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Hapvida: médico relata pressão por cloroquina e recusa de testes de covid

Felipe Peixoto Nobre, ex-funcionário da empresa de saúde, relata ameaças de demissão para quem não receitava 'kit covid' e que casos suspeitos não eram testados, exceto em internações

 (Hapvida/Divulgação)

(Hapvida/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 4 de outubro de 2021 às 08h04.

A operadora de saúde Hapvida, dona da maior presença nas regiões Norte e Nordeste, é acusada de pressionar médicos para cumprirem metas de prescrição de “kit covid” para pacientes mesmo com a ineficácia comprovada dos medicamentos receitados para Covid-19, como mostraram mensagens, áudio e relatos revelados pelo GLOBO na sexta-feira.

Agora, um ex-funcionário da companhia, o médico Felipe Peixoto Nobre, detalhou à reportagem como ocorria o que classifica como “assédio” para receitar tratamento precoce, com direito a uma lista de médicos considerados “ofensores” e ameaças de demissão.

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Segundo o relato do médico, a empresa tampouco fazia questão de informar os riscos do uso de medicamentos como cloroquina e se recusava, nos primeiros meses da pandemia, a fazer testes para detecção do coronavírus em pacientes.

— Éramos vistos como inimigos e marcados com uma bandeira vermelha. Recebi quatro visitas no ambulatório do médico-líder em menos de um mês. Me disseram que eu corria o risco de ser desligado do plano, caso eu não prescrevesse o “kit covid”. A chefia sabia exatamente quem prescrevia ou não, porque estavam fazendo auditoria nos prontuários, um absurdo total — disse Nobre.

A defesa do “kit covid”, mesmo após sua ineficácia ser comprovada, é uma das principais acusações contra o governo Jair Bolsonaro na CPI do Senado. O presidente ainda continua defendendo o chamado “tratamento precoce”, como apregoou em seu discurso na última Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na contramão da ciência.

— Não interessava se o paciente sabia ou não dos riscos, a orientação era: tem que passar e não cabe discussão. Eu saí em maio de 2020, mas soube por colegas que eles continuaram fazendo isso até março deste ano — afirmou Nobre.

Em nota enviada ontem ao GLOBO, a Hapvida afirmou que a fase inicial da pandemia foi marcada por “incertezas”. “No passado, havia um entendimento que a hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. No melhor intuito de oferecer todas as possibilidades aos nossos usuários, houve uma adesão relevante da nossa rede, que nunca correspondeu à maioria das prescrições”, diz a nota.

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