Pagamento a políticos é prova de corrupção, diz Costa
Ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa disse que o fato de vários deputados e senadores terem recebido recursos é uma prova de que o esquema era realidade
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 19h56.
Brasília e Curitiba - Delator do esquema de corrupção na Petrobras , o ex-diretor da petroleira Paulo Roberto Costa afirmou que "o fato de vários deputados e senadores terem recebido recursos e dele mesmo ter sido beneficiado é uma prova concreta de que o esquema era uma realidade." Conforme o ex-diretor, os repasses são a "prova da existência da verba de uso político e do repasse a parlamentares."
As informações de Paulo Roberto no processo da Operação Lava Jato implicaram ao menos 28 políticos do PT, PMDB e PP e as próprias estruturas partidárias.
Essas siglas deram sustentação política para o delator comandar a diretoria de Abastecimento da Petrobras por quase oito anos, nos governos Lula e Dilma Rousseff, do PT. Em troca, segundo Paulo Roberto, recebiam um porcentual sobre os contratos assinados na sua área.
"Acerca da ingerência política na empresa, refere que em vista da sustentação política governamental alguns cargos junto a estatais, dentre elas a Petrobras, são liberados para a indicação pelos partidos que compõem a base aliada", afirmou, em depoimento no dia 15 de setembro do ano passado.
Segundo o delator, sua "indicação e permanência no cargo estava relacionada ao PT, PP e ao PMDB."
O dinheiro da propina era distribuído para parlamentares e partidos. O PT e o PMDB, afirmou Paulo Roberto, também lhe pediram recursos para a campanha eleitoral de 2010. No depoimento, ele não especificou se era para a eleição presidencial (a petista Dilma Rousseff foi eleita para seu primeiro mandato neste ano) ou estadual.
"Os parlamentares do PP, de regra, não lhe faziam solicitações de recursos a fim de que levasse o pleito às empreiteiras, tendo recebido, entretanto, solicitações do PT e PMDB para a campanha de 2010."
Paulo Roberto também revelou que o PT e o PMDB recebiam a propina sem qualquer "desconto." Ao contrário do que era repassado para o PP. Do valor pago pelas empreiteiras em troca dos contratos, 60% era destinado ao PP, 20% destinado aos custos (como a emissão de notas fiscais frias), e os outros 20% eram divididos entre o ex-diretor e o doleiro Alberto Youssef.
"No caso de recursos destinados a outros partidos, o repasse era feito sem a cobrança de comissão, apenas ressarcimento de gastos."
As principais diretorias da empresa eram controladas pelo PT: Serviços (responsável por grandes investimentos, superiores a R$ 20 milhões), Exploração e Produção (maior orçamento da Petrobras) e Gás e Energia eram controladas pelo PT.
"Todos os valores a título de sobrepreço eram destinados ao PT, competindo a Renato Duque (ex-diretor de Serviços) a alocação desse montante conforme as orientações e pedidos que recebesse do PT." O PMDB tinha a Diretoria Internacional e o PP, a de Abastecimento.
No mesmo depoimento, Paulo Roberto também afirmou que o tesoureiro do PT, João Vaccari, tinha "frequentes reuniões" com Renato Duque, mas que não saberia dizer de forma assertiva os detalhes sobre como o dinheiro desviado chegava ao partido do governo.
Em depoimento à Operação My Way (nona fase da Lava Jato), Vaccari afirmou que se reuniu com Duque num hotel do Rio de Janeiro algumas vezes, mas os relatou como encontros sociais.
Se o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, acatar a denúncia, os 35 envolvidos serão julgados por crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro e crime de corrupção. Segundo o relatório divulgado pela Procuradoria, as penas podem chegar a 127 anos de detenção, caso o réu seja considerado culpado pelos crimes de organização criminosa, 3 atos de corrupção e 3 atos de lavagem de dinheiro. A Mendes Júnior, por exemplo, teria acumulado 53 atos de corrupção. Veja a lista de penas possíveis para cada crime:
Crime | Pena mínima | Pena Máxima |
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Organização criminosa | 4 anos e 4 meses | 13 anos e 4 meses |
Corrupção | 2 anos e 8 meses | 21 anos e 4 meses |
Lavagem de dinheiro | 4 anos | 16 anos e 8 meses |
Mendes Junior + GFD | |
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Denunciados | 16 |
Corrupção da empresa (R$) | 71.602.688,48 |
Ressarcimento buscado (R$) | 214.808.065,45 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 8.028.000,00 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 53 corrupções e 11 lavagens + 30 lavagens |
Camargo Corrêa + UTC | |
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Denunciados | 10 |
Corrupção da empresa (R$) | 86.457.578,91 |
Ressarcimento buscado (R$) | 343.033.978,68 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 36.876.887,75 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 11 corrupções e 7 lavagens |
Engevix | |
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Denunciados | 9 |
Corrupção da empresa (R$) | 52.977.089,89 |
Ressarcimento buscado (R$) | 158.931.269,69 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 13.432.500,00 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 33 corrupções e 31 lavagens |
Galvão Engenharia | |
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Denunciados | 7 |
Corrupção da empresa (R$) | 46.063.344,24 |
Ressarcimento buscado (R$) | 256.546.958,55 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 5.512,430,00 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 37 corrupções e 12 lavagens |
OAS | |
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Denunciados | 9 |
Corrupção da empresa (R$) | 29.321.227,22 |
Ressarcimento buscado (R$) | 213.039.145,36 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 10.300.038,93 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 20 corrupções e 14 lavagens |