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Pavio curto, Ciro se controla mais em 3ª tentativa de chegar à Presidência

Pedetista já foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro da Fazenda, deputado federal e ministro da Integração Nacional

Ciro Gomes (PDT): Presidenciável é hoje o nome mais forte do clã dos Gomes (Ricardo Moraes/Reuters)

Ciro Gomes (PDT): Presidenciável é hoje o nome mais forte do clã dos Gomes (Ricardo Moraes/Reuters)

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Reuters

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 20h55.

Última atualização em 5 de outubro de 2018 às 20h56.

Brasília - Destemperado, impulsivo, um homem de opiniões firmes: seja qual for o adjetivo empregado, a fama de pavio curto acompanha o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, em toda sua vida pública, mas, em sua terceira tentativa de chegar ao Planalto, o ex-governador prometeu --e várias vezes até conseguiu-- controlar o temperamento e exercitar a capacidade de diálogo que jura possuir.

Durante a campanha, o candidato pedetista conseguiu se controlar como em poucas vezes em sua carreira --inclusive em entrevistas consideradas duras, Ciro não perdeu a calma. O mérito desse controle, segundo quem o acompanha, vem do marqueteiro Manoel Canabarro, que o treinou para não reagir explosivamente.

A fama de impulsivo não vem sem razão. Aos 60 anos, Ciro já coleciona episódios de irritação pública. Este ano, sem nem mesmo a campanha começar, chamou por um palavrão a promotora que decidiu investigá-lo por injúria racial depois que o candidato chamou o vereador paulistano Fernando Holliday (DEM) de "capitãozinho do mato".

"Ciro é reativo. Diante de uma provocação ele reage. E ele sempre reage num tom acima", admite Cid Gomes, o irmão mais tranquilo do candidato, coordenador da campanha e escalado para tentar domar o temperamento de Ciro.

Para além das frases de efeito, Ciro perdeu as estribeiras apenas uma vez nas cinco semanas de campanha eleitoral, mas o fez com gosto. Em viagem a Boa Vista (RR), xingou e empurrou um jornalista local, acusando-o de ser ligado ao senador Romero Jucá (MDB), depois de ter sido questionado sobre algumas declarações que dera sobre a população de Roraima.

Primogênito de uma família de cinco irmãos, Ciro nasceu em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, terra de sua mãe, Maria José, que fazia questão de estar junto da família para o nascimento dos filhos. No entanto, é paulista apenas na certidão.

Foi criado em Sobral (CE), a 230 quilômetros de Fortaleza, terra do clã dos Gomes há mais de cem anos, onde o pai, o defensor público José Euclides Ferreira Gomes Júnior, foi prefeito no início da década de 1980.

Advogado, Ciro conquistou seu primeiro mandato legislativo em 1982, ao ser eleito deputado estadual pelo PDS, partido ao qual seu pai era filiado. Embora a legenda desse sustentação à ditadura militar, Ciro fez uma campanha independente, para no ano seguinte ingressar no PMDB, de oposição ao regime.

Desde então, já foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, deputado federal e ministro da Integração Nacional no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Também está no sétimo partido -além de PDS e PMDB, foi do PSDB no início do partido, do PPS, PSB, Pros, até chegar agora ao PDT. Ao longo do tempo, foi indo mais para a esquerda, mas diz que não são suas ideias que mudaram, mas os partidos que mudam ao chegar ao poder.

"É fato, é uma tragédia a minha vida partidária", reconheceu Ciro em entrevista durante evento da revista Piauí e da GloboNews em 2016. "Qual político brasileiro da minha estrada não mudou (de partido)? De mim, o que quer se observar? Que eu sou um cara inconstante? Não. Eu penso que eu tenho uma constância. Eu ajudo a fazer o partido, e os partidos vão ao poder e chegam lá e fazem o oposto do que disseram ou, e, se corrompem, podremente", justificou.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, defende a trajetória do candidato de seu partido. "Ele é um homem de palavra. Ele não tem um discurso para cada plateia. Ele tem uma posição e é definida. Isso me agrada, ele não dança conforme a música."

A aproximação com o PDT, segundo Lupi, não é de agora, mas de 2002, quando o partido apoiou Ciro na eleição presidencial, na época pelo PPS.

"Brizola gostava muito dele, o achava muito preparado. Foi ali que começou a aproximação", afirmou Lupi.

"Preparado", "inteligente", são outros adjetivos frequentemente associados ao candidato do PDT, junto com o tradicional "pavio curto" e "temperamental". Mesmo adversários políticos reconhecem a capacidade de Ciro.

"São todos muito inteligentes, mas são difíceis, são diferentes", disse um adversário, referindo-se aos irmãos Gomes. "Ciro é inteligentíssimo, brilhante, mas temperamental. Na terceira pergunta que não gosta, ele explode."

Para Cid, o irmão ainda se indigna com as coisas. "Ele não aceita provocação, é o jeito dele. Será que ele está errado?", questionou Cid, defendendo que hoje as pessoas querem "sinceridade".

"Ele é conhecido pela franqueza, pela sinceridade. É um perfil desejado hoje, eu acho. Ele já disse que está atrás de confiança, não de simpatia."

Irmão mais novo, governador por dois mandatos no Ceará e ex-ministro da Educação no governo de Dilma Rousseff, Cid é tido como bom negociador e capaz de controlar as reações de Ciro.

"Eu tenho dito para ele não falar palavrão em público, em respeito às pessoas. Hoje não existe mais privacidade, em todo lugar tem uma câmera", disse Cid, ao comentar o caso mais recente, em que Ciro xingou a procuradora que determinou inquérito por injúria racial. Ao lançar o impropério, referiu-se a um procurador, aparentemente sem saber que se tratava de uma mulher.

No meio desta campanha, Ciro teve que ser internado por 24 horas. Passou e precisou fazer uma pequena intervenção cirúrgica, uma cauterização em veias próximas à próstata. Deveria ter ficado 48 horas em repouso, mas saiu do hospital direto para um dos debates, na tevê Record.

CLÃ DOS GOMES

Ciro é hoje o nome mais forte do clã dos Gomes e recebe o investimento político da família. Cid, que tem uma eleição para o Senado dada como certa no Ceará, demorou a se decidir a concorrer porque à época se concentrava em coordenar a eleição do irmão. Só resolveu ao ser pressionado pelo próprio Ciro, que o queria no Senado em caso de ser eleito, e depois que o tempo de negociação de alianças - que ele coordenava pessoalmente - se encerrou.

A política corre no sangue dos Gomes. Os filhos de José Euclides foram além do que o pai prefeito de Sobral imaginara. Apenas Lúcio não concorreu a cargos eletivos, mas é secretário do governo de Camilo Santana (PT) no Ceará.

Ivo, o caçula, hoje prefeito de Sobral, foi deputado estadual, secretário municipal e estadual nos mandatos do irmão Cid. A irmã, Lia, decidiu que tentará este ano se eleger deputada estadual, seguindo o caminho dos irmãos -contra a vontade da família, segundo Cid.

O clã dos Gomes é tratado no Ceará como uma oligarquia política e muitas vezes são comparados a outras famílias, como os Magalhães, na Bahia.

"É uma coisa que, claro, incomoda. Nos faz parecer algo que não somos", disse Cid. "Nós não temos poder econômico, não temos rede de comunicação. Somos todos de classe média, não é nossa história."

A vontade de ser presidente é antiga para Ciro. Tentou em 1998, quando terminou em terceiro lugar, depois em 2002, quando ficou em quarto. Queria concorrer em 2010, mas o PSB, então seu partido, não quis lançar candidato. Essa, disse este ano, é sua terceira e última tentativa. Em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, prometeu que, se não for eleito desta vez, deixará a política.

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