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Lula busca dissidentes em meio a racha no PL, lideranças admitem que 25% podem votar com o governo

A cisão entre aliados de Bolsonaro e aqueles mais ligados ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, tem se reproduzido nas Assembleias Legislativas de estados

PL: Nos cálculos de lideranças do próprio PL, até um quarto dos 110 deputados e senadores da sigla tendem a votar com o Executivo (PL/Facebook/Reprodução)

PL: Nos cálculos de lideranças do próprio PL, até um quarto dos 110 deputados e senadores da sigla tendem a votar com o Executivo (PL/Facebook/Reprodução)

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Agência O Globo

Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 10h20.

Mergulhado em conflitos internos após as eleições de 2022, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, passou a ser visado pela articulação política do governo Lula (PT), que busca ampliar sua base de apoio no Congresso atraindo parlamentares menos vinculados ao bolsonarismo.

Nos cálculos de lideranças do próprio PL, até um quarto dos 110 deputados e senadores da sigla tendem a votar com o Executivo, como antecipou o blog da colunista Malu Gaspar, do GLOBO. Eles evitam, contudo, uma adesão explícita para não inviabilizar a convivência com a bancada bolsonarista.

A cisão entre aliados de Bolsonaro e aqueles mais ligados ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, tem se reproduzido nas Assembleias Legislativas de estados em que o PL fez as maiores bancadas, como São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina. No Rio, o governador reeleito Cláudio Castro (PL) entrou em rota de colisão com a cúpula da sigla em meio a acenos a Lula, com quem trocou afagos, ontem, durante uma visita do presidente à capital fluminense.

Passadas as eleições na Câmara e no Senado, o PT avançou em negociações com siglas que deram suporte ao governo Bolsonaro, como PP e Republicanos, na tentativa de assegurar maioria em votações no Congresso. No caso do PL, a aproximação é mais delicada devido à necessidade de equilibrar exigências da base bolsonarista, que ajudou o partido a formar a maior bancada da Câmara e a segunda maior do Senado, com as intenções de parlamentares mais habituados ao governismo. Em entrevista à CNN Brasil em janeiro, o próprio Valdemar disse que alguns deputados “dependem muito do governo federal” para atender seus redutos.

Sem oferecer, por ora, uma entrada no governo, petistas buscam abrir pontes com o PL. No último dia 28, o deputado Luciano Vieira (PL-RJ) participou de uma reunião do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com parlamentares do Rio. Vieira, que se lançou como candidato avulso à 2ª vice-presidência da Câmara contra o bolsonarista Sóstenes Cavalcante, que teve apoio oficial do partido, disse que seu objetivo foi de “marcar posição” e mostrar “independência”.

“Alguns querem votar tudo contra o governo. Se eu for radical assim, vou prejudicar meu eleitor. Tem que conversar“, disse Vieira.

Reservadamente, um cacique do PL ouvido pelo GLOBO avalia que, apesar da importância do capital político de Bolsonaro, o partido estaria prejudicando a si mesmo caso alimente um isolamento extremista. Na tentativa de calibrar esta balança, Valdemar barrou articulações da ala bolsonarista da sigla para lançar uma candidatura contra Arthur Lira (PP-AL), reeleito com votação recorde na Câmara, conforme mostrou ontem o blog da colunista do GLOBO Bela Megale. Em paralelo, Valdemar tem relaxado nos bastidores o discurso, adotado após as eleições, de que o PL faria uma “oposição certeira” a Lula.

“Não sei dizer (se vai ser oposição). Nada decidido“, comentou o deputado federal Jonga Bacelar (PL-BA).

Em estados das regiões Norte e Nordeste, parlamentares do PL que se engajaram na campanha de Bolsonaro já preparam uma guinada rumo a Lula. Bacelar foi um dos cinco deputados reeleitos da sigla, todos de estados nordestinos, que votaram, ainda no ano passado, a favor da PEC da Transição para viabilizar a continuidade do Bolsa Família de R$ 600, apesar da orientação contrária do partido.

Outro caso é o de Josimar Maranhãozinho (PL-MA), investigado pela Polícia Federal por fraudes em licitações com verba federal na gestão Bolsonaro, e que acertou neste ano a entrada do PL na base do governador Carlos Brandão (PSB), aliado de Lula. Já o deputado Fernando Rodolfo (PL-PE) escreveu em suas redes sociais, após o segundo turno, que a busca por “alinhamento” com Lula era uma forma de reconhecer a “soberania das urnas” e “pacificar o país”. Entre os novatos na Câmara, o discurso é semelhante.

“Minha concepção é de primeiro avaliar (os projetos) e, se for algo benéfico, votar de acordo com a minha consciência“, afirmou Ícaro de Valmir (PL-SE).

'Trabalhar juntos'

Em suas movimentações para angariar apoios no partido de Bolsonaro, Lula exibiu tom amistoso ontem com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), durante evento de inauguração de unidades de saúde capitaneado pelo prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Sentados lado a lado, Lula e Castro trocaram sorrisos e conversas ao pé do ouvido na cerimônia.

“O que importa é nossa capacidade de trabalhar juntos. O Rio tem conseguido essa maturidade. Não há divisão, há união“, disse Castro.

A relação entre Castro e o presidente estadual do PL, deputado Altineu Côrtes, líder do partido na Câmara, ficou estremecida após ambos apoiarem alas opostas do PL na eleição à presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Após vencer a queda de braço e emplacar seu nome preferido, Castro acenou nos bastidores com a possibilidade de deixar o PL ou de exigir o comando do partido no estado — publicamente, os dois lados negam que o entrevero tenha escalado a este ponto.

Nos outros três estados em que o PL tem maioria legislativa, os rachas entre bolsonaristas e “valdemaristas” tiveram desdobramentos nas assembleias. Em Santa Catarina, o governador Jorginho Mello (PL) articulou a substituição da bolsonarista Ana Campagnolo da Mesa Diretora da Alesc para incluir Maurício Eskludark, membro do “PL raiz”, e atender acordos com outras siglas. No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) manobrou e conseguiu que a indicação do PL à Mesa fosse de um nome mais simpático à sua gestão, Danilo Bahiense, em detrimento do bolsonarista Capitão Assumção. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas acertou o apoio a André do Prado para presidir a Alesp, frustrando o bolsonarismo, que pretendia lançar Gil Diniz.

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