Na Papuda, advogados cobram até R$ 900 por notícias de infectados
Nenhum outro complexo prisional brasileiro, até agora, teve tantos casos de infectados na pandemia. Há ainda 30 agentes penitenciários infectados
Agência O Globo
Publicado em 22 de abril de 2020 às 08h17.
Última atualização em 22 de abril de 2020 às 08h19.
A ligação feita pela servidora do sistema prisional, de dentro do Complexo da Papuda, em Brasília, durou exatamente 1 minuto e 41 segundos. Shirley (o nome é fictício, a pedido das pessoas envolvidas) atendeu à chamada. A funcionária queria saber se ela tinha algum parente dentro da Papuda, onde estão confinados 13,4 mil detentos, em quatro presídios distintos.
Shirley disse que o irmão estava preso no bloco chamado Centro de Internamento e Reeducação (CIR), deu o nome dele e ficou muda ao telefone, diante da iminente má notícia. A servidora informou, em seguida, que o preso havia sido diagnosticado com Covid-19 , que passou a ficar isolado e que vinha recebendo assistência médica desde então.
Foi a única notícia recebida por Shirley. O mesmo ritual se repetiu para as famílias de 72 presos infectados pelo novo coronavírus dentro da Papuda. Nenhum outro complexo prisional brasileiro, até agora, teve tantos casos de infectados na pandemia. Na Papuda, há ainda 30 agentes penitenciários infectados, o que eleva para 102 o número de casos, de acordo com dados divulgados na última segunda-feira.
A situação fez espalhar o pânico e o medo entre os milhares de presos e familiares, que temem que o vírus se espraie pelo complexo. E o isolamento a que todos os detentos foram submetidos — as visitas de advogados e parentes estão vedadas — fez surgir uma espécie de mercado de informações sobre a saúde dos detentos. Tem até preço: entre R$ 300 e R$ 900.
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