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"Temer só não caiu na greve por falta de alternativa", diz sociólogo

Para Ruy Braga, chefe do departamento de Sociologia na USP, governo Temer virou um zumbi: "só as carcaças dos políticos continuam lá"

Presidente Michel Temer (Mario Tama/Getty Images/Getty Images)

Luiza Calegari

Publicado em 4 de junho de 2018 às 17h36.

São Paulo — Ninguém perdeu mais com a greve dos caminhoneiros do que o governo de Michel Temer , segundo a avaliação do sociólogo do trabalho e chefe do departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Ruy Braga.

"É um governo zumbi, um governo que já acabou, só as carcaças dos políticos continuam lá. A grande incógnita é saber por que não caiu com a greve. Na minha opinião, foi única e exclusivamente por falta de alternativa viável. Se ele cair, assume o Rodrigo Maia, se o Maia cair, assume outro títere do Legislativo", opina o sociólogo.

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A expectativa de que a situação se normalize com as eleições, que serão realizadas em outubro, também pesou no cálculo político para não derrubar Temer agora, segundo ele.

Mas a atuação do governo durante a greve dos caminhoneiros certamente foi o ponto baixo da manifestação.

"Ele ficou contra a parede, desarticulado, refém das circunstâncias, sem saber com quem negociar, ou como negociar. A articulação política do governo praticamente se dissolveu. Isso mostra que aquilo que estava sendo ventilado até então, de que apesar do governo ser um fracasso no social era sucesso na economia, revelou-se uma falsidade", avalia.

Mas, se não ficou bem para Temer, também não ficou bem para nenhum outro político, nem mesmo o deputado federal e pré-candidato Jair Bolsonaro, que tentou capitalizar as reivindicações feitas pelo movimento.

"Eu acho pouco provável que um movimento que teve a característica de ser contra a política institucional seja facilmente instrumentalizado por um candidato, mesmo o Bolsonaro.A gente agora precisa esperar as pesquisas de opinião para saber com mais precisão o que houve. Mas o movimento foi muito autônomo, espontâneo, e encontrava-se explicitamente distante do caráter institucional, inclusive dos próprios sindicatos".

Apoio

A grande parcela do apoio que a população deu aos movimentos (87% dos brasileiros apoiaram a manifestação, segundo o Datafolha) vem justamente de seu caráter de enfrentamento ao governo mais impopular da história, acredita Braga.

"Isso e o fato de que a pauta é um assunto sensível para a população. Há uma crise muito aguda que é econômica, política, mas é sobretudo social", afirma. "Normalmente essas rebeliões para tentar controlar os preços que regulam a vida das pessoas têm um apelo popular, e esse apelo é que me parece que consolidou um certo apoio da maioria".

Ganhadores

Os caminhoneiros autônomos conseguiram parte do que estavam reivindicando, na visão do sociólogo, já que eles pediam o retorno a uma política de controle de preços do diesel pela Petrobras, mas obtiveram uma promessa de congelamento e de reajustes mais previsíveis.

Na visão dele, quem mais saiu ganhando foram as grandes empresas transportadoras, que conseguiram a isenção dos impostos pedidos (Cide, PIS e Cofins).

 

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