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5 anos para evitar o fim do mundo: o cronômetro da mudança climática

Ainda dá tempo de salvar o planeta? Entenda no artigo dos consultores em sustentabilidade para empresas Rafael Kenji e Thaís Scharfenberg

Relógio do Clima na Union Square em Nova Iorque (independent.co.uk/Reprodução)

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Publicado em 29 de julho de 2024 às 07h00.

Por Rafael Kenji e Thaís Scharfenberg*

De acordo com o Serviço Climático Europeu Copernicus, o mês de junho de 2024 foi o 13º mês consecutivo com recordes de temperatura, se aproximando da marca de 1,5ºC graus mais quente do que na era pré-industrial. O aumento da temperatura gera efeitos diretos e indiretos em diversas escalas, como o aumento dos níveis dos mares ocasionado pelo derretimento das geleiras, o branqueamento dos corais, causado pelo aumento da temperatura dos oceanos, além da intensificação dos eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e tempestades.

Com o objetivo de frear o aquecimento global, em 2015, durante a COP21, foi criado um tratado global, chamado de Acordo de Paris, assinado pelos países signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre mudança do Clima (UNFCCC). O Acordo estabelece como limite para o aumento da temperatura a marca de 1,5ºC, sendo necessárias ações globais para que o aquecimento global não atinja essa marca, que teria consequências catastróficas e algumas delas irreversíveis.

Em 2016, após aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil apresentou às Nações Unidas a NDC do Brasil, com a contribuição do país para o cumprimento do Acordo de Paris, com metas ambiciosas para os próximos anos. Em comparação com as emissões de carbono verificadas em 2005, o Brasil pretende reduzir em 37% das emissões até 2025 e 43% até 2030.

Para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, os países desenvolvidos deverão investir em medidas de combate à mudança climática, incluindo um investimento de 100 bilhões de dólares por ano. Contudo, boa parte dos países não estão cumprindo ou avançando em suas metas, e a temperatura global aumenta de forma gradativa a cada ano, como consequência do aumento dos gases de efeito estufa.

O cronômetro das mudanças climáticas

Idealizado pelos americanos Gan Golan e Andrew Boyd, o relógio do clima é um cronômetro que informa quanto tempo resta para que se concretize o aumento de 1,5ºC na temperatura global. A contagem regressiva informa os anos, dias, horas, minutos e segundos restantes para diminuir as emissões de gases estufa pela metade e atitudes serem tomadas. Após o prazo, sem o cumprimento das metas, as consequências serão inevitáveis e catastróficas.

O primeiro relógio do clima foi instalado em Berlim, em 2019, seguido por Nova Iorque, em 2020 e em Seul, em 2021. Em julho de 2023, o relógio foi projetado no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Pela primeira vez, em 21 de julho de 2024, o relógio ficou abaixo dos 5 anos, atentando o mundo sobre a proximidade do limite de temperatura e suas consequências.

Existem vários relógios climáticos portáteis nas mãos de ativistas e líderes climáticos por todo o mundo, como com o primeiro-ministro das Bahamas, Phillip Davis. O primeiro deles foi feito para Greta Thunberg na ocasião do seu discurso na Assembleia Geral da ONU, e a partir daí o movimento cresceu substancialmente.

Por que 1,5º C importa?

O primeiro período com uma temperatura média superior a 1,5°C acima da média pré-industrial ocorreu entre 2015 e 2016, impulsionado tanto pela mudança climática causada por ações humanas quanto por um El Niño forte, e natural. A última parte de 2023 e o início de 2024 também registraram anomalias de temperatura global média mensal acima de 1,5 °C, segundo a Organização Meteorológica Mundial.

Cada fração de um grau de aquecimento importa. Por exemplo, cada 0,1°C adicional de aquecimento global causa aumentos na intensidade e na frequência de temperaturas extremas e precipitação, bem como secas agrícolas e ecológicas em algumas regiões, de acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

Exceder 1,5°C eleva drasticamente o risco de eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor, secas, incêndios florestais, inundações e extinção de espécies de fauna e flora. Pode também desencadear vários pontos de inflexão climática - como colapsos dos principais sistemas de circulação oceânica, descongelamento abrupto de geleiras e colapso dos sistemas de recifes de corais tropicais, com efeitos irreversíveis e perigosos para a humanidade.

As consequências advindas do aumento de 1,5 °C tornam esse fato um marco importante, mas não é apenas nesse momento que tais consequências começarão a acontecer, como um botão que se liga. É evidente que os impactos climáticos já estão sendo sentidos por todo o mundo.

Ainda dá tempo de salvar o planeta?

Para manter a temperatura média de longo prazo do planeta abaixo do limite de 1,5ºC, o mundo terá que atingir emissões líquidas zero até o ano de 2050, de acordo com o IPCC. Isso significa que, quando consideramos emissões liberadas pela queima de carvão, petróleo e gás natural, o mundo inteiro terá de remover a mesma quantidade que coloca na atmosfera.

Cientistas do Potsdam Institute, em conjunto com pesquisadores internacionais, apontam a necessidade de avanços e implementação de tecnologias de transição energética e remoção de carbono da atmosfera para que esse limite não seja ultrapassado. Os governos têm também papel fundamental para a redução das emissões de gases de efeito estufa, sobretudo por meio de financiamento público e medidas que promovam a energia limpa. O financiamento climático será inclusive o tema principal da COP 29, que acontecerá no final do ano, visto que muitos países dependem de ajuda externa para financiar ações de mitigação climática.

Um relatório apresentado no Fórum Político de Alto Nível da ONU (UNHLPF), em julho, mostra que apenas 15% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão no ritmo correto, e em relação ao ODS 13, sobre Mudanças Climáticas, o cenário não é diferente. Há muito que precisa ser feito, e rápido.

Internamente, governos e empresas devem se unir para promover a expansão do acesso à energia limpa, caminhar rumo ao transporte com zero ou baixa emissão de carbono, focar em melhorias da qualidade do ar, redução dos riscos nas comunidades vulneráveis, que são mais afetadas pelos desastres, promover ações de conscientização da população, entre diversas outras iniciativas.

A nível individual, as escolhas cotidianas de uso de roupas, consumo de carne, uso de carro, aviões e eletricidade, afetam a quantidade de emissões que são adicionadas à atmosfera. Com um esforço conjunto é possível evitar consequências desastrosas em um futuro que está muito próximo.

*Rafael Kenji é médico e Thaís Scharfenberg é internacionalista, consultores em ODS, ONU e sustentabilidade para empresas.

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