“Querem enterrar a Lava Jato”, alertam procuradores do MP
Os procuradores alertaram que um substitutivo do projeto de lei coloca "em risco" a maior investigação já desfechada contra a corrupção
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 20h03.
São Paulo - Os procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato alertaram nesta quarta-feira, 9, que um substitutivo do projeto de lei 3636/2015 coloca "em risco" a maior investigação já desfechada contra a corrupção no País.
"Querem enterrar a Lava Jato", disse o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, decano da força-tarefa.
Lima e seus colegas convocaram a imprensa em Curitiba para anunciar o "repúdio à tentativa de líderes partidários de votar em regime de urgência na Câmara dos Deputados o projeto que altera a Lei de Organização Criminosa".
O substitutivo que inquieta os procuradores seria colocado em votação nesta quarta-feira, em regime de urgência, na Câmara. A sessão foi adiada depois que o Ministério Público Federal se manifestou contra a proposta.
Na avaliação da força-tarefa da Lava Jato, na prática, se o texto for aprovado, "vai acabar com os acordos de leniência já fechados em todo o País e barraria todos os outros".
"O substitutivo implicaria na extinção de punibilidade dos crimes, ou seja, a anistia de todos os crimes ocorridos na Lava Jato que estejam no âmbito das empreiteiras", adverte Carlos Lima. "As empresas fazem acordo com órgãos do Executivo e todos os crimes serão perdoados."
"Repetem-se aqui as tentativas do governo anterior de desfigurar a lei anti-corrupção, caracterizando-se essa manobra em intervenção na investigação da Operação Lava Jato e em outras dela decorrentes", afirmam.
O procurador Deltan Dalagnoll é taxativo. "Representaria uma anistia ampla para toda empreiteira que fechar acordo com órgãos do Executivo."
Segundo os procuradores, a alteração na lei que define organização criminosa "implicaria numa mudança de todo o cenário de acordos com empreiteiras e, consequentemente, de delações premiadas fechadas com executivos ligados a esses grupos".
"Não teremos, efetivamente, uma Lava Jato", prevê Carlos Lima.