionais e acadêmicas que a pós-graduação no exterior proporciona”, destaca Wellington Vitorino, fundador e CEO do Instituto Four .
“É um sonho particular que mais jovens possam estar ocupando esse lugar em que estou. Hoje dentro do meu programa, aqui na Universidade da Pensilvânia, eu sou o único brasileiro. São pouquíssimos brasileiros negros e indívenas. Esse número precisa crescer. Essa perspectiva precisa mudar e eu quero fazer minha parte nessa trajetória ”, diz Marcelo.
E quando voltar, qual será o próximo passo?
Marcelo começou o mestrado na UPenn em agosto deste ano. Depois de realizar o sonho, ele planeja voltar ao Brasil e continuar buscando mudanças na educação. Políticas públicas, de diversidade, equidade e inclusão estão na mira do educador.
“Existem muitas pessoas, no Brasil, fazendo trabalhos magníficos nestas áreas. Minha intenção é apoiá-las e criar formas sistêmicas de utilizar políticas públicas para garantir maior retenção dos alunos, garantir a empregabilidade deles e cuidar da sua saúde mental e emocional. Quero criar soluções locais, mas que também possam ser escaláveis”, declara.
E para quem está buscando o sonho de estudar fora, Marcelo dá a dica: “acredite em você, fale com pessoas que já estão onde você quer estar e entenda como conectar os pontos com sua própria trajetória. Eu acredito muito que cada um tem um caminho autêntico a ser percorrido, e é importante ter referências para nutrir a própria trajetória”.
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