Judiciário não deve satanizar os políticos, diz Toffoli
Para o ministro do STF, tanto a política, quanto os políticos representam "a seara do jogo democrático"
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 09h05.
Última atualização em 19 de março de 2018 às 11h51.
Washington - O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal , ministro Dias Toffoli, afirmou nesta quinta-feira, 15, em Washington (EUA), que o Judiciário não deve "satanizar" a política e os políticos, porque eles representam "a seara do jogo democrático".
Toffoli disse ainda que o combate à corrupção no Brasil não decorre da ação de um juiz, de um promotor ou de um "herói", mas é fruto de mudanças legislativas que reforçaram a eficácia e o poder dos órgãos de controle.
Sem fazer referência a casos concretos, o ministro afirmou que os integrantes do Supremo devem ter cautela para não extrapolar suas funções e acabar exercendo atribuições que cabem a outros Poderes.
"Se quisermos ditar o que é o futuro da sociedade, sem ter o poder político representativo, nós estaremos cometendo um grande equívoco, porque não são 11 cabeças iluminadas, ou meia dúzia, que é o que forma a maioria, que são capazes de discutir o futuro do Brasil", declarou.
Toffoli deu as declarações durante conferência sobre combate à corrupção organizada pela American University. Ele não deu entrevista após o evento.
Entre os temas que o STF julgará nas próximas semanas estão o pedido de habeas corpus contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.
Em sua exposição, Toffoli fez um histórico de mudanças legislativas que, segundo ele, fortaleceram os instrumentos de combate à corrupção no País, entre as quais a Lei Anticorrupção e a que regulamentou a delação premiada.
"Essas leis foram aprovadas pelo Congresso Nacional, Congresso Nacional eu citei aqui, que tem dezenas ou centenas de processos em investigação, mas foi este o poder democrático que o fez", disse, fazendo referência a casos de parlamentares que estão no STF.
"Foram presidentes da República que hoje são investigados ou condenados que fizeram a sanção dessas normas ou que propuseram essas normas. Então eu concluo que nós, juízes, não temos que satanizar a política ou os políticos, porque ali é a seara do jogo democrático."
'Projeto'
Sem mencionar o juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância, Toffoli criticou a personalização dos esforços de combate à corrupção e os apresentou como resultado do processo de aperfeiçoamento da legislação depois da Constituição de 1988.
"Nós não podemos colocar e ter a ideia de que o que está acontecendo hoje no Brasil seja a ideia de um herói. Isso joga contra as instituições."
"Não é resultado da vontade de uma pessoa, não é resultado da vontade de um juiz ou de um promotor. Não é a vontade de um grupo de membros da magistratura ou do Ministério Público ou da polícia. É muito mais do que isso. É um projeto de Estado, é um projeto de nação, é um projeto de sociedade desenvolvida, democrática, em que os controles acontecem e as instituições funcionam", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.