Questionado sobre cargos, Bolsonaro admite conversas com o centrão
Crítico da chama de "velha política" desde a campanha eleitoral, Bolsonaro se aproximou nas últimas semanas de partidos em busca de apoio no Congresso
Reuters
Publicado em 29 de abril de 2020 às 07h11.
Última atualização em 29 de abril de 2020 às 19h34.
O presidente Jair Bolsonaro admitiu na noite desta terça-feira que tem tido "conversas" com integrantes de partidos do centrão ao ser questionado por jornalistas, em entrevista em frente ao Palácio do Alvorada, se ofereceu cargos para esse grupo de legendas.
"Tenho conversado com eles", disse ele, sem dar detalhes das conversas.
O presidente disse que a administração pública federal tem dezenas de milhares de cargos para serem indicados e destacou não ser possível que tenha o controle pessoal sobre todas as indicações.
"Se o ministro quiser dar um cargo para alguém do partido sem eu saber, você acha que isso pode acontecer? Pode", disse.
Crítico contumaz do chamado "toma lá, dá cá" e do que chama de "velha política" desde a campanha eleitoral, o presidente fez nas últimas semanas uma aproximação com partidos do Congresso a fim de buscar uma base parlamentar.
O movimento ocorre em meio ao surgimento de investigações contra ele e pessoas próximas, a novos pedidos de impeachment, questionamentos à sua conduta em meio à pandemia do novo coronavírus e à crise deflagrada pela acusação feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o presidente quis interferir em apurações conduzidas pela Polícia Federal.
Bolsonaro disse que é mentira que houve negociação do governo em torno da indicação do comando do porto de Santos com o presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulinho da Força (SP). "Acuse, mas depois de publicado no Diário Oficial da União", reclamou.
Falando de si na terceira pessoa, o chefe do Executivo afirmou que há pedidos de impeachment de um "presidente honesto que nunca foi acusado de corrupção e tráfico de influência".
Bolsonaro disse que tem contato com praticamente todos os parlamentares e fez questão de destacar que conversa com o "pessoal do PP", partido ao qual foi filiado há mais de 10 anos. A legenda, integrante do centrão, é uma das que abrigam expoentes investigados pela operação Lava Jato.
Em outro momento de aceno ao Congresso, o presidente destacou que não está no cargo para julgar, condenar e pedir a cassação de qualquer parlamentar.