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Dilma Rousseff é reeleita presidente do Brasil

Após campanha conturbada, candidata petista consegue a reeleição e PT ficará mais 4 anos no poder

Menina vestida com camiseta com imagem de Dilma na época da Ditadura segunda bandeira com o nome da candidata do PT (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Menina vestida com camiseta com imagem de Dilma na época da Ditadura segunda bandeira com o nome da candidata do PT (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2014 às 19h58.

São Paulo – A petista  Dilma Rousseff, 66 anos, foi reeleita presidente do Brasil neste domingo (26), na eleição mais acirrada desde a redemocratização. Dilma derrotou o candidato do PSDB Aécio Neves no segundo turno das eleições.

Com a reeleição de Dilma, o PT entra em seu quarto mandato consecutivo à frente do mais alto cargo executivo do país. Dilma deverá enfrentar agora uma situação econômica adversa e um Legislativo dividido.

“A grande dificuldade do governo vai ser lidar com a fragmentação do Congresso, que cresceu nessa eleição. Alguns partidos antes muito pequenos agora têm peso para fazer alguma barganha política com mais força”, afirma o cientista político Wagner Romão. 

Romão avalia que, diferentemente de 2010, quando Dilma era uma aposta de Lula, agora a presidente tem “estatura própria”.

“Nesta campanha Dilma teve um mandato para apresentar. Obviamente que ela não está tolamente separada da figura do Lula, mas já tem estatura própria e, nesse sentido, teve muito mais segurança para se colocar nos debates, por exemplo”, afirma Romão.

A candidata Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula durante caminhada em Recife durante a campanha (Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Divulgação)

O caminho para a vitória não foi fácil para a petista. A eleição deste ano foi uma das mais conturbadas da história democrática do país. Desde a morte de Eduardo Campos até os debates marcados por ataques e acusações, a campanha de Dilma Rousseff passou por muitas fases.

No início, a campanha centrou fogo no tucano Aécio Neves, representante do partido tradicionalmente antagônico ao PT. Mas com a morte de Eduardo Campos e a ascensão de Marina Silva, candidata a vice-presidente que assumiu o lugar de Campos, todas as armas do partido se voltaram contra Marina, que não passou do primeiro turno.

A campanha no segundo turno das eleições retomou a tradicional rivalidade entre PT e PSDB e o clima ficou tenso, com trocas diárias de acusações.

Os dois primeiros debates do segundo turno, promovidos por Band e SBT, transformaram-se em um ringue de batalha. Dilma e Aécio acusaram-se mutuamente. O público reagiu mal aos confrontos, mostraram as pesquisas, e nos confrontos seguintes os candidatos mudaram a estratégia e voltaram a discutir propostas de governo.

Das quatro eleições vencidas pelo PT, esta foi a mais difícil. Das motivadas manifestações de junho de 2013, que levaram milhares de pessoas às ruas das grandes cidades brasileiras, aos resultados econômicos nada animadores e as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, Dilma enfrentou várias críticas. 

O Primeiro Governo

Em 2010, Dilma venceu as eleições presidenciais também no segundo turno, com 56% dos votos, derrotando o candidato do PSDB, José Serra, e tornando-se a primeira mulher a assumir a presidência do Brasil.

Sem nunca antes ter sido eleita para um cargo público, Dilma foi escolhida pessoalmente por Lula para ser sua sucessora. Embora os dois sejam muito próximos, têm perfis de liderança diferentes. Enquanto Lula ficou conhecido por seu carisma, pela facilidade que tem em falar com a população e pela naturalidade com que se comportava em pronunciamentos oficiais e na frente das câmeras, Dilma parecia ser completamente avessa aos holofotes.

A candidata Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula durante caminhada em Recife durante a campanha (Valter Campanato/Agência Brasil)

Durante sua gestão como ministra-chefe da Casa Civil, de 2005 a 2010, tornou-se conhecida pelo perfil centralizador e técnico. As fortes cobranças a ministros e assessores fez surgir o apelido de “dama de ferro”.

Sobre sua fama de brava, Dilma disse em entrevista à apresentadora Hebe Camargo, em 2011, que nunca ouviu ninguém chamar políticos homens de bravos.

“Aí eu cheguei à conclusão de que só existiam homens meigos e que a única pessoa brava era eu. O que eu acho que acontece é que a mulher não é vista como sendo capaz de dirigir, liderar. Então a liderança é vista como uma nota falsa na questão da mulher. Que a mulher tem que ser só meiga, bem quietinha. Eu sou uma pessoa que exijo. Eu tenho de prestar contas para o povo brasileiro, então eu me cobro e cobro as pessoas da mesma forma que me cobro”, disse Dilma.

Quando assumiu como “presidenta”, como costuma se referir ao cargo, Dilma tentou suavizar o tom – ao menos publicamente – para evitar conflitos.

Lula entregou a Dilma um país em ritmo acelerado de crescimento econômico, com a taxa de desemprego caindo e cada vez mais brasileiros ascendendo à classe média. No governo Dilma, o PIB do país teve um crescimento de 2% por ano entre 2011 e 2013, a média mais baixa desde o governo Collor.

Em 2014, os dois primeiros trimestres tiveram resultados negativos, indicando que o país está em recessão técnica. A inflação acumulada nos últimos 12 meses é de 6,51%, ligeiramente acima da meta do governo. A inflação alta e os mecanismos para mantê-la dentro da meta – como o represamento de preços da Petrobras – estiveram no centro das críticas à política econômica do governo petista.

Os últimos dois anos do governo foram especialmente conturbados e colocaram em risco a reeleição de Dilma. As manifestações de junho de 2013 levaram milhões de brasileiros às ruas. Primeiro, contra o aumento das tarifas de ônibus, depois contra tudo o que consideravam errado no país.

Depois das manifestações, o governo federal lançou cinco pactos, aprovados pelo Congresso Nacional: pela responsabilidade fiscal, pela reforma política, pela saúde, pela mobilidade urbana e pela educação.

As denúncias de corrupção na Petrobras, que vieram à tona com o depoimento do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, tornaram o ano e a campanha eleitoral ainda mais conturbados.

Vida pessoal e militância

Filha do engenheiro e poeta búlgaro naturalizado brasileiro Pedro Rousseff, e da professora brasileira Dilma Jane Silva, Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte (MG).

De família de classe média, começou a se envolver com política aos 16 anos, quando transferiu-se de um colégio tradicional de feiras de Belo Horizonte para uma escola pública, o Colégio Estadual Central, em 1964 – ano do golpe militar.

Dilma começa a militar em movimentos de resistência à ditadura. Em 1967, já cursando Ciências Econômicas na Universidade Federal de Minas Gerais, Dilma passa a militar no Colina (Comando de Libertação Nacional).

Apoiador de Dilma Rousseff (PT) tira foto de banners com a imagem da presidente durante uma marcha em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

Em 1969, casa-se com o advogado e militante de esquerda Carlos Araújo, com quem teve sua única filha, Paula Rousseff Araújo, hoje mãe de Gabriel, sempre visto com a avó.

Já vivendo na clandestinidade, Dilma usou diversos codinomes para não ser encontrada pelo governo militar, como Estela, Luiza, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda.

Em janeiro do ano seguinte é presa em São Paulo e fica detida na Oban (Operação Bandeirantes) onde é torturada. Depois, é enviada ao Dops. Libertada em 1973, muda-se para Porto Alegre onde volta a estudar Ciências Econômicas, desta vez na Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Na mesma época, filia-se ao PDT.

Vida política

Antes de ser eleita presidente, Dilma nunca havia concorrido a um cargo público, mas participou de diversos governos. Entre 1986 e 1989, ocupou o cargo de secretária da Fazenda da Prefeitura de Porto Alegre, depois, entre 1991-1993, foi presidente da Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul.

Foi também secretária de estado de Energia, Minas e Comunicações nos governos de Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT), no Rio Grande do Sul.

Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 2001. Foi escolhida para coordenar a equipe de infraestrutura do governo de transição entre o último mandato de Fernando Henrique Cardoso e o primeiro de Lula.

Depois, foi a escolhida de Lula para o Ministério de Minas e Energia entre 2003 e 2005 e depois para o lugar de José Dirceu na Casa Civil.

No início do ano de 2009 descobriu um câncer no sistema linfático, tratou-se e foi considerada curada em setembro do mesmo ano.

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