Mortes por covid-19 no Rio crescem 33% em duas semanas
O infectologista Alberto Chebado, diretor da divisão médica do Hospital do Fundão, precisou abrir ontem mais leitos para pacientes com coronavírus
Agência O Globo
Publicado em 21 de agosto de 2020 às 09h08.
O Estado do Rio ultrapassou a marca de 15 mil mortes em decorrência da covid-19 . Segundo a Secretaria estadual de Saúde, desde o início da pandemia, em março, foram quase 206 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus e 15.074 óbitos. Na capital, a média móvel registrada ontem foi de 52 mortes por dia, acendendo um alerta. Na comparação com duas semanas atrás, o número subiu 33%, o que indicaria uma tendência de aumento dos óbitos.
A prefeitura, no entanto, negou que o Rio esteja em um momento que chamou de “repique de casos da Covid”. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, uma mudança nos critérios da confirmação de mortes, feita pelo Ministério da Saúde no início do mês, estaria levando ao aumento.
Pelo número atual de internações e de óbitos, a cidade deveria estar, de acordo com o painel de indicadores da própria prefeitura na segunda fase de flexibilização, iniciada em 16 de junho, e não na quinta, como agora.
De acordo com a prefeitura, mortes baseadas no quadro clínico e radiológico passaram a ser confirmadas em data posterior à ocorrência, sem a necessidade de exame laboratorial, causando impacto nas estatísticas. Ainda segundo a prefeitura do Rio, a Vigilância em Saúde “trabalha com a avaliação e monitoramento de vários indicadores e não dados isolados”.
Ainda segundo o município, o quadro de indicadores de retomada quadro é "observado no ato da mudança de fase no Plano de Retomada. No momento do avanço, esses fatores são avaliados e é tomada a decisão pelo avanço ou pelo adiamento." A prefeitura ainda diz que "os dados são dinâmicos e podem mudar a indicação, sem que haja retrocesso na retomada.".
Curva no estado é considerada estável, apesar do crescimento
A média móvel no estado do Rio nesta quinta-feira foi de 2.547 casos — a maior desde 26 de julho — e 94 mortes por dia. Isso representa um crescimento de 11,6% no número de vítimas fatais, em comparação com duas semanas atrás. O cenário, no entanto, é tido como de estabilidade na transmissão do vírus, já que especialistas só consideram crescimento quando o percentual ultrapassa os 15%.
A análise dos números foi feita a partir do levantamento do consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde. A média móvel é um recurso estatístico para conseguir enxergar a tendência dos dados, abafando o “ruído” causado pelos finais de semana, quando as notificações são mais baixas por causa do menor número de funcionários de plantão. O indicador é uma média das mortes registradas em um dia e nos de seis dias anteriores.
Próximos dias preocupam
Segundo especialistas, ainda são necessárias algumas semanas para uma avaliação mais profunda do quadro no estado e na capital. No entanto, o infectologista Alberto Chebado, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor da divisão médica do Hospital Clementino Fraga Filho (Hospital do Fundão), já demonstra preocupação. Ele contou que precisou abrir ontem mais leitos para o tratamento de Covid-19 na unidade e atribuiu o aumento de casos à flexibilização.
— Hoje (quinta-feira) já tive que abrir leitos de Covid-19 no hospital. Estamos vendo a demanda aumentar nos últimos dias. Acredito que a tendência é de que surjam novos casos, e o aumento da média móvel de mortes pode ser consequência disso. É um reflexo das taxas de isolamentos das últimas semanas. Os números provocados pela reabertura começam a aparecer — analisa Chebabo.
O professor do Instituto de Medicina Social da Uerj Mario Roberto Dal Poz também diz que é preciso monitorar os próximos dias para se ter uma análise mais precisa do atual comportamento da pandemia:
— Apesar de ser preocupante, precisamos investigar as datas dos óbitos e monitorar para saber se aumentou e quanto — analisa.
Para o infectologista Marcos Junqueira do Lago, coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Uerj, a falta da estabilidade na queda de números da doença é resultado do isolamento falho feito no auge da pandemia.
— É difícil tirar uma conclusão com a oscilação em apenas um dia. Pode ser indicar apenas uma tendência. Temos que lembrar que no Estado do Rio a incidência de casos foi das mais altas do país. Até mesmo que a de São Paulo, se levarmos em conta o índice populacional. Na prática, apenas as pessoas do grupo de risco fizeram o isolamento e que também começaram a sair. Por não conseguir fazer o isolamento necessário, o Rio não está conseguindo baixar o número de casos — avalia o infectologista.