Beagle resgatado após invasão no Instituto Royal: "mostraram animais tremendo na TV, mas eles não estão acostumados com isso. Nem sequer estão acostumados a ir para o colo", disse a bióloga (Reprodução/Facebook)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2013 às 10h49.
São Paulo - "Os ativistas disseram que retiraram os animais do Instituto Royal por causa de supostos maus-tratos, mas quem cometeu maus-tratos com os cães foram eles."
Essa foi a reação dos coordenadores do instituto nesta quinta-feira, 24, no primeiro dia em que resolveram vir a público e atender aos pedidos de entrevista desde a invasão, na sexta-feira passada, que culminou com o roubo de 178 cães da raça Beagle.
A declaração acima é da bióloga Silvia Ortiz, gerente-geral do Royal. Segundo ela, se algo causou estresse aos animais foi a "arruaça" promovida durante a invasão.
"A quantidade de fezes e de urina que os ativistas relataram lá dentro.... Você imagina que todos os animais estavam dormindo em uma condição de temperatura, iluminação e umidade controladas. De repente entram 150 pessoas fazendo aquela arruaça, aos gritos. É claro que eles urinaram e defecaram. Os animais ficaram estressados."
"Mostraram animais tremendo na TV, mas eles não estão acostumados com isso. Nem sequer estão acostumados a ir para o colo. O que as pessoas não entendem é que eles não são pets. Os ativistas dizem que agora eles estão em casa, em uma caminha quente, com uma comidinha. Eles não estão acostumados a comer comidinha! Eles comem ração. Vai dar diarreia nesses animais. Muitos podem não estar nem conseguindo comer", alertou.
Silvia deu entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo ao lado do diretor científico do Royal, João Antônio Pegas Henriques. Eles negaram repetidas vezes que houvesse qualquer tipo de maus-tratos aos animais ou que fosse feito no laboratório teste de cosmético nos cães.
"Nós testamos cosméticos, mas só em células, in vitro. Nunca em animais. E nem é lá, mas na unidade de Porto Alegre", explica Henriques.
Sobre a alegação feita pela apresentadora Luisa Mell, que estava na invasão, de que havia ao menos um animal com a pata quebrada e outros com cicatrizes e tumores, Silvia rebateu. "A pessoa fala que a cadela estava com calombos, gorda. Mas ela estava prenha! Ela não sabe apalpar e sentir que é um feto. Não tem cicatriz nenhuma. Mostraram um animal sem olho dizendo que era do Royal e depois desmentiram. Também não tem pata quebrada, a não ser que algum animal tenha sido quebrado na retirada", diz.
Eles ainda não estimaram os prejuízos financeiros e científicos, mas dizem que "não deve ser pouca coisa". Segundo Henriques, microscópios avaliados entre R$ 80 mil e R$ 100 mil foram quebrados e equipamentos de laboratório, computadores e materiais de testes, levados.
"Além de perdermos as pesquisas que estavam em andamento para drogas anticâncer, diabete, hipertensão, epilepsia, de antibióticos e anti-inflamatórios, ainda desperdiçamos toda a pesquisa para a padronização genética dos cães usados. Foram dez anos para que eles chegassem aos níveis de padrão internacional para testes de fármacos", afirma Henriques.
Segundo ele, testes do laboratório levaram à aprovação de uma droga antimalária da Fiocruz e de mais outros três medicamentos que estão no mercado. Ele não quis informar, no entanto, quais são os produtos nem de quais farmacêuticas,
Boas práticas
Apesar de cães serem usados em outros laboratórios, em especial em universidades, Royal é o único do País que tem o reconhecimento de Boas Práticas de Laboratório (BLP) - e por isso outros não fazem testes de fármacos de empresas. O instituto também é o único criador de beagles voltados para pesquisas. Segundo Sílvia, cada filhote custa em torno de R$ 2,4 mil. Fêmeas usadas para procriação são mais caras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.