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Em entrevista a Reinaldo Azevedo, Lula defende auxílio de 600 reais

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, ex-presidente afirma que benefício menor não é suficiente para ajudar pessoas mais vulneráveis

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva | Foto Adriano Machado/ Reuters (Adriano Machado/Reuters)

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva | Foto Adriano Machado/ Reuters (Adriano Machado/Reuters)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 1 de abril de 2021 às 18h48.

Última atualização em 1 de abril de 2021 às 20h00.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quinta-feira, 1º, o presidente Jair Bolsonaro pela condução da política durante a pandemia do novo coronavírus. Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, na BandNews, ele defendeu a manutenção de um auxílio emergencial de 600 reais para pessoas em situação de vulnerabilidade.

"Deixa de ser ignorante, presidente. Pare de brigar com a ciência, pare de tentar falar com seus milicianos", cobrou Lula. Segundo ele, o auxílio abaixo de 600 reais não é suficiente para que as pessoas consigam arcar com os prejuízos da crise gerada pelo coronavírus. "Temos que garantir a ajuda emergencial para que o povo possa ficar em casa, possa comer, e para o micro empreendedor continuar aberto e funcionando", afirmou.

Lula também pediu a Bolsonaro que "feche a boca" e pare de comentar assuntos que ele não domina. "Fecha a boca, Bolsonaro. Não adianta ficar falando bobagem. Deixa o médico falar por você. Da mesma forma que você não sabe falar de economia, não fale de saúde. Deixa o ministro da saúde falar, deixa o pessoal do SUS falar, deixa os governadores falarem."

O ex-presidente defendeu a vacinação em massa como "única solução" para a saída da crise do coronavírus. "Essa crise é uma guerra da natureza contra a humanidade. É uma guerra que se espalhou pelo planeta inteiro. Não tem país rico ou país pobre. E a única solução para ela é a vacina", disse. "E a gente não sabe se a vacina serve para todas as cepas. Os governantes têm que se reunir", defendeu.

Ele lembrou ter mandado recados para os presidentes Joe Biden, nos Estados Unidos, Angela Merkel, na Alemanha, e Emmanuel Macron, na França, na tentativa de uma convocação do G20 para discutir a crise da covid-19. Estou convencido que, do jeito que essa gente está pensando, não tem resposta para o Brasil. Não tem solução de curto prazo", disse.

"Lamentavelmente, a gente tem um presidente que não consegue falar com nenhum presidente. Jogou todas as fichas em cima do Trump. Esse cara, ninguém quer conversar com ele. Se estiver em uma calçada e passar outro presidente, o presidente muda de calçada. Ele se fez assim", disse Lula.

Lula também criticou as escolhas de ministros, tanto de Carlos Alberto Franco França, recentemente nomeado ao Itamaraty, quanto do antecessor, Ernesto Araújo, a quem chamou de "bruto, ignorante e menos diplomático". "Tira o cara e coloca um que nunca nem foi embaixador. Pode ser um ser humano fantástico, mas o motivo é por ser íntimo da família do Bolsonaro", disse. "Não tem cacife para ser ministro das Relações Exteriores", afirmou.

Eleições 2022

Lula afirmou que não necessariamente será o candidato à Presidência da República em 2022, mas discutiu possíveis cenários. "O PT é um partido grande e trabalha com aliança. Tenho certeza que a gente vai construir aliança com setor de esquerda, e tenho certeza que, se for preciso chegar no centro para ganhar as eleições, a gente vai procurar", disse Lula.

"Fui presidente da República, convivi com essa gente", continuou. Perguntado sobre a possibilidade de Luiza Trajano ser vice em uma eventual chapa, Lula disse achar que ela não teria interesse em entrar para a política. "Ela é uma mulher excepcional. Eu não acredito que a Luiza se meta na política, sinceramente", considerou.

Para ele, há espaço para muitos candidatos. "Num país deste tamanho, com essa cultura, você não inventa candidato. Se você inventa, o resultado é nefasto", disse. "Acho normal que cada um procure seu rearranjo político. O Brasil é muito grande", afirmou. "Quem quiser ser candidato, que se lance, defenda seu programa, vá para a televisão. No final, o povo vai escolher dois para o segundo turno."

Lava Jato

Na entrevista, Lula também afirmou que o objetivo da Operação Lava Jato não era combater a corrupção, mas impedi-lo de concorrer às eleições. "O objetivo da Lava Jato era menos combater a corrupção e era mais um objetivo político. Imaginava que poderia destruir partidos, desmoralizar o Congresso, desmoralizar a Suprema Corte. E tinha projeto político. O Moro foi tratado como se fosse Deus", afirmou.

Segundo o ex-presidente, não havia motivos para levá-lo a Curitiba. "Mas era preciso me levar, porque, se eu não entrasse na Lava Jato, não tinha objetivo a Lava Jato. O objetivo era tirar Lula das eleições", afirmou. "Estou muito tranquilo que a Lava Jato saiu da minha vida. Era o que eu queria desde 2016", continuou.

O ex-presidente afirmou que foi preso "de cabeça erguida" porque tinha certeza das mentiras contadas durante a operação. "Essa gente acredita que a Terra é plana. Eu acredito que a Terra é redonda, e o mundo gira. Essa verdade viria à tona", disse.

"Hoje posso dizer que não tenho mais nada com a Lava Jato. Continuo dormindo tranquilo. Tenho certeza que o Moro não dorme tranquilo, o Dallagnol não dorme tranquilo. E essa gente vai ser julgada ainda", sentenciou Lula. "Tenho desafiado o mundo a mostrar uma prova de acusação contra mim", acrescentou.

O ex-presidente também disse ser contra um "governo empresarial". "Acontece que eu sou contra o governo empresarial, mas eu sou favorável a um governo que seja indutor do processo de desenvolvimento. Alguns setores estratégicos não serão privatizados, importante dizer isso", pontuou.

 

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